Ainda não são 9h30, a hora combinada, e as pessoas já fazem fila para confirmar a inscrição, condição obrigatória para fazer parte do grupo de vindimadores. À entrada da vinha, enquanto alguns polícias municipais encaminham quem chega de carro para o parque de estacionamento improvisado em terra batida, voluntários organizam os grupos e entregam a cada participante o material de trabalho: tesoura e luvas de poda, chapéu de palha, garrafa de água e uma T-shirt do "Oeiras Valley". São esperados 400 participantes.
O coordenador do projecto do vinho de Carcavelos na Câmara Municipal de Oeiras, Alexandre Lisboa, já está a postos e faz as apresentações: estamos na Quinta do Marquês de Pombal, construída na segunda metade do Séc. XVIII, mas o vinho fortificado existe na região há quase 500 anos.
"Quem já provou vinho de Carcavelos?"
A vinha tem 20 hectares, mas para este dia está reservado um talhão de três hectares, cerca de 30 toneladas de uva de Ratinho, Galego Dourado e Seara Nova, três das cinco castas brancas com que é feito o vinho de Carcavelos (falta o Arinto e Rabo-de-Ovelha, além das castas tintas, Castelão, Trincadeira e Amostrinha). As expectativas de Alexandre Lisboa são altas, "hoje é preciso apanhar entre 12 a 15 toneladas".
"Quem já provou vinho de Carcavelos?", pergunta ao grupo que chega. São muito poucos os que respondem afirmativamente e logo ali é estabelecida a primeira penalização: "Quem nunca provou vai ter de apanhar o dobro das uvas". O vinho de Carcavelos é "doce, forte (alcoólico) e muitas coisas mais, tem notas de mel, caramelo, especiarias e boa disposição. É um vinho generoso", resume.
Em Portugal há quatro vinhos generosos: Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal e Carcavelos. São vinhos licorosos, fortificados, cujo processo de fermentação é interrompido para adição de aguardente, por isso fica doce e com elevado teor alcoólico. Há vinhos semelhante feitos, por exemplo, no Pico, Açores, mas para terem a designação "generoso" têm de ser produzidos em região demarcada (uma das quatro mencionadas).
São poucos os que já vindimaram, só algumas mulheres mais velhas, no tempo em que viviam na terra. Antes de meterem mãos à obra, as últimas indicações: o cacho segura-se por baixo e, ao contrário do que acontece no supermercado, todas as uvas são aproveitadas, mesmo aquelas que parecem secas ou tocadas.
Na parte de cima da vinha, onde fica a Adega Casal da Manteiga, um tapete de escolha encarrega-se de fazer a selecção do que interessa e separar o engaço, a parte que segura os bagos, das uvas. Agora, toca a encher os baldes de plástico, depois despejados para selhas maiores, levadas para a adega por tractores.
Anabela Martins tem 72 e já está reformada. A vindima "é uma oportunidade para ninguém me incomodar". Esta é uma actividade da câmara, onde tem uma filha a trabalhar, em que participa há já alguns anos: "Faz bem à cabeça, distrai, descontrai, afasta-nos dos problemas e é divertida, convivemos", diz. "Tem muitas vantagens".
"Não sei se o presidente Isaltino pensou nisso, se calhar até pensou, mas é uma oportunidade de as pessoas cuidarem da sua mente, porque é extremamente positivo e agradável". Só não vem à vindima se não puder, como aconteceu no ano passado. "Eles dão almoço, mas independentemente disso o que me interessa é este contacto".
Desta vez, Anabela trouxe a filha, a neta e o neto Tomás, de sete anos - "vou fazer oito" -, que nunca tinha estado numa vindima. Lamenta não ter direito a uma tesoura de poda, só a partir dos 12 anos, e, por isso, é nomeado provador oficial das uvas. Apanhar uvas tem os seus perigos, e os cortes nas videiras ou as tesouradas nos dedos são os acidentes mais comuns.
Por isso mesmo, a câmara de Oeiras destacou para o local uma equipa pronta a socorrer os mais incautos, mas, até ao momento, não há registo de quaisquer ocorrências. Não há não, não havia, porque no preciso momento em que conversamos com os bombeiros Vera Araújo e Paulo Pimentel e com o enfermeiro Nuno, aproxima-se uma senhora com "um furo" num dedo. Um pouco de desinfectante, um penso rápido e está pronta para outra. Hoje não é o caso, mas nos dias em que está muito calor, dizem, um dos principais problemas é a desidratação e as insolações.
