Poder-se-á dizer que "Os Excluídos" marca uma reunião em falta de quase 20 anos entre o realizador Alexander Payne ("Os Descendentes") e o ator Paul Giamatti ("Cinderella Man"). A primeira colaboração de ambos ("Sideways", 2004) acabou com cinco nomeações aos Óscares (apenas Payne acabaria por ganhar na categoria Melhor Argumento Adaptado) e o filme, uma dramedy fermentada a muita uva e amizade, não só conquistou a crítica como as querelas contra um determinado tipo de casta galgaram as fronteiras da 7 Arte — ainda hoje, passadas duas décadas, o icónico ataque de raiva da personagem de Giamatti ("I am not drinking any f*****g Merlot!") faz mexer com a indústria do vinho na Califórnia.

Agora, não há uma viagem por regiões vinícolas para o último hurrah! de solteiros, mas há novamente uma história de personagens (como de resto em qualquer filme de Alexander Payne). Neste caso, de três pessoas solitárias e náufragas num colégio privado em regime de internato só para rapazes na região de Nova Inglaterra, nos EUA, durante umas geladas férias escolares de inverno de 1970.

Giamatti é o protagonista e dá vida a Paul Hunham, um professor rezingão de História Antiga com um olho preguiçoso e universalmente detestado por alunos e professores que fica retido no colégio onde dá aulas. Mais concretamente, é obrigado a ficar no campus durante as férias de Natal para cuidar dos poucos alunos que não têm para onde ir — castigo e penitência por ter chumbado um aluno cujo pai "patrocinou" o ginásio da escola.

Todavia, graças a um milagre digno da época — um pai rico levou todos os alunos que não tinham para onde ir para uma pomposa instância de esqui — o grupo heterogéneo de rapazes sob os cuidados do professor Hunham é rapidamente reduzido a apenas um: Angus Tully (interpretado por Dominic Sessa na sua estreia no cinema). Angus é um jovem de 15 anos inteligente e com um futuro promissor, mas, como qualquer adolescente, está a dar o seu melhor para lidar com uma série de dinâmicas familiares complicadas.

Ainda assim, o elenco principal desta história só fica completo com a chegada de um terceiro elemento: Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), a cozinheira-chefe do colégio, cujo único filho foi morto recentemente no Vietname. De coração enlutado, a mãe opta por passar o Natal naquele que foi o último sítio que partilhou com o filho. E deixado à sua própria sorte numa escola grande e vazia, este trio improvável vai aprender e reaprender a sentir muita coisa.

Mais concretamente, o sentido de amor e família numa época muito específica, que está a levar algumas pessoas questionar se não estamos perante um novo clássico de Natal — algo que o realizador não fez de forma intencional e um ponto que gera alguma discórdia, uma vez que há quem não concorde com esta visão, pois tem "Os Excluídos" mais como um futuro clássico moderno estilo "Sideways", que se vê e revê ao longo dos anos. A verdade é que, provavelmente, é um pouco de ambos.

  • Nos créditos finais, falámos do espetáculo do Super Bowl, Mr. e Mrs. Smith (Prime Video), a terceira temporada de Sunderland Até Morrer (Netflix), The New Look (Apple TV+) e Bob Marley: One Love (estreou nos cinemas esta semana).