O Jardim Botânico Tropical, criado em 25 de janeiro de 1906 por decreto régio, então com a denominação de Jardim Colonial, tem cerca de cinco hectares e fechou portas em janeiro do ano passado para a primeira de quatro fases de reabilitação.
Em declarações à agência Lusa, o vice-reitor da Universidade de Lisboa, José Pinto Paixão, explicou que estas foram as primeiras grandes obras de reabilitação desde a década de 1940.
As seguintes fases, segundo José Pinto Paixão, estão programadas para os próximos anos - algumas deverão começar em breve, mas já não vão obrigar ao encerramento do Jardim.
“Foi uma intervenção bastante profunda. […] Foi reabilitada toda a estrutura de redes, que não existia para além de uma rede de água para rega um tanto arcaica, os esgotos, que eram poucos, e telecomunicações. Tudo isso foi feito”, disse.
José Pinto Paixão contou que um dos locais sujeitos a uma grande intervenção foi o lago, que tem um século de existência e nunca tinha sido reabilitado. Foi completamento limpo e impermeabilizado, mas ainda há muito a fazer.
O Jardim Botânico Tropical, que desde 2015 integra a Universidade de Lisboa, vai ainda ter obras nos próximos anos ao nível dos edifícios.
“Esta primeira intervenção ultrapassou os 1,5 milhões de euros e depois quando começarmos a juntar as outras intervenções – a recuperação do restaurante colonial, as instalações dos jardineiros, a recuperação da estufa principal, o Palácio dos Condes da Calheta e outros – estamos a falar de mais do dobro, seguramente”, disse.
Também Luís Paulo Faria Ribeiro, arquiteto paisagista responsável pela intervenção, sublinhou à Lusa a importância da intervenção.
“É importante começar por dizer que o Jardim Botânico Tropical é único no contexto dos jardins de Lisboa e até do país pela quantidade de informação e pela evolução histórica que tem. Os jardins têm de ser vistos sempre como entidades vivas e dinâmicas, que estão sempre a transformar-se - reagem à pressão do público e da utilização”, contou.
Luís Ribeiro explicou que a intervenção proposta e discutida com a Universidade de Lisboa foi no sentido de recuperar da degradação que qualquer jardim tem face à utilização/evolução e para realçar os valores presentes.
“Há sempre aqui uma função científica muito importante, ligada à universidade e à pesquisa, mas há também uma quantidade de informação histórica que está patente, que se consegue interpretar através dos diferentes tipos de vegetação e dos diferentes traçados dos caminhos, e que explicam muito da história de como os portugueses estiveram no mundo e a sua influência na troca de plantas no mundo. É um manancial importante para o jardim funcionar e ser mais atrativo para as pessoas”, realçou.
O arquiteto paisagista contou à Lusa que a intervenção foi uma descoberta constante pelas camadas de história. O jardim tem origem nas quintas Belenenses, com ligação às cortes portuguesas, e mais tarde, com a República, passa a Jardim Tropical.
“Todas estas etapas iam sendo descobertas quando estávamos a fazer as infraestruturas. Descobrimos sistemas de drenagem antigos do século XIX. Mesmo tecnicamente há camadas de informação. Fomos tomando decisões para não comprometer, nem destruir o que existe e aceitar a evolução do jardim”, disse.
Também o botânico César Garcia, um dos responsáveis pela gestão dos jardins da Universidade de Lisboa, destacou à Lusa que os visitantes vão encontrar a partir de sábado um jardim requalificado com espécies botânicas “muito interessantes e pouco comuns em jardins portugueses, como as fruteiras”.
“Quem esteve em Angola ou no Brasil vai gostar de vir aqui. Temos no jardim cerca de 700 espécies, algumas de interesse ornamental, mas muitas com interesse agrícola. A mais-valia deste jardim é historicamente ter sido um local onde se faziam testes de fruteiras para ir para África”, contou.
No jardim podem ser observadas espécies de todo o mundo, desde o pinheiro de S. Tomé ao teixo da serra da Estrela e ao dragoeiro de Cabo Verde.
“Temos micro-habitats dentro de um local bastante pequeno em Lisboa e para quem gosta de botânica, da natureza, de fugir da azáfama”, indicou César Garcia.
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