A figura feminina apresenta-se nua e com um sorriso misterioso e tudo indica tratar-se de uma variante de "Mona Lisa", um dos quadros mais célebres do artista do Renascimento.
O Museu em Paris, onde a obra-prima do pintor está exposta, está agora a analisar um desenho a carvão conhecido como "Monna Vanna" e que foi atribuído ao estúdio do artista florentino.
O desenho pertence desde 1862 à enorme coleção de arte renascentista do Museu Condé, no Castelo de Chantilly, ao norte da capital francesa.
O desenho, intitulado pelos investigadores "Joconde Nue", encontra-se a ser alvo de investigações desde do passado mês de agosto, no Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus de França (C2RMF), com o intuito de provar se foi concebido pelo pintor da Toscânia. Após um mês de testes no Louvre, os investigadores acreditam que o "desenho é, pelo menos em parte", de Da Vinci.
"O desenho tem uma qualidade na forma como o rosto e as mãos foram executados que é realmente notável. Não é uma cópia inferior", disse o conservador Mathieu Deldicque à AFP.
"Estamos a olhar para algo que foi trabalhado em paralelo com a Mona Lisa no final da vida de Leonardo", afirmou. "É quase certamente um trabalho preparatório para uma pintura a óleo", acrescentou, sugerindo que o desenho está intimamente ligado à Mona Lisa.
Para Deldicque, apesar de este não ser "uma cópia pálida" de "Mona Lisa", mostrando várias correções feitas pelo artista, o desenho remete para a "presença de uma obra-prima cativante [e de] uma beleza estranha na encruzilhada dos géneros".
'Quase idênticos'
Segundo Deldicque, as mãos e o corpo são quase idênticos aos da obra-prima de Da Vinci.
O desenho é quase do mesmo tamanho da Mona Lisa, e pequenos buracos perfurados em torno da figura indicam que pode ter sido usada para traçar a sua forma numa tela, argumentou.
O especialista em conservação do Louvre Bruno Mottin confirmou que o desenho data da época em que Da Vinci viveu, no início do século XV, e que é de uma "qualidade muito alta".
Testes já revelaram que não se trata de uma cópia de um original perdido, disse o especialista ao jornal Le Parisien.
Contudo, é necessária prudência antes de uma atribuição definitiva a Da Vinci, que morreu em França em 1519. "O tracejado na parte de cima do desenho perto da cabeça foi feito por uma pessoa destra", enquanto Da Vinci desenhava com a mão esquerda.
"É um trabalho que vai levar algum tempo", acrescentou o perito. "Este é um desenho sobre o qual é muito difícil trabalhar porque é particularmente frágil".
Mas Mottin disse que a equipa do museu espera esclarecer a identidade do autor no prazo de dois anos, a tempo para uma exposição no Chantilly, pelo 500º aniversário da morte de Leonardo da Vinci.
Mais de 10 especialistas estudaram cuidadosamente o desenho nas últimas semanas, tendo este sido submetido a uma bateria de exames que incluem a fotografia com luz rasante, a fluorescência de raios X e por raios ultravioleta e a refletografia de infravermelhos.
Até agora, as primeiras análises permitiram determinar a data do desenho - entre 1485 e 1538 - um período temporal que abrange uma secção da vida do artista.
O curador do museu Condé admite, contudo, que "está tudo em aberto" quanto à participação de Da Vinci na criação do esboço, adiantando que os resultados da investigação, em andamento, serão revelados em 2019.
O desenho de Chantilly foi originalmente atribuído ao mestre toscano quando foi comprado pelo duque de Aumale, em 1862, por 7.000 francos, uma quantia substancial na época.
Mais tarde, especialistas tiveram dúvidas sobre a autoria e concluíram que era mais provável que o desenho tivesse sido feito por algum membro do estúdio do artista.
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