A exposição divide-se em duas, para dois espaços, o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, e o Mosteiro da Batalha, ambas baseadas numa “impressionante produção artística, que agora se dá a conhecer ao público”, disse à agência Lusa o comissário, Simão Palmeirim, investigador da obra de Almada Negreiros (1893-1970).
“Almada ficou maravilhado com os painéis desde a primeira vez que os viu, iniciando um conjunto de estudos que o levariam à criação de uma teoria”, segundo a qual propunha uma reconstituição retabular, com várias pinturas juntas, para a Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha.
Obra maior da pintura europeia do século XV, atribuída ao pintor português Nuno Gonçalves, os painéis continuam a intrigar apaixonados pela arte e a desafiar teorias de historiadores e outros especialistas.
Continuam por responder cabalmente as perguntas sobre quem eram realmente, ou quem representavam, na época, as 57 figuras em redor da dupla figuração de São Vicente, dispostas neste retrato coletivo, que começou este ano a ser alvo de um ambicioso projeto de restauro que deverá durar pelo menos três anos.
Uma das exposições tem como título “Almada Negreiros e os Painéis – um retábulo imaginado para o Mosteiro da Batalha” e é inaugurada a 15 de outubro na Sala do Teto Pintado do MNAA, reúne peças em que o artista apresenta a sua interpretação geométrica de várias pinturas do museu, entre as quais os painéis de São Vicente.
Durante décadas, Almada dedicou-se a uma investigação sobre a disposição de mais de uma dezena de pinturas num só grande retábulo, que afirmava ter sido projetado para o Mosteiro da Batalha, resultando desses seus estudos uma vasta produção artística, parte dela também agora em processo de restauro.
Pela primeira vez, segundo o investigador, serão apresentadas duas obras de grande dimensão, completas, que aliam fotografia, desenho, e materiais têxteis, bem como alguns estudos preparatórios do artista.
Esta exposição é complementada por uma outra, dedicada ao mesmo tema, no próprio Mosteiro da Batalha, a inaugurar na mesma altura, sob o título “Almada Negreiros e o Mosteiro da Batalha – quinze pinturas primitivas num retábulo imaginado”.
Na parede para a qual Almada projetou a disposição do retábulo por ele imaginado, na Capela do Fundador do Mosteiro, serão colocadas reproduções à escala real das obras do MNAA e, na mesma capela, serão expostas várias maquetes e desenhos inéditos do modernista português.
“É significativo que seja possível apresentar estas exposições com obras inéditas sobre os painéis, 50 anos após a morte de Almada, e, ao mesmo tempo, os painéis que tanto o fascinaram voltam a ser restaurados, ao fim de mais de 100 anos”, comentou o investigador que é membro de um dos centros ligados ao projeto Modernismo.pt, ativo desde 2013.
Em conjunto com Pedro Freitas, matemático de formação, Simão Palmeirim, com formação em belas artes, dedicaram-se a estudar todo este trabalho de Almada, que contém uma grande componente de geometria e mistura vários suportes artísticos, nomeadamente desenho, pintura, fotografia, e materiais como madeira e fios de algodão.
Em conversas com os diretores do MNAA e do Mosteiro da Batalha surgiu a proposta de realizar as duas exposições em parceria, para dar a conhecer ao público um conjunto de obras que revelam o pensamento e vocabulário geométrico de um dos mais importantes modernistas portugueses.
“A teoria de Almada sobre os painéis é complexa, mas o que nos importa é mostrar o trabalho plástico que ele desenvolveu com base nas suas ideias”, salientou Simão Palmeirim à Lusa.
As obras que os investigadores estudaram são provenientes do espólio do artista que se encontra à guarda das netas, Rita e Catarina Almada Negreiros, que “de forma muito generosa as têm cedido para serem estudadas e restauradas no âmbito do projeto modernismo.pt”.
Simão Palmeirim e Pedro Freitas são investigadores de centros universitários que trabalham com o Projeto Modernismo.pt, respetivamente, do Centro de Investigação e de Estudos de Belas-Artes (CIEBA)/Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (IELT) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT) da Universidade de Lisboa.
Ambas as exposições vão ser acompanhadas pela edição de catálogo autónomo, com textos que resultam da recente investigação sobre o tema.
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