Horas antes da inauguração da exposição "José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno", na passada quinta-feira, na Gulbenkian, a historiadora de arte e investigadora Mariana Pinto dos Santos apresentou aos jornalistas, o roteiro do trabalho do artista que poderá ser visto durante cerca de quatro meses, até 5 de junho. É um percurso por 400 obras do trabalho de um artista "cujos olhos mostraram o século XX". O próprio Almada Negreiros (1893-1970) admitia que os seus olhos eram grandes, "e que se tornaram uma metáfora para a condição do artista que tem de olhar para o mundo", recordou Mariana Pinto dos Santos.
A apresentação de Mariana Pinto dos Santos, comentando e explicando o que podemos ver na exposição, pode ser escutado aqui, como uma espécie de "preview", ou guardada para se ouvir durante o percurso pelas salas da Gulbenkian. A exposição, segundo a comissária, reúne 400 obras, cerca de metade da coleção da Gulbenkian ou cedidas ao museu, e as outras duzentas provenientes de instituições nacionais e estrangeiras, e de algumas coleções particulares. A retrospetiva é apresentada pela Gulbenkian 25 anos após a última grande mostra, e todos os oito núcleos temáticos reúnem obras inéditas, ou que nunca foram apresentadas fora das coleções onde se encontram.
"Os meus olhos não são meus, são os olhos do nosso século", palavras recordadas na exposição dedicada a um dos artistas mais ativos e completos do modernismo português, que "tentou fixar uma linguagem universal".
Entre as peças provenientes do estrangeiro, mais precisamente de São Paulo, no Brasil, uma pintura, nunca exibida em público, saída de Portugal nos anos 1970, que retrata o próprio Almada com uma figura feminina.
Outra peça importante na obra do artista é um vitral de grandes dimensões intitulado “Eros e Psique”, pertencente ao Museu da Assembleia da República, e que é exposta pela primeira vez fora do parlamento.
Também foi incluído o emblemático retrato de Fernando Pessoa sentado, a escrever, numa mesa de café, com a revista Orpheu, resultado de uma encomenda da Gulbenkian, criada em 1964, e o autorretrato em grupo pintado em 1925, para A Brasileira do Chiado.
Nos vários núcleos, o público poderá ver artes e temas caros a Almada, como os saltimbancos, bailarinos, cenas rurais, retratos de amigos e artistas.
"Almada era uma figura provocadora. Na rua, nos cafés, na apresentação de manifestos, e até em conferências ele era muito teatral", recordou a investigadora Mariana Pinto dos Santos sobre a personalidade do artista, "que tinha vários rostos".
Uma dessas facetas era a colaboração intensa com muitos artistas, de várias áreas, como Mário Cesariny, Eugénio de Andrade, Ernesto de Sousa, Lourdes Castro, Diogo de Macedo, Vitor Silva Tavares e Maria do Céu Guerra, que se estreou numa peça de Almada, intitulada "Deseja-se Mulher".
A exposição também apresenta uma vasta representação da sua obra gráfica, com narrativas e ilustrações infantojuvenis, bem como os estudos preparativos para a Gare Marítima de Alcântara e a Gare Marítima da Rocha do Conde Óbidos.
A par da exposição, está previsto um programa educativo e cultural que se irá alargar a outras instituições, como a Cinemateca Portuguesa, e que se estende até ao final da mostra.
Abaixo, pode escutar a apresentação integral de Mariana Pinto dos Santos, historiadora e uma das comissárias da exposição "José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno".
A exposição "José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno", que abriu ao público na sexta-feira, recebeu 4.586 visitantes em três dias.
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