Com música de Rui Carvalho e imagens de Cláudia Guerreiro, que são “feitas ali em tempo real com acrílicos, tintas, muita água a escorrer, uma grande confusão, recortes, sombras”, explicou a artista à Lusa, será apresentado na sexta-feira, às 19:30, no Gnration, em Braga, onde os dois estão há uma semana em residência artística.
Apesar de serem amigos há 20 anos e estarem casados há 10, só recentemente Cláudia Guerreiro e Rui Carvalho decidiram criar um projeto juntos.
“Eu e o Rui já tínhamos feito esta coisa de juntar a ilustração à música, a primeira vez foi para um concerto do Rui com o Tó Trips no Teatro Maria Matos [em Lisboa] e depois fizemos uma outra vez quando eu pintei um mural no ESTAU [Festival de Arte Urbana de Estarreja]. E começámos a querer fazer isto de outra maneira, fomos a São João da Madeira, ao festival de ilustração, e depois disso decidimos ‘vamos fazer uma coisa nossa'”, recordou Cláudia Guerreiro.
Quando começaram a imaginar a história que queriam contar, Rui sugeriu a Cláudia optarem por uma narrativa que “fosse próxima” da também escultora.
A escolha recaiu na casa dos tios de Cláudia, os escultores Jorge Vieira (que morreu em 1998) e Noémia Cruz, no Alentejo.
“Tenho uma ligação muito forte com a minha tia, com essa casa, foi lá que eu me liguei às artes plásticas, foi por causa deles que fiz a minha licenciatura em Escultura. É de facto uma casa muito importante e um espaço muito importante para mim”, partilhou.
Além disso, a casa “tem uma imagética já muito definida, muito bonita” e que é “muito familiar” a Cláudia.
“Por alguma razão acabei a agarrar em quatro figuras, que estão num muro de uma piscina, que é um sol, uma lua, um touro e um escorpião. Que no fundo são um autorretrato do meu tio, retrato da minha tia e o paralelismo com os signos deles: touro e escorpião. E achei que podíamos contar a história daquela casa, tendo como referência estas personagens”, contou.
A história contada em A Azenha é a seguinte: “Uma história de amor que se passa entre a lua e o sol, o meu tio e a minha tia, naquele sítio, que é no Alentejo e tem um grande céu estrelado por cima e uma série de histórias, que na verdade só eu sei, mas que acabam por passar nas imagens”.
Trata-se de uma história “muito surrealista”, à imagem do trabalho de Jorge Vieira, que foi tomando rumo e sendo construída com o tempo.
Em 2019, Cláudia Guerreiro e Rui Carvalho apresentaram-na ao vivo no Artes à Rua, em Évora. Mas, “na altura aquilo estava um bocado mail resolvido”.
“A ideia desta residência [artística no Gnration] era resolver isto um bocado melhor e a partir daqui pôr isto a andar, como for possível, porque como todos sabemos não é a altura melhor para pôr isto onde quer que seja, mas na verdade também é bom ter uma alternativa aos nossos concertos normais”, disse.
A apresentação deveria acontecer no sábado, mas as novas medidas impostas pelo Governo para tentar conter a pandemia da covid-19 fizeram com que fosse antecipada para sexta.
“Perdemos um dia de trabalho, mas isto não é trabalho que acabe aqui. A ideia é continuar, estamos a construir material para tentar poder vender o espetáculo”, referiu.
Desengane-se quem pensa que vai a assistir a “um concerto ilustrado ou a uma peça audiovisual musicada”, porque o espetáculo A Azenha não é nenhum dos dois. “A piada disto, muito dela, é estarmos os dois em palco, músico e ilustradora, com a mesma relevância. É um espetáculo feito pelos dois, portanto uma coisa e outra devem ter o mesmo peso”.
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