O papel de Dino d’Santiago na projeção da língua portuguesa, “na promoção do diálogo cultural entre os povos que falam português”, assim como “o empenho que tem posto na defesa da igualdade e no combate a todo o tipo de discriminação” são fatores reconhecidos pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, estando na base da atribuição da Medalha de Mérito Cultural, segundo o comunicado hoje divulgado pelo Governo.
A entrega da Medalha de Mérito Cultural realizou-se hoje à tarde, no Estabelecimento Prisional do Linhó, no concelho de Sintra, onde Dino d’Santiago participa todas as semanas na iniciativa “De dentro para fora”, coordenada pelo professor Filipe Gameiro Neves, “fazendo da música um espaço de liberdade no interior da cadeia”. A sessão teve contou com a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro.
“Este projeto que o Dino faz [no Linhó], e muitas outras coisas que o Dino faz, têm este princípio: utilizar a cultura para promover uma ideia de virtude. Fazer o bem e criar uma comunidade de pertença”, afirma Pedro Adão e Silva, citado pelo comunicado divulgado pelo seu gabinete.
“A forma como o Dino tem aproximado as várias linguagens culturais tem ajudado a tornar o nosso país mais aberto e a projetar uma imagem de uma sociedade mais plural e diversa e, por isso, mais rica”, conclui o ministro da Cultura.
O cantor, músico e compositor Dino d’Santiago, de nome Claudino Jesus Borges Pereira, nasceu em 13 de dezembro de 1982, em Quarteira, no distrito de Faro, numa família de imigrantes cabo-verdianos.
Cresceu no Bairro dos Pescadores da vila algarvia, onde iniciou a ligação à música, primeiro como elemento do coro da igreja local, mais tarde como compositor e criador das suas próprias canções, em espetáculos de rap.
Em 2003, “de maneira quase fortuita”, participu no programa “Operação Triunfo”, da RTP, para o qual levou músicas da sua autoria.
A partir de então desenvolveu projetos em que fundiu universos da soul, do hip hop e do R&B, nomeadamente Dino & The SoulMotion e a banda Nu Soul Family, tendo trabalhado com músicos como Virgul, Sam The Kid, Tito Paris, Valete e Pacman.
O primeiro álbum, “Eva”, foi lançado há dez anos, facto que Dino D’Santiago assinalou nos dois últimos meses, em espetáculos no Teatro Tivoli, em Lisboa, e na Casa da Música, no Porto.
Antes de “Eva”, em 2008, Dino D’Santiago tinha editado “Eu e os meus”, enquanto Dino and The Soul Motion. Como Dino D’Santiago, editou “Mundu Nôbu” (2018), “Kriola” (2020) e “Badiu” (2021).
Em “Badiu”, enaltece, mais do que nunca, o ‘batuku’ e o funaná, sons de Cabo Verde “que resistiram à opressão”, tal como os ‘badius’, símbolo de resistência, que homenageia com este trabalho.
Essas pessoas, explicou em entrevista à agência Lusa em 2021, são as que foram levadas dos territórios onde se situam hoje a Gâmbia e o Senegal e, posteriormente, da Guiné-Bissau para a Ilha de Santiago, em Cabo Verde, escravizadas pelos portugueses.
Os ‘badius’ foram quem “conseguiu manter a tradição dos ritmos que saíram diretamente de África e não se aculturaram tanto como os que ficaram reféns e foram depois vendidos para outros países, outros mercados”, disse à Lusa. ‘Badiu’ era um termo depreciativo, mas acabou por se tornar “um símbolo de resistência”.
Dino D’Santiago é um dos fundadores do projeto de dinamização cultural “Sou Quarteira”.
Recebeu a Medalha de Mérito da Câmara Municipal de Loulé, foi premiado pelos Cabo Verde Music Awards, e tem o recorde dos prémios Play da Música Portuguesa. Em 2010, o projeto Nu Soul Family ganhou o MTV Europe Music Award para Melhor Artista Português.
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