“Se as pessoas não conseguirem viver com dignidade desta arte não vão nela trabalhar e ela morrerá. Aquilo que temos que fazer é acrescentar-lhe valor e tudo temos feito para que isso seja possível”, salientou Rui Santos.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) inscreveu a 29 de novembro de 2016 o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente.
O autarca referiu que, ao longo destes quatro anos, o município tem “divulgado um pouco por todo o mundo” a olaria, acreditando que, assim, contribui para a valorização do barro e produtos ligados e para que a “arte possa a vir a ser rentável”.
“Promover, divulgar, trazer outra gente com interesse para esta área porque só assim é que esta arte pode sobreviver”, sustentou.
Um dos principais problemas apontados é o envelhecimento dos já poucos oleiros que ainda há em Bisalhães.
Este é considerado também um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.
A vereadora do pelouro da Cultura, Eugénia Almeida, apontou dificuldades no que diz respeito à “transmissão da arte para as futuras gerações” e a “falta de interessados” em ações de formação.
O plano de salvaguarda idealizado pelo município vai desde a formação de oleiros, a certificação do processo até ao incentivo do surgimento de novas utilizações e designs para este material.
“Vemos com bons olhos que outras gerações, jovens, se vão interessando de forma direta ou indireta pela arte, vão fazendo novas peças e um bom exemplo é o design da peça que foi atribuída no Campeonato do Mundo de Carros de Turismo, uma peça inovadora que resultou de um concurso de ideias”, afirmou Rui Santos.
Em novembro de 2019 foi aprovada a candidatura “Louça preta de Bisalhães – valorização e inovação turística” que foi submetida ao programa Valorizar do Turismo de Portugal, no valor de 200 mil euros e financiada a 85%.
Eugénia Almeida referiu que a execução das ações previstas foi afetada pela pandemia de covid-19 e explicou que foi necessário reformular iniciativas que, por exemplo, implicavam ações diretas com crianças e idosos.
A vereadora espera que, em 2021, seja possível concretizar iniciativas previstas como a colocação da sinalética em Bisalhães e Vila Real, de ‘mupis’ informativos e o desenvolvimento do jogo lúdico-pedagógico “Caminho para o oásis de Bisalhães”, que passou de presencial para virtual.
“Cumpriremos rigorosamente com aquilo que nos comprometemos com a UNESCO”, afirmou a responsável, que referiu que o município está a ultimar o relatório que tem que remeter à organização mundial até ao dia 15 de dezembro.
Eugénia Almeida fez ainda questão de esclarecer que a câmara não recebeu “qualquer euro” da UNESCO e que todas as iniciativas que já foram concretizadas no âmbito do plano de salvaguarda foram “à custa exclusiva da câmara”.
E elencou ações como a melhoria das acessibilidades a Bisalhães, através de um investimento de 498 mil euros na freguesia de Mondrões, reabilitação dos pontos de venda de barro, atribuídos gratuitamente aos oleiros, atelier de pequenos oleiros, realizado mensalmente, e foi ainda instalada uma escultura representativa de uma bilha de rosca, numa rotunda da cidade.
O presidente da câmara ofereceu uma peça de Bisalhães ao papa Francisco, durante uma audiência no Vaticano, bem como a cantores e artistas que atuaram na cidade, foram realizadas exposições, feitas presenças em feiras e divulgação em mais de 40 programas televisivos e foi atribuída a medalha de ouro da cidade aos oleiros que “preservaram a arte”.
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