“O rock está morto”, tem-se dito e escrito ao longo dos últimos anos. É, naturalmente, um exagero crítico e jornalístico, oriundo do facto de o género já não rivalizar nas tabelas de vendas com sonoridades como a do hip-hop e a música de dança eletrónica – na verdade, o rock nunca esteve tão vivo como agora, mesmo que os seus praticantes não tenham, de todo, a mesma visibilidade mediática que os grandes rappers e cantoras pop com uma gigantesca máquina industrial a trabalhar a partir e para si. De certa forma, esta foi a melhor coisa que poderia ter acontecido ao rock; longe de olhares mainstream, o género voltou às margens da sociedade, às mãos de quem o trabalha, às gargantas dos desafortunados e dos militantes antissistema. Voltou a ser, como o foi em tempos, uma música de revolução.
Uma revolução que (também) poderá brotar dos Last Internationale, dupla formada em Nova Iorque em 2008 com vontade de ser essa voz de mudança. Não se poderá dissociar a política da música feita por Delila Paz e Edgey Pires – que, como o apelido poderá indicar, tem ascendência portuguesa; ele próprio não a esconde, nem o seu amor pelo país. Dez anos de vida serviram, até agora, para lançar dois discos, “We Will Reign”, de 2014, e “Soul On Fire”, editado já este ano. E é de facto uma alma a arder, uma alma rock, que melhor define a sonoridade de ambos: guitarras barulhentas e palavras de ordem contra o estado atual de coisas. Pense-se neles como filhos dos Rage Against the Machine (com cujo baterista, Brad Wilk, já colaboraram).
De regresso a Portugal para apresentar o seu novo álbum, os Last Internationale estiveram à conversa com o SAPO24 pouco tempo após terem saído do palco principal do NOS Alive, num dia que também contou com os Alice In Chains e os Pearl Jam. De fora não ficaram tópicos como a chegada de Donald Trump ao poder nos EUA, naturalmente – nem o poderia ser de outra forma. Mas também se falou de Leonard Peltier, ativista pelos direitos dos índios norte-americanos, condenado a prisão perpétua pela morte de dois agentes do FBI, em 1977 (e o qual a banda homenageia através do seu endereço de e-mail). Ou a gloriosa canção de protesto que é “A Internacional”, tendo-lhes sido oferecida (na mesma onda de Nardwuar, jornalista/personalidade que tem por hábito oferecer prendas aos seus entrevistados) uma cópia em vinil desse mesmo tema, cantado em português pelo Coro Popular «O Horizonte É Vermelho» e que lhes foi gentilmente cedido por Carlos Moreira – que, aliás, cantou nesse mesmo coro e traduziu a letra. Ou da Brigada Victor Jara, que motivou uma questão sobre a prisão, em julho, de (alguns) dos assassinos do músico chileno. E, claro, desse símbolo nacional que são os pastéis de nata. Só não se falou do que determina «um bom espetáculo». Nem eles nos deixariam fazê-lo.
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