"É uma experiência muito bacana"
Passamos por um casal de brasileiros, ambos com 58 anos. Chegaram a Portugal há um ano e dois meses, moram em Cascais. Falamos da tradição vitivinícola no Brasil, que já produz bons vinhos no sul, "mas nada se compara com os vinhos de Portugal", diz Heliandra. Soube da vindima de Oeiras através de uma amiga brasileira que ali esteve no ano passado. "É uma experiência muito bacana", afirma Cassiano, o marido, "mas trabalho difícil, para dar valor a cada golo de vinho tomado", acrescenta ela.
São mais vinho ou cerveja? Ele prefere "moscatel", ela "branco no Verão e tinto no Inverno". Heliandra é consultora imobiliária, Cassiano militar na reserva, mas estão ambos aposentados no Brasil. "Tenho até vergonha de falar", confessa ele. No Brasil, há quem se reforme aos 48 anos, como ele, ou aos 50, como ela. A lei mudou recentemente, "agora precisa ter 35 anos de trabalho e idade mínima de 60 anos. O Brasil tem esta característica porque a população é muito jovem, é preciso dar lugar aos mais novos", explica Heliana, "mas agora a população já está envelhecendo". "Mas precisamos de trabalhar muito mais, senão, como é que fica a cabeça?", questiona Cassiano.
No outro lado da linha, escondidas pelas parras, Eva fala na Fruta Feia, onde faz voluntariado. É que na véspera recomeçaram as actividades e havia muito poucos voluntários, talvez porque ainda está muita gente de férias. Eva faz "de tudo um pouco", agora estava a "cuidar de um bebé de dez meses, que este ano vai entrar para a creche. Ele segue a sua vida, eu sigo a minha".
É a sua primeira vindima, veio desafiada por Rita e por Sara, conheceram-se em eventos de voluntariado. Elas fazem parte da Oikos, "uma ONGD [Organização Não Governamental para o Desenvolvimento] com sede em Queijas e que tem projectos de apoio a pequenos produtores", contam. "É uma associação internacional com projectos em países em desenvolvimento, como São Tomé, Moçambique e alguns países da América Latina". Em Portugal, intervém na área da segurança e soberania alimentar e na promoção da agricultura familiar. "Viemos viver as vindimas para podermos partilhar a experiência com os nossos 'fregueses'".
As histórias multiplicam-se. Celeste Monteiro tem 12 netos, sete do filho e cinco da filha, a mais velha com 24 e o mais novo com oito anos. Passa à procura de baldes. Os vindimadores queixam-se de já não ter sítio onde colocar as uvas, que são mais do que a encomenda. Os baldes enchem depressa, apesar da conversa.
É em alturas como esta que é requerida a ajuda de Beatriz Miranda, uma das voluntárias. Tem 19 anos e está inscrita no grupo de voluntários da câmara de Oeiras, através do qual participa em diversos eventos. Uma dos propostas foi precisamente a vindima, candidatou-se e cá está a dar apoio logístico. "A unidade da juventude, que é responsável por este grupo, faz uma lista dos eventos do mês e os voluntários candidatam-se e são distribuídos em função das necessidades", explica.
Aqui, o trabalho passa por "distribuir o material, orientar as pessoas, colocá-las nas suas posições, saber se está tudo bem, ver o que falta e resolver pequenos problemas", como o da falta de selhas onde despejar os baldes cheios de cachos de uvas para poder prosseguir a vindima. Hoje, Beatriz fica até às 17h00.
E passa uma aguadeira que, de mochila às costas e copos de papel na mão, anda a oferecer água aos vindimadores. Isabel tem 21 anos e está ali como voluntária do SIMAS, os serviços municipalizados de água de Oeiras, mas não faz ideia de como era distribuída a água antigamente, em cântaros de barro para manter a temperatura fresca e um corcho de cortiça por onde todos bebiam.
"Se eu não me pusesse a pau, a vindima já tinha sido feita há mais de quinze dias"
É perto das onze horas quando o presidente da câmara de Oeiras chega à quinta. E nota-se que chegou, não só porque fica rodeado de jornalistas, mas também porque muitos vindimadores para ir ver e até tirar fotografias. "Por acaso, este ano não há cá muitas crianças", repara. "Se eu não me pusesse a pau, a vindima já tinha sido feita há mais de quinze dias. Esta malta acha que com as alterações climáticas tudo se antecipou, eu é que sou mais velho e disse para deixar passar mais tempo".
