A investigação, publicada na revista Science, descobriu que "a manipulação da atividade de certos neurónios no cérebro do ratinho levava estes animais a subestimar ou sobrestimar a duração de um intervalo de tempo fixo", refere um comunicado hoje divulgado pelo Centro Champalimaud.
"Os cientistas identificaram, pela primeira vez, circuitos neurais que modulam a estimação do tempo decorrido – pelo menos no cérebro do ratinho", acrescenta.
Os resultados deste trabalho, de Joe Paton, investigador principal do Learning Lab, de Sofia Soares, estudante de doutoramento, e de Bassam Atallah, pós-doutorado, dão uma resposta neurobiológica à antiga questão de perceber como o cérebro consegue produzir estimativas tão variáveis do tempo decorrido.
"O tempo voa, o tempo passa, o tempo para. Todas estas expressões mostram o quão variável pode ser a nossa perceção da passagem do tempo", refere a informação.
E este foi o ponto de partida da investigação que pretendia perceber como é que o cérebro humano constrói esta experiência tão subjetiva.
Os resultados obtidos "também poderão ajudar a explicar por que o tempo parece voar quando nos divertimos e ficar parado quando não temos nada para fazer", explica o Centro Champalimaud.
O grupo de neurocientistas estuda há vários anos as bases neurais da avaliação da passagem do tempo, no âmbito de um objetivo mais abrangente de perceber como o cérebro aprende a relacionar causas com efeitos, mesmo ao longo de grandes períodos de tempo.
Focaram-se num tipo de neurónios que libertam dopamina, um dos 'mensageiros' químicos, ou neurotransmissores, utilizados pelo cérebro, e que fazem parte de uma zona profunda, a 'substantia nigra pars compacta', que está envolvida no processamento temporal.
"Estes neurónios dopaminérgicos estão implicados em muitos dos fatores e perturbações psicológicos associados a alterações na estimativa do tempo", como motivação, mudanças sensoriais, atenção, novidade e emoções como medo ou alegria, escrevem os autores na Science.
Nos seres humanos, refere a informação, a destruição da 'substantia nigra' provoca a doença de Parkinson, que também é acompanhada de deficiências da perceção do tempo.
Quanto à possibilidade de extrapolar as conclusões do estudo para os seres humanos, segundo os autores, "é muito provável que um circuito semelhante exista no cérebro humano, mas o obstáculo que impede de tirar essa ilação é que o que agora mediram no ratinho não pode ser considerado uma perceção, porque os animais não conseguem dizer o que sentiram".
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