Marina Tabassum, 54 anos, é oriunda do Bangladesh e estará em Lisboa para receber o prémio — uma obra de arte do artista Carlos Nogueira –, no dia 30 de setembro. Nesta cerimónia serão anunciados os resultados dos Prémios Début e do Concurso Universidades.

O comunicado cita uma entrevista da arquiteta à revista de arquitetura e design, Dezeen, à qual afirmou: “Há uma grande responsabilidade social inerente à prática de arquitetura, especialmente no Bangladesh, onde podemos pôr o nosso conhecimento e as nossas competências ao dispor das pessoas para ajudar a melhorar a sua vida e o seu ambiente”.

No sul da Ásia, o Bangladesh tem sido afetado por diferentes desastres ambientais, resultado da sua vulnerabilidade aos efeitos das alterações climáticas.

País densamente povoado, com 164,7 milhões de habitantes, segundo dados do Banco Mundial, apresenta um Produto Interno Bruto per capita, em junho deste ano, de 2.723 dólares norte-americanos, segundo o ‘site’ da CEIC, do grupo ISI Emerging Markets.

Com o seu ateliê no país, Marina Tabassum desenvolve “projetos de arquitetura sustentável baseados num conhecimento profundo das adversas condições locais, de materiais profundamente enraizados na história e de soluções arquitetónicas rudimentares, mas profundamente contemporâneas, que se adaptam às baixas condições de vida dos habitantes do país”, lê-se no comunicado.

A sua obra inclui habitação coletiva e planos diretores municipais. Entre outros, destaca-se a premiada Mesquita de Bait Ur Rouf, em Daca, construída ao longo de doze anos com um orçamento reduzido, e “que questiona a tipologia típica do local de culto, incorporando outras funcionalidades (sala de reuniões, escola e parque infantil), para conseguir responder a mais necessidades de uma comunidade da periferia de Dhaka”. Para a sua construção, Marina Tabassum privilegiou “a utilização de materiais acessíveis como o tijolo de barro”.

O júri internacional responsável pela escolha desta edição da Trienal destacou “o trabalho singular desenvolvido por Marina Tabassum a partir do Bangladesh [que] toca os fundamentos elementares do espírito da arquitetura sem perder de vista as suas responsabilidades e potenciais impactos”.

“Os seus projetos conciliam uma posição ética firme e clara com um desenho delicado e sofisticado, obstinadamente inovador mesmo perante restrições orçamentais e recursos limitados. Motivada por cada contexto cultural e geográfico específico, a prática desta arquiteta responde aos problemas contemporâneos mais prementes sempre com uma cuidadosa consideração pelas comunidades locais, a sua história e ambiente”.

O júri referiu “o arrojado passo em frente dado por Marina Tabassum na transformação da arquitetura, de um modelo de encomenda-passiva para um papel propositivo e ativo, continua a mostrar-nos como os profissionais desta disciplina podem enfrentar a crise climática e contribuir para o desenvolvimento social de forma criativa, atenta e inspiradora”.

“A arquitetura só serve um por centro da população, aqueles que têm dinheiro para me contratarem, para que eu faça um projeto. Portanto estamos a descartar 99% da população que não tem possibilidades financeiras para contratar um arquiteto”, sublinhou Marina Tabassum, em entrevista à agência Lusa, em março de 2018, quando participou nas Conferências da Garagem do Centro Cultural de Belém.

A arquitetura nos nossos dias “tem de ser mais responsável do que tem sido até aqui, sobretudo no país de onde sou natural, o Bangladesh, já que temos muitas pessoas a quem os arquitetos não servem”, disse então à agência Lusa.

É necessário que os arquitetos sejam mais acessíveis a toda a população, frisou a arquiteta, que lançava então o projeto de casas de 2.000 dólares, para construir na capital do Bangladesh.

“Casas construídas para pessoas com parcos recursos financeiros, com verbas reunidas em comunidade”, na zona sul de Daca, local para onde o ateliê da arquiteta — MTA, Marina Tabassum Architects – está também a projetar um ‘resort’ de luxo, como então contou à Lusa.

Os arquitetos “têm de estar atentos aos problemas sociais e têm de constribuir para os solucionar”, sublinhou.

“Além disso, as casas serão pagas pelos seus proprietários. Após construídas, os proprietários têm cinco anos para devolver ao grupo de poupança o montante despendido na construção. Para que assim o grupo possa aplicar essa verba na construção de outra habitação”, explicou a arquiteta à Lusa.

“Se melhorarmos a autoconfiança desta faixa da população, acabam por ganhar outras perspetivas de vida”. “Vão querer ter um emprego melhor, vão querer que as filhas estudem e não que se casem aos 13 e 14 anos”, destacou a arquiteta.

A lista dos dez finalistas do Prémio da Trienal de Lisboa era constituída pelo Atelier Tiago Antero (ATA), de Portugal; Atelier Tropical – Valerie Mavoungou, da República Democrática do Congo; Ben-Avid, da Argentina; Messina/rivas architecture office, do Brasil; Nana Zaalishvili, da Geórgia; Rohan Chavan, da Índia; Savinova Valeria, da Federação Russa; Spatial Anatomy, de Singapura; Vão, do Brasil e Vertebral, do México.

“Uma dezena de finalistas que prova não só o que a arquitetura pode fazer, mas, mais relevante, o que deve fazer no presente ao serviço do nosso futuro”, sublinhou o júri.

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