Gregório estava em Nova Iorque para a gala internacional dos Emmys - onde, na noite de ontem, a série "Porta dos Fundos" foi galardoada com o prémio de Melhor Comédia - quando nos atendeu o telemóvel. Nenhum adepto do Fluminense merecia interromper a azáfama da cidade que nunca dorme para falar do Flamengo. Mas vamos a isso. “Sobre a comédia no Brasil, ficou mais difícil fazer humor com o Flamengo depois do último fim de semana, não foi?”, perguntámos. Ri-se. “Estou com muita raiva do Jesus, que me fez torcer pelo Flamengo pela primeira vez na história. O Brasil nunca tinha visto um técnico assim. Nós, tricolores, estamos com muita raiva dele porque o Fluminense merecia muito mais um técnico assim”, diz.

Desculpem, mas tinha de ser. É que esta conversa é sobre Sísifo, sobre homens que carregam diariamente a sua pedra pelo monte acima para a ver rolar ladeira abaixo e começar tudo de novo. Jesus já foi Sísifo em finais internacionais, mas, no dia 23 conseguiu alcançar o topo da montanha.

Na verdade existem vários Sísifos. Há o mito grego e depois também há o Sísifo de Gregório Duvivier e Vinicius Calderoni, que os próprios definem como o primeiro gif que alguma vez existiu, uma eterna repetição, um loop em que a democracia brasileira está presa.

Vamos falar deste último, pode ser?

É um monólogo, escrito por Duvivier, cara conhecida do canal de YouTube “Porta dos Fundos” e do programa da HBO “Greg News”, em parceria com Calderoni, coautor e diretor da peça que se estreia esta quinta-feira, 28, em Lisboa e que vai percorrer Portugal até ao dia 4 de dezembro.

O nome não engana, inspirado na história do homem que tentou enganar os deuses e que foi condenado a uma tarefa impossível e repetitiva para eternidade, o texto relaciona a mitologia grega com o caótico mundo globalizado e “híperconectado”, trazendo a palco temas contemporâneos e urgentes, para falar e refletir, sobretudo, sobre a condição humana.

Gregório tem 33 anos, praticamente a mesma idade da democracia brasileira. Nos seus anos joviais, recorda um humor recalcado em estereótipos  — e diz que "o principal problema com as piadas machistas, homofóbicas, racistas não é que elas sejam erradas, é que não têm graça"— e do teatro como único espaço de liberdade pura. O humor evoluiu, não deixou de bater “nas mesmas pessoas que a polícia”, mas ganhou outra forma, contra poder, mais atento. É nesse espectro que hoje Duvivier vê a beleza do teatro, na possibilidade de fazer uma peça sobre a bolha da realidade brasileira que lhe parece viver em “intervalos democráticos” no meio de várias ditaduras.

“O que mais gosto de fazer nesta peça é que ela não é literalmente política, a gente não fala literalmente desses assuntos, e ao mesmo tempo está tudo ali, porque o teatro é um lugar onde a gente se reúne e toda a gente viaja junto”, diz.

Esta é uma conversa sobre um pensamento, uma bolha. Sobre a riqueza de um povo que Gregório não quer que seja “uma república de bananas, extrativista, que tira todas as riquezas da terra e nenhuma riqueza das gentes”. Esta é a conversa com um homem que tem limites no seu humor, o da capacidade de resposta do outro lado, que mede a sua comédia unicamente pela graça e que diz que ao Brasil faltam coisas tão básicas como concordar que a democracia é uma coisa boa e a tortura uma coisa má.

Este é o homem por detrás de Sísifo, preso em palco na representação do mito, livre e com uma vontade urgente de sair deste gif.

créditos: H2N

Como era o humor no Brasil quando era mais novo?

O humor com que cresci no Brasil era na sua maioria calcado em estereótipos. Era um humor que, em geral, fazia muita referência a chavões, como se diz no Brasil, e a caricaturas quase sempre escritas por homens brancos que se riam ou de mulheres, ou de negros, ou de pobres ou caipiras, que é quem mora no interior, ou de portugueses, imigrantes portugueses. Era um humor que batia nas mesmas pessoas que a polícia.

Quando estava a preparar esta entrevista lembrei-me do documentário “Democracia em Vertigem”, da Netflix, e quando fui rever algumas partes apercebi-me de que o Gregório e a democracia brasileira são praticamente da mesma idade.

