“Vamos fazer uma formação de 14 meses. Estamos no segundo mês e acho que há aqui pessoas que vão lá de certeza absoluta. Vai ficar assegurada a continuidade da olaria em Viana do Alentejo”, afirma, com ar confiante, Feliciano Mira Agostinho, um dos últimos oleiros da vila e formador do curso que está a ser realizado.
Na antiga Cantina Escolar de Viana do Alentejo, no distrito de Évora, onde decorrem as aulas, os formandos distribuem-se pelas várias rodas de oleiro e bancadas de trabalho, atarefados com as diferentes fases de produção das suas peças de barro.
Vasos de diferentes tamanhos, taças e outros recipientes com diversos padrões e decorações ocupam uma mesa ali próxima, já finalizados, como “montra” das habilidades e da imaginação dos alunos.
Maria e Marisa Ginete, mãe e filha, estão entre os aprendizes e já têm uma certeza e um sonho.
“Eu já gostava bastante de artes, de trabalhos manuais e tudo mais e estou a gostar de criar as peças e depois decorá-las”, diz Marisa, secundada pela mãe: “Gosto de iniciar a peça e terminá-la. A minha filha ajeita-se mais na pintura, mas eu tento também fazer”.
Gostariam de montar um negócio de olaria e Maria assume que, apesar de “difícil”, vão “tentar” concretizar a ideia. Mas não são as únicas a pensar seguir o ofício.
“Espero ser uma oleira do princípio ao fim” e “quem sabe se, no futuro, irei ter alguma oportunidade nesta área… Porque gosto muito”, deixa em aberto Inácia Pão-Mole, outra das alunas.
Destinado a adultos, o Curso de Oleiro tem uma duração de 14 meses, numa parceria entre o Centro de Formação Profissional de Évora do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a câmara municipal.
Os participantes, que recebem um conjunto de apoios, têm que ter pelo menos o 6.º ano de escolaridade e, com a formação, vão “ganhar” também equivalência ao 9.º ano, o que, “para a maioria”, foi fator de peso na inscrição, conta Feliciano Agostinho.
“Saem com algo muito importante, que é ficarem com o 9.º ano, porque, hoje em dia, é quase impossível estamos no mercado de trabalho sem o 9.º ano”, e ficam “preparados para abrir o seu próprio posto de trabalho”, realça.
Para o presidente do município, Bernardino Bengalinha Pinto, o objetivo da autarquia, “além da qualificação das próprias pessoas, é manter a olaria de Viana do Alentejo viva”.
“E temos esperança de que saiam, pelo menos, dois oleiros para dar continuidade a esta tradição”, acrescentou o autarca, lembrando que o município é sócio fundador da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas de Cerâmica, que está em fase de constituição.
Com 33 anos de experiência na olaria e apostado em transmitir o que sabe, para dar continuidade à arte na terra, Feliciano Agostinho quer criar “oleiros de ‘a’ a ‘z’, mas na era moderna”, ou seja, “autónomos desde o centrar do barro na roda até ao finalizar e vender da peça”.
Caso ainda precisem de mais prática, no final, não se “avizinham” problemas, afiança. O curso contempla a integração dos alunos nas olarias já existentes: “Há sempre uma olaria onde possam desenvolver” a aprendizagem.
Na sala, com os formandos entretidos com a moldagem do barro e a execução dos pormenores das peças, reinam o entusiasmo e a boa disposição. Uma das mais animadas é Margarida Bagão, que, apesar de já ter o 9.º ano, “abraçou” a oportunidade de frequentar o curso e as aulas práticas de olaria, área em que já tinha experiência.
“Estou desempregada e estava em casa, aborrecida, apareceu este curso e fiquei interessada. Há sempre coisas novas para aprender”, relata, acrescentando, meio a brincar, meio a sério, ter jeito para oleira: “Ajeito-me, sou uma artista”.
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