Os 150 quilómetros feitos por seis reclusos da prisão de Segovia foram o primeiro embate com o mundo exterior. Alguns deles, dentro de quatro paredes há mais de uma década, viram-se longe de muros e de mochila às costas. O destino: Santiago de Compostela.
O percurso, feito como terapia de reintegração, requer preparação física e mental. Marcos, Iván, Rafa, Adil, Bouthk Ourt e Leoncio têm entre os 28 e os 45 anos. Todos têm histórias diferentes, mas o que os une é o consumo de drogas no passado, conta o El País. Depois de passarem por um programa de desintoxicação e de superarem a síndrome de abstinência, têm a vida à espera. Pode não se assemelhar fácil — mas também é para contornar isso que o Caminho serve.
Com eles, três membros da Fundación Padre Garralda-Horizontes abiertos, uma ONG que trabalha há 30 anos com reclusos, facilitando a sua reintegração na sociedade.
Jesús Hernández lidera o grupo, sendo especialista em casos que envolvam o consumo de droga. "Esta é uma experiência única, uma forma de aprimoramento pessoal e de treino para a nova vida que aguarda estes homens, a melhor terapia que pode haver. Nesta ocasião enfrentamos uma experiência mais difícil, como a própria vida", diz.
Contudo, a burocracia para organizar esta peregrinação é alguma. Além das questões de segurança, é preciso olhar para cada uma das pessoas que se põe ao Caminho. "Devemos evitar que surjam problemas com reclusos em conflito", refere Jesús Hernández. "Mas o equilíbrio é muito positivo, existe uma relação de empatia, eles confiam em nós, respeitam-nos e sabem que estamos lá para ajudar".
No fim de contas, é preciso ser-se humano. "Quase toda a gente tem medo de estar diante da sociedade e de não lhe ser oferecida nenhuma oportunidade", explica. Mas todos estes homens "pagaram pelos seus erros e estão a lutar para seguir em frente". E é assim que o caminho (e o Caminho) se faz: caminhando.
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