O júri do Prémio Femina, composto só por mulheres, reuniu-se na terça-feira, 12 de setembro, na Closerie des Lilas, em Paris, e selecionou 16 romances franceses e 17 estrangeiros, candidatos ao galardão que abre a temporada de outono dos prémios literários em França.
Esta é ainda a primeira seleção de candidatos, estando marcada para dia 24 de outubro a divulgação da ‘shortlist’, da qual sairá o vencedor do prémio, a ser anunciado a 06 de novembro.
Lídia Jorge concorre com “Misericórdia”, traduzido para o francês por Elisabeth Monteiro Rodrigues e editado pela Métailié.
Também em língua portuguesa concorre a escritora brasileira Patrícia Melo com o romance “Celles qu'on tue” ("Mulheres Empilhadas"), com tradução de Élodie Dupau.
Os outros 15 candidatos ao prémio na categoria de romance estrangeiro incluem nomes como Hernan Diaz, com “Trust”, Paolo Giordano, com “Tasmania”, Han Kang, com “Impossibles adieux”, Maggy O'Farrell, com “Le Portrait de mariage”, Joyce Maynard, com “L'Hôtel des oiseaux”, e Louise Erdrich, com “La Sentence”.
Nina Allan (“Conquest”), Hila Blum (“Comment aimer sa file”), Emma Cline (“L'Invitée”), Tom Crewe (“La Vie nouvelle”), Lucy Fricke (“La Diplomate”), Mikolaj Grynberg (“Je voudrais leur demander pardon, mais ils ne sont plus là”), Aleksandar Hemon (“Un monde de ciel et de terre”), Cécile Pin (“Les Âmes errantes”) e Robert Seethaler (“Le Café sans nom”) completam a lista.
O romance “Misericórdia” tem-se destacado no mercado livreiro francês, tendo já vencido no mês passado o Prémio para Melhor Livro Lusófono publicado em França, atribuído pela redação da revista literária Transfuge.
Segundo a Dom Quixote, que editou o livro em Portugal em 2022, este romance “tem sido muito bem recebido pela crítica, que já o incluiu entre os principais destaques da 'rentrée' francesa”.
“Misericórdia” foi escrito por Lídia Jorge, porque a mãe, internada numa instituição para idosos, no Algarve, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro com aquele título.
A história decorre entre abril de 2019 e abril de 2020, data da morte da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país.
“A minha mãe pediu-me várias vezes para escrever um livro que se chamasse ‘misericórdia’, porque ela achava que havia um desentendimento, no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam. Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”, revelou a autora em entrevista à agência Lusa, por altura da publicação do romance.
Segundo a escritora, este não é um livro “mórbido” e a sua escrita não lhe suscitou sentimentos de tristeza ou dor. Antes, é um “livro sobre o esplendor da vida que acontece quando as pessoas estão para partir”, sobre os “atos de resistência magníficos, que as pessoas têm no fim da vida”.
“Misericórdia” ganhou o Grande Prémio de Romance e Novela 2022 da Associação Portuguesa de Escritores (APE).
No ano passado, o prémio Femina para romance estrangeiro publicado em França foi para a autora britânica Rachel Cusk por "La Dépendance", da Gallimard (livro editado em Portugal pela Relógio d’Água como “Segunda casa”).
O prémio principal foi atribuído à artista e romancista francesa Claudie Hunzinger, por "Un chien à ma table", romance editado pela Grasset.
Quanto ao prémio para a categoria de ensaio, foi arrecadado pela historiadora Annette Wieviorka, com a obra “Tombeaux. Autobiographie de ma famille”, editado por Seuil.
Este ano, o anúncio dos candidatos ao Prémio Femina nesta categoria de ensaio está marcado para dia 03 de outubro.
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