Isaltino Morais explica que, do ponto de vista experimental, esta vinha também é importante para a investigação da Estação Agronómica Nacional. E lembra como estava "decadente" e com "tendência para desaparecer" quando, em 1999, a câmara municipal fez um acordo com o Ministério da Agricultura, era ministro Luís Capoulas Santos (PS), para ficou com ela.
"Passámos de quatro hectares de vinha para cerca de 17 hectares, e quatro ou cinco mil litros para 70 mil litros. Produzimos vinho maduro branco Casal da Manteiga, que é um vinho excelente, e produzimos o vinho generoso Carcavelos", diz. Um terço da região demarcada está em Oeiras, dois terços em Cascais, que iniciou recentemente o processo e recuperação das suas vinhas.
"A tradição da vindima aberta à população tem praticamente 30 anos e uma adesão cada vez maior. Há até quem diga que é para os amigos do presidente. Não é nada, eu não tenho nada a ver com o assunto, mas as inscrições esgotaram em dois dias, ao que parece. Vamos ver se para o ano criamos uma logística que permita aumentar o número de participantes", adianta Isaltino Morais. "O problema não é a vinha, é o almoço, que para 400 pessoas é uma tarefa complicada".
"Para os mais velhos", diz o presidente, este dia "é uma recordação daquilo que muitos viveram na província. Para os mais novos é uma experiência encantadora. No final da vindima há uma grande almoçarada, com música tradicional, concertinas e um rancho folclórico. Procura-se recriar aqui, também do ponto de vista da coreografia, aquilo que eram as vindimas pelo país fora".
Quando ficou com a Quinta do Marquês de Pombal, a câmara assumiu também a responsabilidade de todo o património histórico: "Produzimos vinho, azeite, mel. E ainda este ano plantámos 350 amoreiras, para o ano já vamos ter bicho-da-seda. As pessoas ouvem falar nisto é acham que é bazófia, propaganda do Isaltino, mas em breve vamos ter seda", anuncia.
Na Adega Casal de Manteiga estão 600 barricas de vinho de Carcavelos, mas há mais 900 pipas nas caves do Palácio do Marquês de Pombal. Alexandre Lisboa explica que a adega foi aberta a outros produtores e desde 2019 está a apoiar a câmara de Cascais. "Está ali uma barrica que é a primeira da Câmara Municipal de Cascais, oferecida pela câmara de Oeiras para simbolizar o primeiro ano de vindima deles. Não fazemos o vinho, abrimos as portas, eles trazem a uva e fazem o vinho".
"O objectivo", diz, "é conseguir ter várias marcas e diferentes tipos de vinho. Neste momento, há seis produtores, a contar connosco, a fazer vinhos aptos a Carcavelos - porque certificados só nós e a adega de Belém, que certificou um tinto com dois anos", o tempo mínimo para estar na madeira. Em Oeiras, no entanto, não é engarrafado vinho de Carcavelos com menos de sete anos. "Podíamos rentabilizar, mas estamos a subir o padrão. Isto não é só um projecto de vinho, é um projecto e património", afirma Alexandre Lisboa. "O objectivo principal é recuperar património vínico e património paisagístico, know-how e património arquitectónico.
Uma garrafa e vinho de Carcavelos com sete anos custa 25€ e com 15 anos custa 40€, mas os vinhos aguentam 100, 200 e 300 anos. Cá se fazem, cá se pagam.
E num instante chega a hora do almoço. De facto, as mesas são tantas que parece o anúncio da feijoada na ponte Vasco da Gama. O rancho já toca e os porcos no espeto, que o senhor Nelson e companhia estão a assar desde as oito da manhã, estão quase no ponto e não tardam a ser servidos.
Lisboa, uma vinha paredes meias com o aeroporto
Quatro dias depois da vindima de Oeiras chega a apanha da uva na Quinta da Graça, em Lisboa, bem perto da Rotunda do Relógio, mesmo ao lado do Aeroporto Humberto Delgado. Há dez anos, aquele terreno era local de despejo de entulho de grandes obras. Quem o viu e quem o vê.
