Intitulada “S”, a nova peça, que se estreia às 21:00, no Teatro Camões, tem coreografia e figurinos de Tânia Carvalho, música de Diogo Alvim, desenho para tela de Rui Vasconcelos, desenho de luz de Mafalda Oliveira e Tânia Carvalho, e interpretação de bailarinos da CNB.
A peça – na qual surge uma mistura de símbolos, como a sapatilha – terá interpretação musical da Orquestra Sinfónica Portuguesa, com direção musical de Nuno Coelho Silva, o mais recente vencedor do concurso internacional de maestros de Cadaqués.
Esta nova criação assenta no percurso e desenvolvimento da sapatilha de ponta, numa homenagem a Marie Taglioni (1804-1884), a primeira bailarina a utilizar este objeto em cena, em 1832, em “La Sylphide”, de onde se inspira o título.
Indispensável à vida de uma bailarina clássica, a sapatilha de ponta surgiu no século XIX e, ao longo dos tempos, tem sido transformada, adaptada e aperfeiçoada, no que diz respeito à sua estrutura e materiais utilizados.
Esta transformação “permitiu um desenvolvimento técnico, cada vez mais ágil e não menos difícil, que veio também possibilitar uma procura sobre as formas estéticas da dança para as quais as sapatilhas de pontas foram muitas vezes um motor de pesquisa”, assinala a CNB, num texto sobre a obra.
Não se tratando de uma homenagem formal a Marie Taglioni, a nova criação é sobretudo “uma abordagem sobre um objeto que, não obstante o seu desenvolvimento, a essência da sua criação continua a prevalecer e a estar implícita”.
Para apresentar na CNB, até ao dia 04 de março, em programas diferentes, Tânia Carvalho – que trabalha pela primeira vez com a companhia – também remonta duas das suas peças para o repertório: “Olhos Caídos”, de 2010, e “A Tecedura do Caos”, de 2014, ambas estreadas na Bienal de Dança de Lyon.
Iniciado a 19 de janeiro, o ciclo sobre os vinte anos do universo criativo da coreógrafa Tânia Carvalho, que cruza a dança, a pintura e o cinema, envolveu ainda os teatros municipais Maria Matos e São Luiz, que se associaram ao aniversário para apresentar um programa multidisciplinar.
Na altura, em declarações à agência Lusa, Tânia Carvalho comentou, sobre “S”: “A nova peça para a CNB foi uma encomenda do diretor, Paulo Ribeiro, e mistura muitos estilos de dança, a pensar nos movimentos e nos desenhos que o corpo pode fazer. É uma peça mais das formas, do jogo de formas”.
“Não tenho muitos temas que me interessam explorar. Sou muito levada pela intuição, por outra forma de pensar sem ser o racional ou articular pensamentos e fazer teorias à volta das peças”, acrescentou a criadora, nascida em 1976, em Viana do Castelo.
Questionada sobre o processo criativo do seu trabalho, Tânia Carvalho disse: “Enquanto estou a criar sou muito levada por uma espécie de vazio. Tento criar um vazio em mim para as coisas surgirem, e não partir de uma confusão mental, ou de uma articulação de pensamentos muito elaborada”.
O ciclo reúne ao todo nove peças, sendo a mais antiga de 2008 e, apesar de incidir sobre vinte anos de trabalho, não percorre exatamente esse período, “porque seria complicado ir mesmo ao início, já que as peças mais antigas eram mais complicadas de remontar”, explicou.
“É a primeira vez que as apresento todas juntas. Elas andaram sempre comigo, este tempo todo. Parece que nunca largo as peças, fico sempre com elas. Mostrá-las ao mesmo tempo vai ser a maior experiência”, disse à Lusa.
“Icosahedron”, “De Mim Não Posso Fugir, Paciência!”, “Um Saco e uma Pedra — peça de dança para ecrã” e “Movimentos Diferentes” são algumas das outras peças apresentadas no ciclo.
Tânia Carvalho iniciou os estudos de dança na cidade natal e, na década de noventa, prosseguiu estudos artísticos na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, na Escola Superior de Dança de Lisboa e no Fórum Dança.
As suas primeiras criações nos domínios da coreografia foram “A Corte” e “Inicialmente Previsto”, ambas apresentadas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, esta última distinguida com o Prémio Jovens Criadores 2000, tendo sido apresentada em Sarajevo em julho do ano seguinte.
É autora de várias bandas sonoras das suas próprias coreografias, como por exemplo a de “Como Se Pudesse Ficar Ali Para Sempre” (2005) e também a de “Síncopa” (2013).
Outras peças atravessam outras artes, como a pintura, em “Xilografia” (2016), foram marcadas pelo expressionismo e pela memória do cinema, como em “27 Ossos”.
“Icosahedron” venceu o prémio de melhor coreografia da Sociedade Portuguesa de Autores, em 2011.
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