Surf e música de mãos dadas e divididas entre duas praias e uma tenda. O Caparica Primavera Surf Fest está de regresso na 3ª edição que decorre de 6 a 15 de abril. A praia do Paraíso, bem no centro da Costa da Caparica, Almada, é mais uma vez o palco onde gira o evento que junta manobras radicais nas ondas e alinhamento de decibéis e sonoridades de artistas portugueses, em terra.
Se a Caparica “com 24 km de praias e ondas” procura afirmar-se como uma “cidade do surf” e palco de “grande eventos nacionais e mundiais”, este ano marcado pelo “regresso de uma prova de qualificação para o Circuito Mundial de Surf”, conforme relembra Miguel Inácio, promotor do Festival com a responsabilidade da organização desportiva, não é menos verdade que a música não quer ficar atrás. A tenda montada acolherá durante “seis dias, seis cartazes, 24 artistas, bandas e DJ’s, portugueses, que vão do pop, ao rock, passando pelo reggae, rappers e música do mundo”, sublinha António Miguel Guimarães, o porta-voz do Festival, em especial, o que à música diz respeito.
A praia do Paraíso e do Dragão, acolhem o campeonato QS1000 do WQS (Word Qualifying Series), uma oportunidade para surfistas nacionais e europeus conquistarem pontos no ranking de qualificação mundial. A este regresso às praias da Caparica junta-se o Pro Júnior Europeu, competição que marca o arranque do circuito europeu júnior da WSL. O Caparica Primavera Surf Fest terá ainda duas provas do circuito de Longboard da WSL.
Esperados mais 1000 atletas, entre os quais 350 surfistas profissionais, eclético q.b., o programa desportivo que se desenrola entre praia do Paraíso e do Dragão engloba 9 modalidades de ondas no total, como o bodyboard, SUP, bodysurf ou kayak, divididos por 18 campeonatos e exibições, sendo que 6 deles com o selo da WSL (2 mundiais e 4 europeus) e outros 4 organizados pela Federação Portuguesa de Surf (FPS). Surfando em terra, o skate surge como extra com os 100 melhores nacionais a entrarem em ação no evento.
João Kopke, o surfista e cantor lírico que estuda Ciência Política
Com 21 anos, João Kopke, é uma figura única no panorama do surf nacional. Uma espécie de “três em um” que junta um surfista de Carcavelos, que “corre” o mundo em provas de qualificação para o Circuito Mundial, um aluno Canto Lírico no Conservatório, onde diz “se perpetua” arranjando sempre “desculpas” em forma de novos cursos para fazer, e que estuda de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova.
As "vidas" de música e surf de Kopke (resumidas num projeto que desenvolve com White Flag Productions) vão entrar em ação no Caparica Primavera Surf Fest. “Convidaram-me para ir ao palco cantar. Saio da água e subo”, diz, sorrindo sem saber ainda com que estilo de voz se apresentará.
Se a ponte entre a música e o surf é feita na perfeição na Caparica, já João Kopke prefere o silêncio antes de entrar em prova. “A verdade é que me desconcentra mais porque fico concentrado na música. Deixo de olhar para o mar e perco o foco, por isso gosto de estar em silêncio”, assume.
Falando sobre si mesmo, “não espero ser igual nem ao Kikas nem ao Saca”, diz com um largo sorriso nos lábios. “Quero ter o meu caminho, que passa por mostrar um estilo de vida, do surf, a quem nunca se pôs em pé numa prancha”, sublinha. “Isto é um estilo de vida muito aspiracional. E há poucos a contarem essa parte da história, contam mais o lado da competição. E esquece-se o estilo de vida de um surfista”, algo que este surfista contador de histórias quer mostrar.