O Brasil tem uma democracia muito jovem, 30 anos basicamente. Os meus pais votaram para presidente pela primeira vez com trinta e tal anos. A minha geração é a primeira que cresceu em democracia. Quando eu nasci era um país completamente diferente do que é hoje, até em democratização. A democracia não é uma coisa que se começa e pronto tem-se uma democracia em valores absolutos. Na política nada é primário. O Brasil não deixou de ser uma ditadura do dia para a noite, foi um processo que demorou. Era um país muito menos democrático, aquele em que eu nasci, em 1986. Não se votava para presidente, havia muito mais analfabetismo, a presença de mulheres, negros, minorias era muito menor... Mas, ao mesmo tempo, hoje, a impressão que tenho é que tudo isso que aconteceu nos últimos 30 anos está indo por água abaixo.

Mudou o país e o humor?

O humor no Brasil mudou junto com a sociedade. Temos uma sociedade que é um pouco mais atenta a estas questões e o humor não acho que tenha ficado mais politicamente correto. Para mim, isso é o termo errado, porque não existe correção política. O que acho é que hoje está um pouco mais diverso. Aquele humor de estereótipos ainda existe, tem o seu público, mas se você quiser fazer um humor um pouco mais atento às minorias, às opressões, um humor que bata no opressor, que bata no poder, mais político, por exemplo, também tem público e tem veículo para isso. Quando cresci só havia como o fazer [o humor com base em estereótipos] na televisão aberta. O lugar de liberdade era só o teatro.

"Tudo o que o Brasil está a fazer, o projeto desse governo atual, é transformar o país de novo numa república das bananas, extrativista, que tira todas as riquezas da terra e nenhuma riqueza das gentes"

O povo brasileiro é um povo que se sabe rir de si mesmo?

Sabe, sabe sim. Se há uma tecnologia que a gente domina é a tecnologia da irreverência, se há uma mercadoria no Brasil que a gente poderia exportar é o humor. Por isso é que fico tão feliz que o Porta esteja exportando humor. Para Portugal, claro, mas também para o México. A gente fez agora o Porta no México, no canal Backdoor, e o sucesso foi enorme, está ficando maior do que é no Brasil já, e consequentemente nos países de língua hispânica na América. Estou muito feliz de ver que o nosso humor viaja e que o Brasil pode exportar algo além de madeira das florestas, algo além do extrativismo. Porque tudo o que o Brasil está a fazer, o projeto desse governo atual, é transformar o país de novo numa república das bananas, extrativista, que tira todas as riquezas da terra e nenhuma riqueza das gentes, da sua cultura, e a maior riqueza do Brasil é a riqueza do povo. O Porta dos Fundos é oriundo dessa cultura.

Já se pode dizer que o Porta dos Fundos marcou uma geração?

Tem que perguntar a ela, se eu falar vai parecer cabotino [uma exibição], mas a minha vida certamente foi marcada pela Porta dos Fundos. A gente não o fez para marcar uma geração, a gente faz porque é muito divertido.

"O principal problema com as piadas machistas, homofóbicas, racistas não é que elas sejam erradas, é que não têm graça"

Num país tão politizado como o Brasil conseguem fazê-lo sem segundas intenções? É o riso pelo riso?

O humor tem uma cilada. Às vezes, quando você tenta passar uma mensagem ou mudar alguma coisa, você acaba por não conseguir ser muito engraçado. Esse meio-termo é muito difícil, porque é uma linha ténue entre o humor e o panfleto, a propaganda política. A gente nunca cai nesse lugar, a gente tem de ser, antes de mais nada, engraçados e a melhor maneira de a gente saber se está a ser engraçado é com nós próprios. Se a gente não estiver a rir, não estiver a achar engraçado a gente não faz. E isso vale para tudo, para a Porta dos Fundos e para o Greg News. A nossa régua continua a ser o humor, a graça. A graça acima de tudo. O principal problema com as piadas machistas, homofóbicas, racistas não é que elas sejam erradas, é que não têm graça. No humor estamos a falar de verdade e eu não acredito que existam verdades racistas. Para mim o problema do humor racista não é a incorreção, mas sim a falta de graça porque é mentiroso, antigo, perpetua algo que não é verdade.

