No dia em que se celebram os 99 anos do Teatro Nacional de São João, no Porto, a instituição apresentou, sob a forma de vídeo e numa sessão que contou com mais de uma centena de "espetadores e amigos", a programação para o centenário intitulada 'Dez ideias para (mais) dez anos de Teatro Nacional São João (TNSJ)'.
"Estas dez ideias não são uma cartilha, não são um manifesto sequer", afirmou o presidente do Conselho de Administração do TNSJ, Pedro Sobrado, salientando que depois de "sucessivas constrições", o TNSJ se ergue "não sobre uma ruína", mas sobre os "fundamentos lançados" pelos precedentes.
Numa sessão em que dez imagens retrataram algumas das linhas gerais da programação do centenário, Pedro Sobrado avançou que a direção artística e a administração "têm trabalhado em conjunto" para formar um elenco "quase residente" de oito atores, afirmando que esta é uma "estratégia viável no atual quadro orçamental".
Ao mesmo tempo, o TNSJ planeia "renovar o vínculo" à União de Teatros da Europa (UTE) e "fomentar novas relações" com países de língua oficial portuguesa, tendo já prevista uma visita a Cabo Verde, em novembro deste ano, para estudar "modalidades de colaboração".
De acordo com Pedro Sobrado, o TNSJ precisa também de "exceder o perímetro do Porto" e afirmar-se como um "instrumento relevante de uma política de descentralização cultural a norte".
Nesse âmbito, a instituição prevê para 2020 arrancar com um "plano de digressões" pelo país, sendo que a peça 'Castro' de António Ferreira, que estreia a 05 de março do próximo ano, no Teatro Aveirense, em Aveiro, será a primeira produção do centenário, passando depois por Bragança, Braga, retomando ao Porto no dia 27 de março.
Já Nuno Cardoso, que fez a sua primeira comunicação pública como Diretor Artístico do TNSJ, salientou que esta é uma programação para um teatro com "três casas e três caras", fazendo referência ao TNSJ, ao Teatro Carlos Alberto e ao Mosteiro de São Bento da Vitória.
"O conceito operativo do TNSJ já aqui estava e ainda aqui está, que é o tempo. Não é o tempo que passa. O tempo do teatro é um outro tempo. É um tempo que nos acolhe para termos tempo para pensarmos em nós enquanto humanidade", frisou.
A instituição vai também editar, no âmbito da Empilhadora, uma coleção de quatro livros de ensaio, biografia e memórias, intitulada 'Os cadernos do Centenário'. Durante o segundo semestre de 2020, o TNSJ pretende ainda realizar uma exposição sobre os 100 anos, que vai reunir documentos, materiais e objetos.
Em termos programáticos, o TNSJ destaca as três produções "próprias" que se vão estrear no próximo ano e cuja encenação é de Nuno Cardoso: 'A Morte de Danton' de Georg Buchner, 'Castro' de António Ferreira e 'A Varanda' de Jean Genet.
Quanto a "acolhimentos internacionais" o teatro vai receber 'Western Society' dos germânicos e ingleses Gob Squad, 'Mdlsx' criado por Motus e 'The Virgin Suicides' de Susan Kennedy.
"O Teatro de São João é uma casa incrivelmente espessa, afetuosa e afetiva. É muito difícil renovar aquilo que não é possível renovar", acrescentou Nuno Cardoso.
Após a apresentação das linhas gerais do programa para o centenário, os presentes fizeram 'Das Tripas, Coração' com uma visita guiada por uma trupe de 24 intérpretes às entranhas do edifício, passando pelos bastidores do teatro e por locais onde estavam a ser interpretados "estilhaços" dos 24 espetáculos produzidos pelo TNSJ como 'Ubu's' de Alfred Jarry e 'Alma' de Gil Vicente.
Comentários