“Os franceses investiram muito na Saúde. Tínhamos um hospital devidamente equipado, com dentista, bloco operatório, análises clínicas”, recorda à agência Lusa o atual presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, José Carlos Mendes, acrescentando que "à conta da base" foram realizados muitos investimentos na rede viária e elétrica da ilha e até foi construída uma barragem.
Durante mais de duas décadas, os franceses mantiveram em funcionamento na ilha das Flores uma Estação de Telemedidas, conhecida como base francesa, infraestruturara militar destinada ao rastreio de mísseis balísticos, que acabaria por ser desmantelada em 1993.
Ainda hoje, a população local, entre ela antigos trabalhadores da base, “fala muito na estadia dos franceses” na ilha.
“Foi um ‘boom’ de desenvolvimento muito significativo. Chegávamos a ter mensalmente ligações diretas da França com as Flores, um avião que abastecia a base. Eram produtos que não existiam cá”, relata o autarca de Santa Cruz, lembrando que cerca de 40 portugueses, desde empregadas domésticas, jardineiros, mecânicos ou eletricistas trabalhavam para os franceses.
Na altura, José Carlos Mendes era bancário e atendia “muitos clientes franceses”.
Nas Flores chegaram a residir 300 franceses, numa ilha onde a população era pouco mais de 5.000 pessoas.
“A população francesa tinha um bom poder de compra. Em termos económicos perdeu-se muito com a saída da base”, frisa o autarca.
Dos franceses recorda serem pessoas que se relacionavam "muito no dia-a-dia" com a população local, uma comunidade "muito dinâmica" que promovia festas de gala na messe (o atual hotel) "com pompa e circunstância” ou ainda "soirées" culturais e concertos.
Rogério Medina é o atual gerente do Hotel Servi-Flor, edifício arrendado ao Ministério da Defesa instalado numa zona que ostenta ainda o nome "bairro dos franceses".
Durante 28 anos, trabalhou como empregado de bar e restaurante, na atual unidade hoteleira, onde funcionou a messe dos franceses, uma "unidade hoteleira que servia para dar apoio aos militares e famílias".
Para Rogério Medina, "a saída dos franceses foi um terramoto", considerando que, no caso da prestação de cuidados de saúde, "voltou tudo ao princípio".
“Chegaram a ser feitos partos na ilha, por médicos franceses, mas atualmente tal não é possível e até para resolver uma fratura no braço é preciso ir para o Faial", salienta.
O responsável destaca que as Flores tiveram, então, investimentos "muito mais cedo que outras ilhas", como a pista do aeroporto, que foi construída por causa da presença dos franceses.
Mas de França vinham também "muitas novidades", nomeadamente na área da gastronomia e dos produtos alimentares.
"Comecei a conhecer iogurtes aos 14 anos e só muito mais tarde é que chegaram ao comércio", conta à Lusa o empresário do ramo hoteleiro, acrescentando que "até fruta, saladas ou as aves muito utilizadas" pelos franceses nas ementas da messe eram importadas.
Passados mais de 20 anos da desativação da “base”, ainda hoje é recordada com saudade a presença dos militares e famílias francesas, assim como o desenvolvimento que a ilha conheceu através deles.
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