A Comissão Municipal para as Comemorações do Centenário do Carnaval de Torres Vedras vai ser responsável por “apresentar o programa das comemorações, o modelo organizativo do evento e os recursos, humanos, materiais e financeiros, a mobilizar”, lê-se na proposta aprovada hoje pelo executivo municipal, a que a agência Lusa teve acesso.
Dela faz parte uma comissão executiva, constituída por responsáveis e técnicos municipais e que tem como competências apresentar à câmara e executar o programa das comemorações e respetivo orçamento e coordenar grupos de trabalho, entre outras tarefas.
Está também prevista uma comissão consultiva, constituída por representantes das associações carnavalescas, das escolas e das instituições de solidariedade social, personalidades relevantes para o Carnaval e investigadores, para ajudar a comissão executiva.
Da comissão municipal, vai fazer ainda parte uma comissão de honra, para a qual vai ser endereçado convite ao Presidente da República para a presidir.
A autarquia pretende que as comemorações do centenário “deixem uma marca para o futuro”, mobilizem toda a sociedade local, desde os jovens aos mais idosos, e tenham dimensão nacional e internacional.
O programa das comemorações deverá ser conhecido até ao final deste ano.
Em março, o Carnaval de Torres Vedras foi inscrito no Património Cultural Imaterial Nacional, depois da candidatura apresentada em 2016 à Direção-Geral do Património Cultural.
São características deste Carnaval dois homens locais desempenharem os papéis de rei e rainha, a existência de uma “dinastia” dos títulos dos reis, as 'matrafonas' (homens com roupas e acessórios habitualmente usados por mulheres) e as celebrações da chegada e entronização dos reis.
O Carnaval de Torres Vedras insere-se nas tradições do Entrudo português, cujas raízes remontam às festas pagãs relacionadas com as festas de inverno e com os cultos de fertilidade e da abundância no início da primavera, incluídos pelo Cristianismo no calendário litúrgico.
As manifestações do Carnaval espontâneo em Torres Vedras, característica que persiste até hoje, remontam ao século XIX, mas foi em 1923 que uma elite local republicana e um grupo social comercial/industrial emergente iniciou os festejos organizados nas ruas.
Os primeiros reis, dois homens, e a comitiva régia, composta por ministros, embaixadores e ‘matrafonas’ surgiram em 1924.
Em 1941 e 1945, os festejos foram interrompidos com a 2ª Guerra Mundial, e em 1953, 1954 e 1956, no período do pós-guerra, mas foram revitalizados nas décadas de 60 e 70 do século passado, tendo aí aparecido as figuras dos Zés Pereiras, os carros alegóricos e o primeiro passeio trapalhão, que permaneceram até hoje.
Nas décadas de 80 e 90, o Carnaval ganhou dimensão graças à sua mediatização, tendo a organização passado para a câmara municipal e para uma comissão.
Em 1999, passou a ser erguido no centro da cidade um monumento alusivo ao Carnaval e, em 2000, a organização foi entregue à empresa municipal Promotorres.
Nos últimos anos, o evento passou a atrair meio milhão de visitantes nos cinco dias em que ocorre e gera receitas de cerca de 10 milhões de euros na economia local.
Em 2021 e 2022, não houve programa oficial devido à pandemia de covid-19, tendo sido cancelados os desfiles, mas, com o alívio das restrições, as ruas já foram este ano invadidas por centenas de mascarados espontâneos.
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