Viajado e com aspirações diplomáticas, a eleição de Donald Trump não passou despercebida na conversa com o SAPO24 tida à margem da apresentação do evento que reúne ondas e música. A ação do novo presidente dos Estados Unidos da América provoca-lhe duas dúvidas existenciais. A primeira: “como é que este protecionismo irá jogar com o liberalismo, com o sistema liberal à escala global, que lhes tem servido tão bem e garantido o topo da cadeia alimentar”. A segunda, diz respeito ao prometido muro na fronteira com o México. “O discurso de fecho é sempre um retrocesso”, afirma convicto que se pode mudar o mundo pela “música, pelo surf e pela diplomacia”, contando para tal com a ajuda dos social media. “Porque não? Já conseguiram fazê-lo”, deixa o recado.
30 milhões seguem as manobras de Tiago Lopes em cima de um skate
Tiago Lopes é um tímido rapaz de 18 anos que já foi campeão nacional de skate. Treinado por Francisco Lopez, “França” como é conhecido, skater profissional, com três títulos nacionais e atualmente team manager da DC, será uma das presenças asseguradas na exibição que reunirá os 100 melhores nacionais em cima de uma tábua de madeira com 4 rodas.
Com pouco à vontade para falar, é em cima de um skate que Tiago Lopes se expressa da melhor forma. E para todo o mundo. “É o Rei das redes sociais”, exclama o treinador. “Não sei explicar. Tenho 30 milhões de seguidores no Instagram”, deixa escapar a medo.
“Em 2015 comecei pelas fotos e, acima de tudo, vídeos. Depois foi crescendo. Fui fazendo coisas novas em que não tinha pensado e partilhando”, recorda Tiago. Muito por causa disso, prossegue os estudos “a partir de casa” e assume que gostaria de “viver do skate”.
Caparica conhece os novos sons de Diogo Piçarra, Virgul e Regula, o rapper que joga em casa. São os cantores de palcos reais e virtuais
Das ondas e manobras estamos conversados. No resto do Caparica Fest entra a música. Portuguesa, com certeza, tocada por artistas, bandas nacionais que sobem ao palco nos dois fins de semana, de 6 a 8 e de 13 a 15 de abril, e que mais não são que “espetáculos temáticos, apresentando projetos diferenciados e contemporâneos que dizem algo ao público”, frisa António Guimarães. Entre outros há nomes consagrados, como Diogo Piçarra, Zé Pedro, Sara Tavares, Virgul e Regula.
“Dialeto” e “História” são dois novos singles de Diogo Piçarra, um cantor viajante que atua em dois palcos, na estrada com “80 concertos em um ano e meio” e pelos palcos virtuais com “milhões de visualizações no YouTube”, conforme confirma o próprio: “o “História” em três semanas teve 1 milhão de visualizações”.
Preparado para o segundo disco, “a segunda fase desta vida, o segundo filho”, cujas sonoridades serão apresentadas na praia do Paraíso, Piçarra diz já ter “40 concertos marcados para este ano”, algo que considera inédito “para esta altura e ainda sem o novo disco na rua”.
Regula, rapper do Catujal, joga em casa. “Sou caparicano, a minha mãe tem uma roulotte no parque campismo CCA. O meu pai tem cá casa. Tenho cá amigos. Estou em casa, no meu território”, relembra uma das grandes figuras nacionais deste género musical. Verdadeiro “Fenómeno”, com muito trabalho pela frente, sublinha que está em “estúdio a trabalhar” para um álbum que será apresentado a “17 março”. Até lá, se não vir por aí em palco basta procurar numa internet perto de si e ver o rapper em ação.
“I need this Girl” catapultou Virgul para o palco da fama. Músico que mistura reggae, afro e soul rebentou com as redes sociais com “Só eu sei”, 4 milhões de visualizações, duas simples músicas que o obrigaram a “trabalhar muito nestes últimos três meses” e que o colocam na Caparica, em abril, onde apresentará o álbum, “que sai em março”.
Sara Tavares, Paus, DJ Zé Pedro, April Ivy, Tara Perdida, Freddy Locks e nomes da modernidade cabo-verdiana estão também garantidos na tenda da Praia do Paraíso “onde cabem cerca de 2 mil pessoas”, explica António Miguel Guimarães, num festival onde o “surf e música vão juntos, sendo que o motor é o surf”, resume.
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