Van Bo Le-Mentzel, criador do projeto “Wohnmaschine” fecha a porta da casa de banho e senta-se perto do duche. O espaço não é largo para duas pessoas, mas o mais silencioso para uma entrevista. No primeiro dia da visita do projeto a Berlim, são muitos os que entram e saem do atrelado, estacionado em frente à “Akademie der Künste” (Academia das Artes), onde se celebram os 100 anos da Bauhaus.
O arquiteto, especialista na conceção de pequenos espaços, explica, enquanto olha por uma das grandes janelas desta espécie de atrelado, que o projeto, que lhe demorou cerca de oito semanas a concluir, foi inspirado pelo famoso arquiteto Le Corbusier.
“Tentámos perceber se faz sentido criar outros espaços para viver (…) Esta ‘Wohnmaschine’ tem quatro rodas, é uma casa pequena, tem 15 m2, dois compartimentos e é feita para duas pessoas (…). A fachada parece uma miniatura da escola Bauhaus de Dessau, tem muito vidro e as letras que dizem ‘Bauhaus’ no canto”, explica Van Bo Le-Mentzel.
No espaço, há um sofá, um sofá-cama, uma mesa, várias estantes e até uma cozinha em miniatura. No total, o projeto, uma parceria com o espaço artístico “Savvy Contemporary”, de Berlim, custou cerca de 50 mil euros.
“Tentamos criar diferentes formatos, haverá visitais oficiais, também teremos momentos de portas abertas, para que as pessoas possam vir espreitar o interior. Também faremos workshops, leituras, exposições, mas, principalmente, haverá momentos para que pessoas vivam aqui, temporariamente. É como se fosse um laboratório em que experimentamos novas formas de viver e de conviver”, conta Le-Mentzel.
“A ideia era jogar e contrastar diferentes preconceitos, diferentes imaginários e, de certa forma, também questionar o legado da Bauhaus como espaço icónico que foi”, explica o arquiteto, autor do projeto.
“Adoro contar história e acho que as fachadas são como contos. Atrás de uma história há sempre uma mensagem verdadeira. E as fachadas são como contos que tentam levar estas mensagens ao mundo. A fachada da escola Bauhaus é uma ótima contadora de histórias, e é isso que eu tento trazer para aqui”, sublinha, em declarações à Lusa.
A “Wohnmaschine” reproduz a imagem do edifício da Bauhaus, concebido pelo fundador Walter Gropius, em 1919. Le-Mentzel joga com os vidros e com os espelhos para aumentar a perceção do tamanho da casa móvel.
O percurso do atrelado em forma de escola começou por estacionar em Dessau. Depois de Berlim, a viagem continua.
“Segunda-feira estaremos na cidade de Hamburgo. Queremos visitar sítios onde as pessoas se vêm obrigadas a lidar com desafios como a gentrificação, racismo, ou outros sintomas que caracterizam as sociedades pós-coloniais”, explica o arquiteto.
A “Wohnmaschine” vai passar ainda por Kinshasa, na República Democrática do Congo, e Hong Kong, na China, entre outros locais, durante uma viagem com cerca de dez meses.
As celebrações do centenário da Bauhaus, uma das mais arrojadas escolas de arte, design e arquitetura, tiveram início em Berlim, no passado dia 16, e alastram a toda a Alemanha, ao longo do ano.
A escola mobilizou nomes como Walter Gropius, Mies van der Rohe, Oskar Schlemmer, Wassily Kandinsky e Paul Klee, Lyonel Feininger, Josef e Anni Albers, Marianne Brandt e muitos mais, que trabalharam, experimentaram, pesquisaram e produziram todo o tipo de objetos e projetos de arte, inovando em todos os campos, do design e da arquitetura, à performance artística e às artes visuais.
Ao longo dos seus 14 anos de atividade, a Bauhaus estabeleceu modelos que marcaram a produção artística ao longo do século XX, mesmo depois do encerramento pelas forças nazis, após a subida de Hitler ao poder, em 1933.
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