Lançado na terça-feira, a nível internacional, “Young Mungo” é um retrato da vida da classe trabalhadora de Glasgow e uma história do primeiro amor de dois jovens, Mungo e James, num meio masculinizado.
Em Portugal, este livro estará disponível a partir de março de 2023, editado pela Alfaguara, que também publicou “Shuggie Bain”, em setembro do ano passado.
Tal como no seu primeiro romance, que traça a vida de um rapaz ‘queer’ e da sua mãe alcoólica, numa Glasgow pobre e violenta, também esta narrativa é ensombrada pela pobreza, dependência e homofobia que pairam sobre um adolescente.
“Young Mungo”, como “Shuggie Bain”, apresenta uma mãe solteira, alcoólica e destruída, com três filhos: um rapaz mais velho duro, uma irmã intermediária calorosa, carinhosa e dotada, e um rapaz mais novo, doce e vulnerável, que é mais clemente para com a mãe do que os seus irmãos.
No fundo, Mungo será como Shuggie vários anos mais tarde, pois o ambiente familiar e social é semelhante, mas enquanto em “Shuggie Bain” a história se passa na década de 1980 e atravessa a infância da personagem, no período escolar equivalente ao primeiro ciclo, em Mungo, o leitor encontra um rapaz de 15 anos, no início da década de 1990.
Por outro lado, “Shuggie Bain” aborda o despontar da homossexualidade do protagonista e a consequente discriminação e violência de que é alvo, mas “Young Mungo” vai mais longe mostrando a face brutal do amor proibido, do ‘bullying’, do abuso, e da masculinidade tóxica, de acordo com as descrições da imprensa internacional.
O primeiro romance de Douglas Stuart não só venceu o Prémio Booker e o British Book Award, como foi largamente elogiado pela crítica que o elevou ao estatuto de “clássico instantâneo”.
“Young Mungo”, surgindo no encalço deste sucesso, encarava o risco de não corresponder à expectativa criada e ser um fracasso, ou pelo menos um não-sucesso, o que afinal não aconteceu, já que a crítica se rendeu novamente à escrita de Douglas Stuart, classificando-o como “um escritor maravilhosamente dotado, um descritor virtuoso”, com uma “enorme riqueza de detalhes ternos e frases elegantes”, como escreve o The Guardian.
Numa outra publicação do mesmo jornal, a crítica escreve: “Se ‘Young Mungo’ não suscita a mesma emoção imediata que ‘Shuggie Bain’ - a sensação de descobrir uma nova voz de brilho coruscante - há aqui um prazer mais rico e profundo a ser colhido. ‘Young Mungo’ é um romance mais fino do que o seu antecessor, oferecendo muitos dos mesmos prazeres, mas com uma abordagem mais segura da narrativa e uma compreensão mais fina da prosa. Há aqui frases que brilham e brilham, exigindo ser lidas e relidas pela sua beleza e honestidade”.
Douglas Stuart poderá ter conseguido este feito, em grande parte por não ter escrito este livro com o peso do prémio sobre a cabeça, mas sim com a ligeireza de quem escreve para si próprio, sem nunca ter publicado nada nem esperar avaliações de terceiros, porque quando publicou “Shuggie Bain” (após a rejeição de 44 editoras) já “Young Mungo” estava terminado, como confessou o escritor no ano passado em entrevista à Lusa.
Embora estes dois romances não possam ser considerados autobiográficos, são inspirados na vida do autor, que cresceu como o filho mais novo de uma mãe solteira que lutava para manter a família unida na Glasgow pós-industrial.
“A minha mãe sofreu de alcoolismo desde que tenho memória até morrer, quando eu tinha 16 anos. E eu era também um jovem ‘queer’, ou gay, na altura, a viver num lugar onde os homens tinham de ser mesmo homens. Então, quando escrevo sobre pobreza, ou alcoolismo ou solidão, escrevo da perspetiva de quem está dentro”, contou, na altura, à Lusa.
A escrita do primeiro romance começou há mais de dez anos, nascida da necessidade de passar para o papel “histórias que queria contar, imagens que eram pensamentos”, sem que o autor se permitisse, então, admitir que estava a tentar escrever um livro.
Para já os dois livros formam um “díptico”, mas o autor planeia fazer uma trilogia centrada em Glasgow.
Comentários