De acordo com um comunicado divulgado pela Gulbenkian, estas obras “complementam de forma muito singular” o acervo de Paula Rego na coleção do CAM – constituído por 35 obras, entre pintura, desenho e gravura – pelo “potencial expositivo e mediático que comportam”.
“Com esta incorporação, a Fundação Calouste Gulbenkian consolida a sua posição internacional como a instituição privada com o maior e mais significativo acervo da artista, reforçando a ligação histórica e os profundos laços profissionais e afetivos” que ligam a artista à instituição, desde que foi bolseira Gulbenkian nos anos 1960.
A fundação sublinha ainda que “a icónica pintura ´O Anjo´ reveste-se de uma enorme importância no contexto da produção artística de Paula Rego, sintetizando todo o seu programa artístico”, apontando que “a própria pintora confessou tratar-se do trabalho que gostaria de levar para a sua última viagem”.
“Não sendo explicitamente um autorretrato, esta obra é uma imagem forte e irradiante que se identifica com o sentido interventivo do trabalho da artista: entre a espada e a esponja, a proteção e a vingança, o castigo e o perdão”, sustenta a Gulbenkian, citando a curadora Helena de Freitas, que foi diretora da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, que acolhe um importante acervo de obras da autora.
A Fundação Gulbenkian adquiriu também, para a Coleção do CAM, “O Banho Turco”, da década de 1960, em cujo verso figura um retrato de nu de Paula Rego, realizado por Victor Willing (1928-1988), seu marido.
Nesta obra, a artista, “logo no início da sua carreira e numa notável antecipação, faz uma ligação subtil, muito pessoal, mas assertiva, a um dos temas que hoje agita o mundo das artes, em Portugal e no mundo, como o feminismo e a representação da mulher”, sublinhou a fundação.
A Gulbenkian cita ainda, no comunicado, a pintora Paula Rego, depois da confirmação da aquisição das obras: “É uma grande felicidade para mim saber que dois dos meus quadros mais importantes vão viver na Gulbenkian”.
“A Gulbenkian apoiou-me quando eu mais necessitava de apoio. Eu sei que vão tomar conta do meu anjo e espero que lhes traga a sorte e o conforto que merecem”, acrescentou.
Nascida em Lisboa, Paula Rego, que completou 87 anos na quarta-feira, começou a desenhar ainda em criança, e partiu para a capital britânica com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde viria a fixar residência e a distinguir-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura, e marcada, ao longo das décadas, pela defesa dos direitos das mulheres.
Em Londres conheceu o marido, o artista inglês Victor Willing, que morreu em 1988, cuja obra Paula Rego já mostrou por várias vezes no museu Casa das Histórias.
Nas últimas décadas, a pintora tem abordado temas políticos, como o abuso de poder, e também sociais, como o aborto e a mutilação genital, entre outros do universo feminino.
Em 2004, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, e, em 2010, foi nomeada Dame Commander of The Order of the British Empire pela Coroa Britânica, pela sua contribuição para as artes. Em 2016 recebeu a medalha de honra da cidade de Lisboa.
Em 2019, a pintora foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura.
A obra de Paula Rego está representada em várias das mais importantes coleções públicas e privadas em todo o mundo.
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