"O júri foi unânime ao distinguir a proposta 'Na Linha da Frente'", projeto de viagem de investigação, na área da arquitetura, dedicada ao 'bunker' nas linhas de defesa da Europa Central, como se lê no comunicado da OASRN.

Os vencedores recebem uma bolsa de seis mil euros, que permitirá a concretização do projeto.

"Na Linha da Frente" propõe um percurso pela Europa Central, em automóvel e a pé, revistando, "no desassossegado momento presente", as "estruturas mais belas e problemáticas da II Guerra Mundial", lê-se na proposta vencedora.

"Os 'bunkers' são fortificações militares defensivas, concebidas como pontos estratégicos de localização de material militar, proteção de pessoas e reserva de mantimentos. No entanto, são igualmente concebidos para possibilitar o ataque bélico. Por questões táticas, são habitualmente subterrâneas, ativando as tecnologias de construção mais resistentes e eficazes", prossegue a descrição da proposta.

Os dois arquitetos lembram ainda que o 'bunker' faz parte da terceira fase da história da evolução da arquitetura militar, caracterizada pela "construção de pequenas estruturas super fortificadas, disseminadas e invisíveis no território", por oposição à "antiga muralha e ao forte abaluartado", visíveis e identificáveis. O 'bunker', pelo contrário, "oculta-se na paisagem, fundindo-se com ela."

A decisão do júri reconhece em “Na Linha da Frente" “uma proposta consistente, com um plano de viagem extremamente bem estruturado e pormenorizado [...]. O projeto apropria-se e reformula o próprio conceito de viagem, através da forma como os candidatos pensaram a relação com o território e a especificidade na aproximação a cada um dos lugares.”

Um dos fatores que pesou na distinção da proposta, segundo o júri, "prende-se com o seu conteúdo imagético e de fascínio por estes objetos arquitetónicos, [...] inscrevendo-a numa reativação dos problemas de fronteira e de guerra que nos vêm afligindo. A proposta procura a discussão do passado destes objetos, também em Portugal, e da sua importância para a memória coletiva futura".

O resultado da investigação será apresentado em abril de 2025, quando do lançamento da 21.ª edição do Prémio Fernando Távora.

Maria Rita Pais, arquiteta, professora, investigadora e curadora, é doutorada em Arquitetura pela Universidade de Lisboa.

Luís Santiago Baptista desenvolve a prática da Arquitetura, a docência universitária, a crítica e a curadoria de exposições, além da atividade editorial. Prepara a tese "Point de Folie: As Estratégias da Desconstrução na Arquitectura Contemporânea 1978-2001", com investigação na Architectural Association de Londres e no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque.

Criado em 2005, o prémio é uma homenagem ao arquiteto Fernando Távora (1923-2005), nome de referência na chamada Escola do Porto e na arquitetura portuguesa contemporânea. Tem por objetivo "perpetuar a [sua] memória" e "o importante contributo da viagem e do contacto direto com outras realidades na formação da cultura do arquiteto enquanto profissional", como Távora a entendia, explica a OASRN.

O prémio consiste numa bolsa de viagem de investigação, selecionada por um júri que, nesta 19.ª edição, foi presidido pelo ator e encenador Ricardo Pais.

Fizeram igualmente parte do júri as arquitetas Andrea Soutinho, pela Fundação Marques da Silva, Ana Vieira, pela Casa da Arquitectura, e Susana Ventura, pela OASRN, assim como Maria José Távora, filha do mestre.

O prémio é organizado pela OASRN com a Câmara Municipal de Matosinhos, a Casa da Arquitectura e a Fundação Marques da Silva.