“O medo do futuro” foi o primeiro tema em reflexão no encontro entre Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, e o filósofo brasileiro Francisco Bosco.

Numa viagem ao passado do Brasil, entre a presidência de Fernando Henrique Cardoso, a destituição de Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro, Francisco Bosco defendeu que o Brasil “estava muito melhor” antes das últimas eleições, quando elegeu Jair Bolsonaro: “Elegemos o nosso palhaço particular”, declarou.

Num mundo onde “a corrupção tem corroído a democracia em todo o mundo”, Bernardo Pires de Lima sublinhou, por seu lado, que “as pessoas tolerantes foram esmagadas pelos discursos populistas”.

Mas, assumindo-se um otimista, o investigador deixou a mensagem de que “o medo pode ser o melhor dos contributos para a renovação das democracias”.

Já na segunda mesa da noite, com Dulce Maria Cardoso e Donald Ray Pollock (Estados Unidos da América) a tentar “encontrar a normalidade na anormalidade”, foi Donald Trump o Presidente escolhido para alvo das críticas.

Para o escritor norte-americano, Trump “supera qualquer personagem de ficção” e a sua eleição criou “uma situação política anormal” em relação à qual Pollock continua “em negação”.

Mas, como disse Dulce Maria Cardoso, “a ficção sempre perdeu para a realidade” e, sendo a humanidade “enquanto espécie, uma praga” que tem como característica ser muito adaptável, o Folio deixou depois os medos e voltou-se para a Folia, com um concerto de OMIRI, no Palco da Cerca.

O Folio — Festival Literário Internacional de Óbidos tem mais de 210 iniciativas em 450 horas de programação, em torno da literatura.

Sob o tema “O Tempo e o Medo”, mais de meio milhar de convidados de quatro continentes participam em 16 mesas de escritores, 12 exposições e 13 concertos que integram a programação.

Organizado em cinco capítulos (Autores, Folia, Educa, Ilustra e Folio Mais), o festival teve a sua primeira edição em 2015, num investimento de meio milhão de euros, comparticipados por fundos comunitários. Desde então é custeado pela autarquia e por parceiros institucionais.