No festival Trashplant, que a organização apresenta como “o primeiro festival internacional de arte do lixo”, “uma dezena de artistas de todo o mundo demonstrará como reutilizar, criar e, o mais importante, refletir acerca da forma como cada um gera resíduos”.
A decorrer até sábado em San Cristóbal de La Laguna, o festival é “um exercício de consciência ambiental através da arte, isto é, do artivismo”, com curadoria de Bordalo II.
Artur Bordalo (Bordalo II – o primeiro era o avô, artista plástico Real Bordalo, que morreu em junho do ano passado, aos 91 anos), nascido em Lisboa em 1987, começou pelo ‘graffiti’, que o preparou para o trabalho pelo qual se tornou conhecido: esculturas feitas com recurso a lixo e desperdícios.
Com a série “Big Trash Animals” (algo como “Grandes Animais de Lixo”) tem espalhado pelo mundo vários animais, “uma forma de fazer retratos da natureza, uma composição das vítimas com aquilo que as destrói”.
“Podia fazer rostos humanos, mas a parte humana já está presente neste trabalho a tempo inteiro, por ser criada por um humano e porque todo este material que utilizamos já é humano. Todo este lixo é nosso, não é da Natureza”, referiu, em declarações à Lusa, em novembro último, altura em que inaugurou em Lisboa “Attero”, exposição que foi visitada por cerca de 27 mil pessoas, no espaço de um mês.
A propósito da exposição, Bordalo II deixou nas ruas de Lisboa uma raposa, na avenida 24 de Julho, um sapo, na rua da Manutenção, e um macaco, no pátio do armazém onde esteve patente “Attero”, na zona de Xabregas.
Além de Bordalo II, participam também no Trashplant os portugueses Catarina Glam, Miguel Januário, com o projeto ±maismenos±, e Forest Dump.
Catarina Glam começou por dedicar-se ao graffiti e à pintura de murais, tendo depois passado para outro tipo de trabalhos, multidimensionais, com a madeira e o papel como matéria prima.
Com o projeto ±maismenos±, iniciado em 2005, Miguel Januário mostra a sua faceta mais ‘interventiva’.
Através deste projeto, iniciado num contexto de investigação académica, Miguel Januário reflete sobre o modelo de organização política, social e económica que gere a vida nas sociedades atuais.
Já Forest Dump intervém na cidade. Nos últimos anos, a título de exemplo, já colocou ramos em postes de eletricidade, folhas de palmeira em semáforos e areia em pedaços de passeio.
Além disso, nas redes sociais partilhou fotos e vídeos da série “Trash Age Series” (série da Idade do Lixo), nas quais se mune de uma espingarda para caçar pneus, em vez de javalis, de uma cana para pescar sacos do lixo, em vez de peixes, e de uma rede para apanhar beatas, em vez de borboletas.
No festival Trashplant, de entrada livre, participam ainda os artistas Diedel Klöver (Alemanha), Icy & Sot (EUA e Irlanda) e Laurence Vallières (Canadá). O Trashplant tem também uma parte musical com a atuação dos espanhóis Carminha, Pascuala Ilabaca y Fauna e Triángulo de Amor Bizarro.
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