A descrição foi feita na apresentação à imprensa de “A Imagem da Palavra”, que vai ficar até 06 de fevereiro na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, pelo diretor do espaço, António Preto, comissário da mostra e autor do convite ao cineasta nascido em 1947, em Nova Iorque, que desde 2009, com o filme “A Religiosa Portuguesa”, tem dedicado particular interesse a Portugal.
“É um olhar diferente sobre os meus filmes. O António contactou-me, falou-me do projeto da Casa do Cinema e convidou-me para que aceitasse que ele fizesse a primeira exposição sobre a minha obra”, descreveu à Lusa Eugène Green, que realizou, para Serralves, o filme “Lisboa Revisitada”, uma reflexão sobre o turismo através de imagens captadas na capital portuguesa em 2008 e dez anos depois.
Quanto à importância da palavra na sua obra, Green esclarece que o assunto é “bastante complicado” – o suficiente para ser tema da conferência que vai dar na quarta-feira, às 18:30.
“Para mim, o cinema como arte é uma forma de palavra. As imagens substituem-se às palavras. Mesmo um filme mudo é uma forma de palavra. Nos filmes, a palavra falada existe para fazer sair a interioridade das personagens. Para transformar as pessoas em personagens. Existe, para mim, uma relação muito profunda entre a palavra e a ideia do cinema”, descreveu.
Quanto ao resultado da exposição, Eugène refere que o fez descobrir coisas novas nos filmes que ali são apresentados, nomeadamente o primeiro, “Toutes les Nuits” (2001), porta de entrada na mostra.
Green notou que o surpreendeu, por exemplo, “a relação entre algumas imagens que pertencem a filmes diferentes”.
O realizador disse ainda ter reparado no modo como funciona, na mostra, “a relação entre campo e contracampo”.
Em particular, Green destaca o modo como a técnica se relaciona quando observada em monitores diferentes, colocados frente a frente.
“Faz-me pensar. Devo pensar sobre isso”, afirmou.
Nos visores que se vão acendendo e apagando para o diálogo preparado por António Preto, passam ainda os filmes “Les Signes” (2006), cuja ação decorre numa vila piscatória no País Basco francês ou “A Religiosa Portuguesa” (2009).
António Preto explicou ter escolhido Eugène Green por ter “uma obra que dialoga com questões que também foram abordadas por Manoel de Oliveira” e que, simultaneamente, “podia viver num contexto de sala de exposição”.
“Quando tiramos o filme do seu contexto natural, a maneira como nos relacionamos com as imagens varia: mostra mais umas coisas e torna outras menos visíveis”, observou.
O comissário disse que a “exposição foi sendo pensada de forma progressiva”, num “processo longo” e desafiante, nomeadamente para tentar “dar a conhecer os filmes procurando não trair a voz do autor”.
Durante o mês de janeiro de 2020, a Casa do Cinema vai acolher uma ‘carta-branca’ ao realizador, que foi convidado para selecionar um conjunto de filmes particularmente marcantes no seu percurso.
Naquele espaço de Serralves, vão ser exibidos “História de um Fotógrafo” (1966), de Michelangelo Antonioni, no dia 03 de janeiro, às 21:30, “Conto de Outono” (1998), de Éric Rohmer, no dia 04, às 17:00, ou “Ukikusa” (1959), de Yasujirô Ozu, no dia 05, também às 17:00.
A partir de 17 de janeiro, o auditório da Casa do Cinema acolhe uma retrospetiva integral de Eugène Green.
Nascido em 1947, em Nova Iorque, Green partiu para a Europa no final dos anos 1960, com o intuito de se fixar em Inglaterra “para aprender inglês”. Acabou por se estabelecer definitivamente em Paris, multiplicando a sua atividade entre a escrita, o teatro e o cinema.
Em Portugal filmou, em 2018, “Como Fernando Pessoa salvou Portugal”.
“Lisboa Revisitada”, realizado para Serralves, é uma antecipação de outro projeto em preparação — “A Árvore do Conhecimento.
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