Exibida sexta-feira a partir das 21:15 em sessão dupla, uma na Sala 1 e outra na Sala 2, a obra de Pedro Lino junta filmagens modernas com obras clássicas, animação e matéria documental, além da narração a partir de Alexandre Alves Costa e de Margarida Neves, retratando personagens daquele edifício marcante da cidade do Porto, aqui a acolher um filme sobre si mesmo.
“Já tínhamos a esperança de passar o filme no Cinema Batalha. É uma experiência quase insólita, porque estaremos a ver o espaço que filmamos, e vamos ver isso dentro do espaço, com o espaço a ser filmado, em evolução, as salas em obras. No fundo, vamos ver o mesmo local onde estamos durante 100 anos. O filme trata de toda a história do Cinema Batalha”, conta Pedro Lino, em entrevista à Lusa.
“Vai no Batalha” surgiu de um convite da produtora francesa Kolam, em 2017, para a rodagem de uma obra de 52 minutos sobre um cinema mítico, integrando o Batalha uma lista que conta com espaços em Paris, Bolonha e Atenas, entre outros, e “leva pela primeira vez à luz algumas imagens e dados sobre o Batalha que até hoje eram desconhecidos da maioria”, seja da história da família Neves Real, que também abriu o Cinema Trindade, seja de um famoso gerente, Figueirôa.
O filme traça a história do Batalha e, com ela, a história do cinema, das preferências do público, e da cidade e o país em si durante o século XX, das primeiras sessões de animatógrafo, no High Life, à construção do edifício defronte do Teatro Nacional São João, dos filmes portugueses aos êxitos do público durante o Estado Novo, passando pelos clássicos franceses aos sucessos de bilheteira provenientes dos Estados Unidos, culminando na exibição do “Titanic”, último filme antes do fecho, dando espaço às obras e reinauguração.
O 25 de Abril de 1974, a passar à porta do cinema, os parques de estacionamento que ameaçaram os prédios icónicos da cidade, os centros comerciais com salas que vendiam pipocas ocupam o mesmo espaço de anedotas sobre o Batalha, a emblemática expressão da cidade (“Vai no Batalha”, sinalizando descrença sobre uma história tão fantasiosa que seria digna de filme) e os frescos de Júlio Pomar, entre outros detalhes arquitetónicos.
Em diálogo está a família Neves Real e o arquiteto Alexandre Alves Costa, filho de Henrique Alves Costa e afilhado de Manoel de Oliveira, numa “homenagem não só ao cinema como à própria cidade do Porto”.
Vem desde o animatógrafo High Life, instaurado na Feira de São Miguel, onde hoje é a Rotunda da Boavista, passando pela Cordoaria até se instalar num edifício próprio, mandado construir de raiz, para o Cinema High Life, que viria depois a mudar de nome.
Sucedendo a “Lupo” (2018), sobre Rino Lupo, Pedro Lino começou a trabalhar uma obra que viria a desembocar na reinauguração do renovado Batalha, um desígnio que, na altura, não estava ainda consagrado.
“Quando propus fazermos um filme sobre esta sala, tinha esta ideia de contar a história muito longa do cinema, mas ainda não sabia das obras de recuperação. Quando começámos a filmar, coincidiu com o início das obras. Nessa altura, filmar o cinema no presente era obrigatoriamente filmá-lo em obras, e trouxe camada de interesse acrescido ao filme. Quase pudemos fazer a história clássica da fénix renascida”, admite.
“Existe um cinema naquele local já há muito, muito tempo. Por este cinema existir há tanto tempo é que também se foi ligando à história da cidade. Hoje em dia, aquela praça, um pouco descaracterizada e abandonada, no tempo dos meus avós era o sítio onde iam sair, onde havia cafés, clubes… O centro da boémia na cidade do Porto. O Batalha, estando inserido nesse centro, sempre teve uma projeção grande”, afirma Pedro Lino.
Esta presença na cidade, pelas mãos da família, fica patente no cruzamento com personagens como Manoel de Oliveira, Júlio Pomar, o arquiteto Artur Andrade, Henrique Alves Costa, que ali conseguiu que lhe cedessem a sala para as primeiras sessões do Cineclube do Porto.
Apoiado pela Câmara do Porto e pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), “Vai no Batalha”, produzido pela Kolam e pela Ukbar Filmes, contou ainda com o apoio da RTP, que transmitirá o filme em data a anunciar.
A 10.ª edição do festival Porto/Post/Doc arranca sexta-feira e prolonga-se até 25 de novembro, dedicado ao cinema documental e a ficções do real.
Comentários