Numa entrevista à Veja, fala do humor de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil. É esse humor antigo a que se refere?

É um humor que aqui no Brasil a gente chama de tiozão. Sabe aquele tio inconveniente que todo o mundo tem? Grosseiro, machista, assediador? É o humor daquele tio que é uma espécie de figura, um arquétipo brasileiro. Bolsonaro é, assim, um típico exemplo desse arquétipo.

Mas sem grande graça?

Eu não acho, nunca achei. Nem aos tios, nem ao próprio. É um humor de perpetuação, de repetição, de certezas. São coisas que não acho que sejam verdadeiras, são mentirosas, são canalhas. O humor pode ser isso também, o humor pode ser tudo. É um pouco como a música ou como o cinema. O cinema produz tudo, existe um cinema racista, existe um cinema libertário e o humor é muito parecido, às vezes as pessoas 'vilanizam-no' ou 'heroízam-no'. Acho que as duas coisas estão erradas, quem acha que o humor pode tudo e quem acha que o humor é necessariamente uma arma de opressão. Acho que nos dois casos está tanto liberando o humor da sua responsabilidade como dando a ele responsabilidade a mais para mudar a sociedade, o que também acho ruim.

“O bom palhaço é aquele que se quer levar para casa. O político à direita, hoje, parece que percebeu”

Há uma frase que uma vez disse no Greg News que é “a direita não sabe fazer hambúrguer e que a esquerda não sabe fazer autocrítica”. A direita é mais cómica do que a esquerda?

Acho que a gente à esquerda, sobretudo hoje em dia, tem uma tendência para se levar mais a sério, o que acho muito ruim. A esquerda tem assumido o papel de censora, quando esse papel, tradicionalmente, era da direita. Para mim o crescimento da esquerda no mundo tem a ver com uma questão mais libertária, sobretudo em relação ao humor. Esses novos líderes de direita são todos palhaços, em algum sentido. Todos usam o humor como ferramenta de comunicação e carisma. Se tentar compreender o crescimento de Trump vai perceber que as pessoas gostam dele porque se riem dele. Ninguém o acha o mais inteligente ou o mais bem preparado. A mesma coisa com Bolsonaro, ninguém acha que ele é o candidato mais brilhante, trabalhador, competente. Não vai ver esses termos ligados a ele. Vai ouvir "ele fala verdade", "ele é engraçado", "eu gosto dele”, “eu confio nele" que são coisas muito mais relacionadas com o campo do afeto do que com o campo da razão e esse campo do afeto é o campo do palhaço, da pessoa que sabe ser gostada. O bom palhaço é aquele que se quer levar para casa. O político à direita, hoje, parece que percebeu isso e opera nesse campo do humor muito melhor do que a esquerda de um modo geral.

Nessa entrevista à Veja diz: “se a pessoa, se a instituição que está na mira da minha piada consegue rebater na mesma moeda, sigo em frente”. Portanto, o humor tem limites?

Para mim o limite é esse. Se estou falando com alguém que pode responder, que tem ferramentas para responder, se estou falando com quem está no poder, se estou a falar com quem está armado, no Brasil esse limite é muito claro, a gente ri de quem está no poder, a gente ri de gente armada até aos dentes, inclusive. Não tem a ver com estar no nosso campo ou não, a gente está rindo de quem está no poder. A gente tem um vídeo sobre a Venezuela, sobre Maduro, que se diz de esquerda. A gente ri-se de quem tem estruturas mediáticas para comunicar também. Não se bate em alguém que não tem voz, aí acho muito fácil. Para mim, para uma piada ser engraçada tem de ter uma certa dose de risco.

"Eu não preciso de me ficar policiando para não ser racista ou falar coisas bárbaras, é algo natural."

E isso não o limita? Não se sente pressionado pelo politicamente correto?