Elsa nem quer acreditar. Portuguesa, 45 anos, é designer gráfica e está desempregada. Fartou-se dos computadores e agora faz algumas coisas na área da costura. Tem uma pequena horta e quando recebeu o email da câmara inscreveu-se imediatamente. As inscrições "esgotaram logo", conta. "Queria vir da parte da tarde, mas já não havia vagas, só consegui para a parte da manhã".
"Não sabia que os cachos se entrelaçavam tanto nas videiras nem que as uvas eram tantas e tão doces, achei que não se podiam comer. E não sabia que a vinha ficava assim tão perto do centro. É incrível esta natureza no meio da cidade", espanta-se.
Ao seu lado está Marat, russo. Parecem amigos desde sempre, mas acabam de se conhecer. Marat vindimou quando era miúdo e vivia em Tashkent, a capital do Uzbequistão, uma cidade onde é possível encontrar zonas de uma enorme modernidade e outras surpreendentemente rurais. Veio com um grupo de russos que rapidamente se espalhou pela vinha, "para ajudar e para passar o tempo".
Chegou a Portugal há seis meses, com a família, mulher e filhos em idade pré-escolar. "Viemos para explorar o mundo, é melhor responder assim". "Decidimos viver noutro lado e Portugal é parece ser o sitio ideal", diz. "Obrigado". Como Marat, muitos estrangeiros - russos, italianos, brasileiros, entre outras nacionalidades -, vieram à vindima. São cerca de 50 num total de 200 inscritos (100 de manhã, 100 à tarde).
A história desta vinha é recente, o protocolo entre a CML e a Casa Santos Lima foi assinado em 2014. "Isto era um terreno completamente abandonado. Aliás, não só abandonado como cheio de entulho e tudo quanto há", conta Luís Almada, co-CEO da empresa familiar.
"A câmara veio falar connosco e perguntou-nos se queríamos explorar isto em termos vitivinícolas. Tinha muito claro o objectivo de reabilitar os terrenos e de os transformar numa zona verde. Lançou-nos o desafio e achámos que fazia todo o sentido, não tanto pela operação, que é boa (e isso conta), mas por podermos contribuir para algo muito importante, que é a cultura da vinha e do vinho. E estamos a contribuir para divulgar os vinhos de Lisboa, uma região que ainda não tem o lugar que merece".
Além disso, diz Luís Almada, "como empresa também temos o dever de contribuir para reabilitar uma zona degradada. Os terrenos são da câmara, mas a Casa Santos Lima tem um contrato de exploração de longo termo, a contrapartida "de plantar a vinha, que é um investimento enorme". A vinha foi plantada em 2016 e a primeira colheita foi feita em 2019, três anos depois. Este é o segundo ano de vindima aberta à população.
É destes 2,3 hectares que saem as uvas (Arinto, Tinta Roriz e Touriga Nacional) para a adega da Casa Santos Lima, em Alenquer, região vitivinícola de Lisboa, onde são feitos os vinhos Corvos de Lisboa, cerca de 20 mil garrafas que podem ser compradas no supermercado por 5.99€ (branco) e 7.99€ (tinto) - também à venda em lojas da especialidade.
Susana tem 69 anos e é reformada. Nunca tinha vindimado, mas foi desafiada pela irmã e pelo cunhado. Que tal a experiência? "Acho que fico doente das costas [ri]. Mas as uvas são muito boas". Mais à frente encontramos Florbela Santos, representante do município de Lisboa, departamento do Ambiente. Estão ali muitos funcionários da câmara, alguns identificados, outros à paisana.
Um grupo conversa enquanto trabalha. São empregados da CML de áreas diferentes. Receberam, como todos os outros, um email de candidatura, mas garantem que vêm como munícipes. Sabiam que existia esta vinha, mas não a conheciam fisicamente nem nunca tinham metido as mãos na massa. "Estar aqui a cortar uvas junto ao aeroporto e à 2.ª Circular é uma sensação espectacular". Já apanharam 12 caixas e comeram alguns bagos. "Sabia que as uvas eram muito doces, mas não sabia que tinham tanta qualidade, porque são muito rijas".
Vindimar não é trabalho, "é cansar o corpo e descansar a cabeça"
Se não estivessem ali, estariam a trabalhar. Porque vindimar não é trabalho, "é cansar o corpo e descansar a cabeça". Pediram autorização para participar e acreditam que "trabalhar na câmara também é isto, conhecer a diversidade da cidade ao vivo, não ver tudo só pelos jornais. As sensações de estar aqui guardam-se dentro de nós".
