A vontade de editar um álbum a solo “já tem uns anos”, mas “houve sempre a prioridade dos trabalhos da Quinta do Bill”, banda à qual Carlos Moisés dá voz desde 1987, contou o músico em entrevista à Lusa.
Com o trabalho a solo, Carlos Moisés quis revelar “outras formas musicais”. “Talvez o meu lado um bocadinho mais pop, fugir um bocadinho da folk [dos Quinta do Bill]”, disse, relevando que as canções que compõem o álbum de estreia a solo “foram sendo construídas e foram ficando sempre à espera da oportunidade de chegar ao grande público”.
A pandemia da covid-19 “também não veio ajudar”, acabando por colocar “mais um travão na edição do disco, mas agora, finalmente e felizmente, ele está aí”.
Em “Moisés — primeiro solo”, o músico trabalhou “muito a questão dos arranjos vocais” e quis, “ao mesmo tempo, que o trabalho fosse, de certa forma, muito orgânico, no sentido de não ter muita informação”.
“Acabou por ser um rol de canções com texturas muito precisas, mas também muito cheias, porque, trabalhei muito esta questão vocal e dos arranjos vocais. É um trabalho de certa forma orgânico, uma sonoridade orgânica, mas que revela, de certa forma, muito rigor e muito cuidado na questão dos arranjos em si, e as melodias das guitarras acabam por revelar-se um trabalho quase contrapontístico, de pergunta e resposta. Eu também quis ir buscar um bocadinho essa modernidade do discurso das guitarras”, descreveu Carlos Moisés.
Embora seja um álbum a solo, o músico contou com várias colaborações, nomeadamente na escrita de letras.
“Moisés — primeiro solo” conta com poemas do escritor José Luís Peixoto, do jornalista Joaquim Franco e dos músicos Tim, Moz Carrapa, Sebastião Antunes e José Mário Branco, que morreu em novembro de 2019, aos 77 anos.
“A letra do José Mário Branco foi das primeiras a aparecer. Com muita mágoa já não vou ter a oportunidade de lhe oferecer um disco, mas ele acompanhou a construção da canção, trabalhámos muito, todos os pormenores, e ele acabou por conhecer o formato final da canção”, partilhou Carlos Moisés.
José Mário Branco é, recordou, “um músico maior do panorama nacional”.
“Enderecei-lhe o convite porque sempre gostei muito do seu trabalho, e é uma letra que, de certa forma, quando se lê agora arrepia um bocadinho, porque parece quase que foi uma espécie de antecâmara do seu próprio destino”, afirmou o músico.
O tema, que abre o disco, chama-se “Regresso” e “tem dois estados de espírito: um primeiro de revolta e de alerta e um segundo um pouco mais de contemplação, onde ele [José Mário Branco] diz que vem de além e que está novamente presente”.
“É como se ele regressasse”, afirmou Carlos Moisés, reforçando que foi “um privilégio poder contar com um texto do grande José Mário Branco, ainda por cima escrito expressamente para esta obra, que ele acompanhou desde a sua génese”.
“Moisés — primeiro solo” é editado em 24 de setembro, mas o primeiro ‘single’, “Dançar, até que a noite caia”, é divulgado já na sexta-feira.
A carreira de Carlos Moisés a solo irá desenvolver-se em paralelo com os Quinta do Bill. Ou seja, o músico não irá abandonar a banda de sempre, que para o ano completa 35 anos de carreira e conta editar um novo álbum.
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