A ópera coincide com as celebrações dos 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões (1524-1580), evidencia a sua situação de pobreza, as novas formas poéticas do autor de “Os Lusíadas”, e demonstra como a modernidade se constrói a partir da herança dos grandes mestres, como explicou o compositor, em entrevista à agência Lusa, quando do anúncio da estreia.

César Viana, que também assina o libreto, reconheceu que o facto de assumir a criação musical e a autoria do texto “facilita algumas coisas”: “Quando estou a escrever o libreto já estou a apontar para coisas musicais que quero fazer”.

O compositor disse que apesar de o texto original russo ser poético, datado de cerca de 1830, teve acesso a uma tradução para português em prosa, “o que não facilitava”.

“Resolvi partir de raiz, baseado no texto russo, com muita liberdade para fazer um libreto que ia já ao encontro dos meus objetivos expressivos e musicais. [Portanto], o ter escrito o libreto pode ajudar”.

São também usados textos poéticos de Camões com caráter autobiográfico, que se conjugam com situações narradas pelo texto original.

Vassili Jukovski (1783-1852) foi um expoente do Romantismo russo. César Viana disse que a trama dramática do autor fornecia um “ambiente e um contexto para uma criação de teatro musical”.

Para o compositor o que ressalta nesta ópera “é a dialética entre o velho e o novo, e como nem sempre o presente faz justiça aos aspetos de novidade”.

A música tem como ponto de partida paradigmas composicionais e instrumentais do século XVI – a época de Camões -, inseridos num contexto actual.

“O Último Canto — Camões e o Destino” tem três protagonistas – Camões, Quevedo e o pai deste -, interpretados por um barítono, Luís Rodrigues, que desempenhará o papel de Camões, um tenor, Mário Alves, no papel de Francisco Quevedo, o pai, e uma soprano, Daniela Matos, que será o jovem poeta Vasco de Quevedo, da nova geração que sucede ao autor d’”Os Lusíadas”. Um grupo de seis cantores, que são as tágides, forma “um coro com um caráter muito solista”, disse o compositor.

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A escolha de uma soprano para um personagem masculino era habitual no tempo de Camões, recordou César Viana.

Sobre a ópera, César Viana disse que “o ponto principal é que a modernidade se constrói a partir da herança tremenda que recebemos dos grandes mestres de outrora e não com cortes radicais com o passado”.

E concluiu: “Camões é precisamente um dos exemplos maiores dessa situação”.

“O Último Canto — Camões e o Destino”, com composição e libreto de César Viana, é uma produção Musicamera, com encenação de Miguel Moreira, desenho de luz de Anabela Gaspar e figurinos de Dino Alves.

A interpretação é de Luís Rodrigues, Mário Alves e Daniela Matos, como solistas, Coro Zave-ZezereArts Vocal Ensemble e Musicamerata Ensemble, com o maestro Brian MacKay, em órgão e direção.