Em entrevista à agência Lusa, Bonga disse que o espetáculo na Aula Magna “vai ser antes de mais um dia de festa” porque é o seu 76.º aniversário.
“Vou lá ter as pessoas que frequentam a minha casa, os familiares, os amigos e os fãs, que são uns miúdos incríveis, por conseguinte vai ser um espetáculo em que vamos recordar o que se canta lá em casa, desde o ‘Corrumba’ às ‘Frutas de Vontade’, fazendo vibrar num espetáculo que é um reencontro com pessoas que me querem muito”, disse o músico que recordou a carreira de mais de 40 anos.
Uma carreira que se confunde com a música angolana e a história do país, que retrata nas suas canções, e é feita de “muitas cumplicidades musicais”.
Bonga recordou “os tempos difíceis” que viveu, tendo chegado “a ser proibido de atuar, até em Angola”, e quando a música angolana, “de forma pejorativa, era chamada de folclore”.
“Houve um período de preconceito, em que chamavam [à música angolana] o folclore, o que era um bocado pejorativo, e [houve] obstáculos que tive de enfrentar, porque era uma música diferente, que não era valorizada, menos ouvida, e hoje, mais que nunca, tenho a consciência de ter posto um tijolo nessa grande construção que é a divulgação, consequente, desta nossa música angolana/africana”, afirmou o músico, acrescentando que a música angolana, atualmente, “é mais reconhecida e conceituada do que há 20 anos”.
Referindo-se às atuais fusões musicais como os ritmos ‘kizomba’ com ‘kuduro’, o músico considerou que “correm o risco de passar depressa”, ao contrário do género que sempre cantou, “o semba, que está definido, que é angolano, e é intemporal, aliás, mesmo os que fazem essas fusões acabam por vir bater ao semba”.
Bonga referiu-se ao semba como uma música “que tem uma expressão própria e uma vivência muito forte em relação a todo um povo que fez disso a sua forma de vida”.
Relativamente ao povo angolano, o cantor disse “que as populações continuam carentes e com grandes problemas”.
“É degradante saber que há crianças que morrem diariamente”, mas reconheceu que, atualmente, “há uma vontade política, com vista a uma melhor redistribuição da riqueza”.
No palco da sala da Cidade Universitária, Bonga vai ser acompanhado pelos músicos Betinho Feijó (guitarra e direção musical), Ciro Bertini (acordeão), Hernani Lagross (baixo) e Estêvão Gipson (bateria), e pela bailarina Joana Calunga.
No espetáculo, que contará “com algumas participações surpresa”, o alinhamento será feito pelos “temas de sempre”, como “Kissueia”, que definiu como uma “balada nostálgica, cheia de profundidade e recordação da terra de origem”, assim como “Mariquinha”, “Mulemba Xangola”, "Kambua", “Patxi Ni Ngongo” ou “Uma Lágrima no Canto do Olho”.
Bonga comparou-se ao Vinho do Porto, afirmando que “quanto mais velho melhor” e daí “continuar hoje a ser cantado pelos mais novos”.
José Adelino Barceló de Carvalho, de seu nome de registo, adotou na adolescência o nome de Bonga Kuenda, que apontou como o seu “verdadeiro eu”.
A sua estreia musical, em 1972, foi com o álbum “Angola’72”, ao qual se sucederam vários outros e, como disse à Lusa, continua “a ser muito solicitado”, nomeadamente em França, país que o distinguiu com a Ordem das Artes e Letras, grau de cavaleiro, em 2014.
Por Portugal, o músico angolano atuou, este ano, no Rock in Rio, em Lisboa, no Festival Med, em Loulé, recentemente, em Braga, e foi um dos participantes no espetáculo de final do ano, em 2017, na Praça do Comércio, em Lisboa, entre outras atuações.
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