No meu caso não. Acho que há muita gente que confunde a responsabilidade do humorista. É claro que sendo um comunicador as pessoas envolvem-te numa certa responsabilidade, como o papel de um professor. Um humorista não tem de ser exemplo e acho que isso é muito diferente de se ser responsável pelo que se diz. Ao mesmo tempo que o humor não exime ninguém de responsabilidade, ele também não dá uma responsabilidade gigante. Se o humorista começa a pensar se aquela piada é educativa ele perde a graça. O humor não é educativo, não é pedagógico, o que não significa que seja racista. Existe um meio-termo entre você ser pedagógico, ser exemplar, didático, panfletário e você ser racista, machista que é a responsabilidade do ser humano. Às vezes os dois lados julgam o outro, "ah mas eu não me quero ficar policiando, não tenho de dar exemplo para ninguém". Tem razão, não tem de se ficar policiando, mas se para não falar merda precisa de se policiar, significa que a sua cabeça tem alguma coisa errada. Eu não preciso de me ficar policiando para não ser racista ou falar coisas bárbaras, é algo natural.

O humor tem fragilidades e tem poder. Não sente que vivemos numa altura em que é mais frágil do que poderoso? No Brasil não evitou a eleição de Bolsonaro, nos EUA não evitou a eleição de Trump. Por outro lado, os humoristas são alvos de vários ataques nas redes sociais, por exemplo.

Acho que é ao contrário. Quem ganhou as eleições nos Estados Unidos foi o humor porque o Trump é um humorista, um humorista ruim, mas é um humorista. Ruim para o meu gosto, mas para grande parte da população funciona comicamente. Quem perdeu foi o humor iluminista, digamos, progressista… Na verdade não perdeu porque não estava concorrendo. Se o Bernie Sanders estivesse concorrendo haveria um embate entre dois candidatos que usam o humor, agora o embate entre o Trump e a Hillary foi um embate entre um palhaço e uma professora que ficava dizendo que aquele palhaço não tinha graça, quase uma censora. No Brasil a mesma coisa, o Haddad é um professor académico, um intelectual, e o Bolsonaro é o anti-intelectual, humorista. Então tem mais do que um debate entre dois tipos diferentes de humor, tem um debate sim entre uma direita humorística e uma esquerda académica e o humorista vai ganhar sempre esse debate popular. Se bota os dois para brigar é claro que a população fica do lado do palhaço.

Portanto, acha que o humor tem mais poderes do que fragilidades.

Acho que o poder está em quem sabe usar o humor, embora eu não faça isso, não acho que seja a minha esfera. O que estou a dizer é que a política usa muito o humor, não sei se o humor usa a política.

Pode-se dizer que um humorista nos dias de hoje é como Sísifo, a personagem mítica que dá nome ao seu monólogo? Trabalha durante vários meses a satirizar um indivíduo e quando chega a noite eleitoral ele é eleito?

Tenho a impressão, o tempo todo, de que no Brasil somos todos Sísifos. A democracia foi construída e é desmontada mais depressa do que foi construída, a mesma coisa aconteceu na ditadura de 64 e antes. A própria República em algum lugar foi um golpe, não teve nada de popular. No Brasil estamos muito habituados a ver isso, as nossas conquistas irem para o lado. Isso é uma das razões para o nome da peça, esta ideia de Sísifo, esse sentimento de circularidade no qual parece que estamos presos como brasileiros. A gente constrói para destruir, estamos o tempo todo rolando ladeira baixo.

"A gente [no Brasil] parece que não concordou sobre coisas muito básicas como, por exemplo, que a democracia era boa"

No texto sobre o seu espetáculo que vai estrear em Portugal fala da célebre frase de Marx que diz que a história acontece primeiro como tragédia, depois como farsa. E propõe, como desdobramento acrescentar, relativamente ao Brasil contemporâneo: a história acontece primeiro como tragédia, depois como farsa e por fim como meme.

A impressão que tenho é que o Brasil está preso nessa circularidade do gif, nessa coisa do momento preso em poucos segundos. Parece que a gente fica repetindo as mesmas frases, os mesmos chavões, somos um país que não sai de dentro de si mesmo. Acho aflitivo perceber que a gente está enclausurada numa repetição da qual é muito difícil sair. Sísifo foi condenado a isso por querer a eternidade e a impressão que dá é que o Brasil está preso numa repetição muito pouco didática. Não aprende talvez por não conhecer a história, a gente parece que não concordou sobre coisas muito básicas, por exemplo, que a democracia era boa. Nunca no Brasil a gente chegou a uma conclusão clara sobre isso. É algo que em Portugal não parece estar em xeque, a democracia como um todo, não é? Não parece que essa seja uma questão para os portugueses. "Vale a pena a democracia?", não é algo que vocês se perguntam porque em 74 tenho a impressão de que o país todo chegou a esse consenso de que a democracia era melhor do que a ditadura.

