A composição, feita de para-choques partidos, caixotes do lixo, capacetes, pneus de bicicleta, tubos e outros desperdícios, é uma crítica ao cativeiro forçado dos animais nos jardins zoológicos, disse Bordalo II à Lusa. Referindo que "não existem zoos bons ou maus, existem uns piores que outros", o artista escolheu representar animais que "estão a cumprir uma pena sem ter cometido nenhum crime" e por isso quis "trazê-los cá para fora".
O único português no Wide Open Walls optou por voltar a pintar todo o material usado, ao contrário do que tem feito na série "Alpha", porque a instalação foi feita sobre o fundo de uma imagem publicitária antiga e desvanecida pelo sol que "funcionava muito bem".
Voltar atrás permitiu-lhe uma interpretação "diferente", referiu o artista, que trabalhou sob o calor intenso que se faz sentir na capital da Califórnia.
O mural de Bordalo II será visto por "centenas de milhares de pessoas" ao longo dos próximos anos, disse à Lusa David Sobon, o criador do festival de arte pública que termina hoje em 40 locais da cidade. "Há tráfego à frente dos murais não apenas nos 11 dias do festival, mas durante anos", afirmou.
A missão do Wide Open Walls, que vai na terceira edição, é "criar arte para todos", disse David Sobon, o que "significa que as pessoas não têm de ter dinheiro para irem a uma galeria ou museu" e podem assim "ver arte no dia-a-dia quando estão a caminhar pela rua ou a conduzir".
Bordalo II sublinhou que essa é "uma das partes mais importantes da arte pública", que permite aos artistas lançarem conteúdos e dar acesso a "coisas, ideias e preocupações" sem que as pessoas tenham que entrar num local para verem arte.
"Quando há um conteúdo interessante no trabalho que os artistas fazem na rua, eles podem ser uma parte ativa da educação e da mudança de um mundo que precisa de muitas mudanças neste momento", disse o artista.
Bordalo II, que começou pelo ‘graffiti' e ficou conhecido pelas esculturas feitas com recurso a lixo e desperdício, foi convidado a participar no festival no início do ano, quando David Sobon "bateu à porta" do armazém de uma galeria em São Francisco onde o artista estava a trabalhar.
"Ouvia o Bordalo a usar o maçarico e as ferramentas e apresentei-me, disse-lhe que era o produtor do Wide Open Walls e convidei-o a vir", revelou o produtor. David Sobon já "era fã" e soube que ele iria estar em São Francisco através da conta de Instagram do artista.
Bordalo II, neto do artista plástico Real Bordalo, vai agora para Las Vegas, onde estará a trabalhar numa série de instalações num motel abandonado na baixa histórica para o festival Life is Beautiful, que decorre entre 21 e 24 de setembro.
Na edição deste ano do Wide Open Walls, que reuniu cerca de três dezenas de artistas vindos de todo o mundo entre 09 e 19 de agosto, estiveram também Shepard Fairey, Pixel Pancho e Shamsia Hassani, "a primeira artista de ‘grafiti' do Afeganistão".
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