As aulas ainda não começaram e algumas crianças aproveitam os últimos dias de férias. Benjamim tem nove anos, mas a mãe confessa que o deixara trocar um dia de aulas pela vindima. A que sabem as uvas? "A uva", pois claro, haviam de saber a jaca. Também podia, mas o palato do pequeno ainda não está treinado para detectar uma vasta palete de sabores.
Fica espantado com o tamanho ("minúsculo") das grainhas. De resto, não está nada interessado em falar connosco. Apesar de tudo, conta que está em Portugal há três anos. Se tem saudades do Brasil e de Vitória do Espírito Santo, onde morava? "Mais ou menos".
Pedro tem a mesma idade. Chegou cedo e já tem fome. Enquanto come uma barrita de cereais conversa connosco: já apanhou sete caixas e não comeu nem um bago. Experimenta agora pela primeira vez e a nosso pedido: "Hummm, é doce". Vir à vindima "é muito giro" e foi uma surpresa da tia, em casa de quem está a passar uns dias.
Anda na Escola no Chiado (Externato Paroquial Nossa Senhora da Conceição), "aquilo é mínimo, tem vinte e poucas pessoas na escola toda, cada turma tem para aí cinco ou seis pessoas. Queria que fosse assim para sempre", diz. O que vai contar aos amigos? "Primeiro vou dizer que apanhei uma barata com um copo", só depois vai dizer que também apanhou uvas.
Clara tem dez anos e dança ao som da música do Grupo Etnográfico Danças e Cantares do Minho. "O meu pai gosta muito de experimentar vinhos e quis trazer-me aqui", explica. É a sua primeira vindima e assegura que apanhou muitas uvas. E também comeu: "Provei uma, era muito doce".
Começa as aulas na próxima segunda-feira e vai contar aos amigos tudo sobre este dia fantástico. "Foi uma boa ideia vir aqui e pode ser que eles também queiram vir para o ano". Quem sabe se a vindima de 2025 não se faz mais tarde e a escola decide vir com turma toda. "Isso é que era!" Clara vive em Lisboa, mas nunca imaginou que houvesse uma vinha "tão grande" mesmo ao lado do aeroporto.
Há quem diga, aliás, que a localização da vinha faz com que as uvas estejam poluídas. Mito ou realidade? Luís Almada responde: "Discordo dessa afirmação e a melhor prova que posso dar é que já levamos alguns anos a fazer vinhos aqui e os vinhos têm ganho medalhas [medalha de ouro do Concours Mondial de Bruxelles 2019, colheita de 2018, entre outros prémios] e têm sido reconhecidos por entidades externas e independentes".
"Não fazemos análises à atmosfera - essas faz a CML -, mas fazemos análises foliares (às folhas das videiras), fazemos análises ao solo e fazemos análises à uva. Se houvesse algum problema, seria detectado. Fazemos análises à vinha em permanência e durante todo o ano. Se fosse uma zona tão poluída, a própria vinha iria reflectir isso e ressentir-se. Ao contrário, acho que contribuímos para limpar um solo que estava cheio de entulho e levou meses a limpar. Nessa altura sim, estava poluído".
Para a câmara de Lisboa este é um projecto importante em várias dimensões. "Numa cidade tão urbana como Lisboa, temos estes resquícios de produção local. Além disso, a vinha integra o sistema alimentar da cidade, onde estão também as hortas municipais - 400 hectares no total, 23 parques hortícolas -, diz o vereador do Ambiente, Ângelo Pereira.
A Quinta da Graça é ainda aproveitada pela Quinta Pedagógica dos Olivais, propriedade da câmara, para ao longo do ano dinamizar visitas com actividades variadas de acordo com as diversas fases da vinha.
E num ápice chega a hora do mata-bicho, um eufemismo para o banquete servido ao ar livre: peixinhos da horta, beringela frita, pãezinhos com chouriço ou com azeitonas e até azeite, tudo feito na quinta pedagógica, arroz de aves, salgadinhos variados, saladas, queijos, enchidos, presunto, frutas e bebidas diversas, incluindo o vinho Corvos de Lisboa, branco e tinto.
"Ó videira dá-me um cacho, ó cacho dá-me um baguinho". Estas foram as vindimas de 2024 abertas à população. Para o ano há mais.
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