No Brasil não?

No Brasil a gente teve uma transição muito lenta para a democracia, demorou mais de 10 anos desde que se decidiu fazer a abertura até abrir de facto. Ninguém foi punido, torturador confesso ganhou inclusive aposentadoria militar até ao fim da vida e esse sujeito [Coronel Brilhante Ustra] é o ídolo do atual Presidente do Brasil. Por isso, parece que a gente nem concordou que a tortura é ruim. O Brasil não chegou a esse consenso histórico, está fadado a repetir os seus erros, aqueles em que falta mesmo o consenso sobre o básico, aquele iluminismo de que falava. Tenho a impressão que em Portugal, na Europa, depois da II Guerra, houve esse tipo de consenso básico de que torturar um ser humano é ruim.

O documentário ‘Democracia em Vertigem’ começa com uma frase muito forte: “A democracia brasileira foi um sonho efémero”.

A impressão que dá é que durou pouco, a ideia que dá é que foi um breve interlúdio no meio de várias ditaduras, uns intervalos democráticos. E parece que estamos a terminar o intervalo que a gente viveu. Eu e a minha geração tivemos a sorte de viver num país que não é a tradição brasileira. Os meus pais cresceram num país em que as pessoas desapareciam, os amigos deles desapareciam e até hoje não encontraram os seus corpos. Tem ideia de frustração dos meus pais? É muito recente [a democracia] e tem muito pouco apreço popular, tenho impressão. Então talvez para isso sirva o teatro. O que gosto mais nesta peça é que ela não é literalmente política, a gente não fala literalmente desses assuntos, e ao mesmo tempo está tudo ali porque o teatro é um lugar onde a gente se reúne e toda a gente viaja junto. Tenho a impressão de que cada um tem uma experiência pessoal de país graças ao celular [telemóvel], cada um tem acesso a uma verdade, e o teatro organiza um pouco isso no sentido em que todo o mundo está junto assistindo à mesma história e isso é raro hoje em dia. O celular possibilita que cada um tenha uma narrativa sobre o país, e o teatro não - está todo o mundo a assistir à mesma narrativa. Em Sísifo tenho a impressão [de] que todo o mundo viaja junto com esse personagem e, independentemente da orientação política, emociona-se em lugares muito parecidos.

O Gregório foi jovem antes da era da Internet. Tem saudades dos tempos em que em vez de cada pessoa estar ao telemóvel as experiências se viviam em comunhão?

Gosto muito dessa ideia do teatro. O teatro só funciona com essa ideia de comunhão, não existe o teatro à distância ou individual. O teatro é uma experiência coletiva por definição, então ele é a antítese da experiência atual de consumo da arte que é num celular com cada um olhando para uma microtela. O teatro só funciona mesmo no coletivo.

Voltando ao fim de semana do Flamengo e aquelas ruas cheias do Rio de Janeiro. Gostava que um dia o humor pudesse ser um escape tão grande como o futebol?

Gostava muito, acho que é uma pena mesmo, se bem que o humor também une um pouco. Vou ser um pouco cabotino talvez, mas o Porta dos Fundos atravessa bastante essa polarização. A gente, para começar, não é um grupo uno, claro que não tem nenhum bolsonarista, também não tem nenhum terraplanista, tem limite para a diversidade, mas é bem diverso e consegue atravessar várias polarizações. Afinal são 20 milhões de inscritos, então não dá para dizer exatamente que é da bolha da esquerda.


Com a produção da H2N -Phenomena Makers, produtora responsável pelo Festival “Porta dos Fundos” e pelo espetáculo de improvisação “Portátil” em Portugal, “Sísifo” estreia-se em Lisboa no dia 28 de novembro no Tivoli BBVA e passa depois por Braga (30.11 - Espaço Vita), Caldas da Rainha (01.12 - Centro Cultural e de Congressos), Porto (2.12 - Teatro Sá da Bandeira ), Estarreja (3.12 - Cineteatro de Estarreja) regressando novamente à capital no dia 4 de dezembro. A peça é para maiores de 12 anos e os bilhetes já se encontram à venda e podem ser adquiridos na Ticketline e na BOL.