Paulo Branco recebeu numa cerimónia no Museu do Prado, das mãos dos ministros da Cultura de Portugal e Espanha, o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura 2022, que lhe foi atribuído em novembro do ano passado.
O produtor português, que agradeceu “aos grandes artistas” com quem tem trabalhado, dizendo que a eles deve o prémio, lamentou a “cultura de vulgaridade e a cultura de mediocridade” que considera que invadiu a Europa e que “acabou por ser praticamente maioritária” em quase todo o continente.
“Nisso, a Europa não tem tido cuidado, na sua política cultural não tem tido cuidado”, afirmou, acrescentando que a consequência é as democracias acabarem por “abrir portas a bolsonaros e trumps”.
Para Paulo Branco, que se dirigiu aos dois ministros presentes, disse que “há uma responsabilidade enorme” e são precisas mudanças.
“Que haja uma cultura de exigência e do que é essencial, uma defesa disso, para não sermos embarcados em aventuras que poderão ser absolutamente desastrosas, e que estão às nossas portas, como já se tem visto em alguns países europeus”, afirmou.
O Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura, com um valor monetário de 75.000 euros, existe desde 2006 e deveria ser atribuído a cada dois anos, mas a distinção a Paulo Branco foi a primeira desde 2018.
“Hoje merece ser destacado o contributo de Paulo Branco para a abertura da cultura portuguesa aos horizontes da Europa e do mundo. O prémio que hoje aqui entregamos constitui o justo reconhecimento do trabalho daquele a quem a Cinemateca Francesa chamou em tempos o mais europeu dos produtores europeus, com uma energia e uma força inesgotável”, disse o ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva.
O ministro português considerou que Paulo Branco se dedica há décadas “à produção e à exibição de cinema independente, construindo um património cujo significado transcende em muito as fronteiras nacionais”.
“É difícil sequer imaginar ou conceber o que seria o cinema português dos nossos dias sem o seu trabalho”, acrescentou.
Também o ministro da Cultura de Espanha, Miquel Iceta, considerou que Paulo Branco “encarna essa capacidade da arte e da cultura para criar espaços de convivência” e é “um nome fundamental para entender a cultura europeia, portuguesa, internacional das últimas décadas”.
Com o seu trabalho, Paulo Branco faz do cinema “um campo de liberdade, criação e expressão”, acrescentou.
Paulo Branco recebeu este prémio ibérico pelo “perfil independente no cinema autoral, na produção e coprodução, abrindo ao longo da sua carreira, novos percursos e olhares, construindo pontes entre a Península Ibérica e o resto do mundo”, justificou o júri, em novembro passado.
“O trabalho de Paulo Branco trouxe uma imensa riqueza no alargamento dos horizontes estéticos do cinema mundial”, sublinhou o júri.
O júri da edição de 2022 integrou a atriz Leonor Silveira, o arquiteto João Carrilho da Graça, o professor universitário Pedro Serra, o diretor do Instituto Cervantes, Luís Garcia Montero, o presidente do Real Patronato do Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Ângeles González-Sinde, e a diretora-geral de Indústrias Culturais e Propriedade Intelectual, Adriana Moscoso, que o presidiu.
Em edições anteriores foram distinguidos a fadista Mariza (2018), a escritora e tradutora Pilar del Río (2016), a escritora Lídia Jorge (2014), o cineasta Carlos Saura (2012), o arquiteto Álvaro Siza (2010), o escritor Perfecto Cuadrado (2008) e o poeta e tradutor Fernando Bento (2006).
Este prémio foi criado em 2006 para consagrar “um autor, pensador, criador ou intérprete vivo, ou ainda uma pessoa coletiva sem fins lucrativos que, por intermédio da sua ação na área das artes e cultura, tenha contribuído significativamente para o reforço dos laços entre os dois Estados e para um maior conhecimento recíproco da criação ou do pensamento”.
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