“Não vamos debater, temos de combater. Com quem vamos debater? Com os agressores? Não, o que precisamos de fazer é mudar a sociedade para que homens e mulheres, ou homens e homens ou mulheres e mulheres possam ter livremente relações com o desejo e consentimento – fundamentalmente com desejo, porque o consentimento pode estar viciado”, disse à Lusa, por telefone, a ativista, da organização Tertulia Feminista Las Comadres, em Gijon.

No caso judicial que está a ser investigador, a ativista, que foi uma das promotoras de uma manifestação na segunda-feira, admite que não sabe “quanto há de verdade ou de mentira”.

“Interessa-me que se, em determinado momento, disseram que não queriam mais, foram agredidas”, apontou.

Begoña Piñero Hevia apontou que o caso está sob investigação, mas, como mulher feminista, disse saber que “é difícil para as mulheres denunciarem um acontecimento como este”.

Espanha “é uma parte da Europa, tal como Portugal. Somos do primeiro mundo, onde as mulheres têm uma forma de vida, mas as agressões sexuais existem aqui e em todo o lado, e se a sociedade não está preparada, terá de se preparar”, afirmou.

Begoña Piñero Hevia diz que acredita que “quem não está preparado para enfrentar as agressões machistas são os próprios homens”, mas alertou que “não se podem colocar todos no mesmo saco”.

“O que nós queremos é que não haja agressões machistas, sexistas ou crimes por pelo machismo, e um homem que não as tenha feito não deve sentir-se afetado”, acrescentou.

Para a ativista espanhola, é necessária “educação, educação e educação” para combater as agressões sexuais e que os testemunhos das alegadas vítimas não devem ser desvalorizados.

Begoña Piñero Hevia considerou que se deve cumprir a presunção de inocência, mas que este tipo de agressões deve ser tratado como “outros terrorismos”.

Na opinião da responsável da organização, a sociedade não se deve “solidarizar tanto com quem comete a ação” e “não acreditar nas raparigas em nome da presunção da inocência”.

“Eu também sou a favor da presunção da inocência”, sublinhou.

“Deixam completamente ao abandono e à margem as raparigas que são vítimas que o denunciaram, como se nós, mulheres, estivéssemos a mentir. Hoje foram para o hotel e de repente disseram: bem, agora vamos embora e apresentamos uma queixa. Isto não nos leva a lado nenhum”, reiterou.

Por outro lado, refere que isso só as coloca “numa roda dolorosa” que carrega, por vezes “muito custo pessoal”.

A Tertulia Feminista Les Comadres trabalha há “muitos anos” para que “a igualdade entre homens e mulheres seja visível em todas as áreas da sociedade, para que as mulheres que são abusadas e violadas apareçam”.

“Tentamos tornar as leis tão justas quanto possível e que a palavra de uma mulher valha, pelo menos, o mesmo que a palavra de um homem”, concluiu.

Duas jovens mulheres, uma delas de Gijón e uma outra da cidade de Bergara, apresentaram queixa na polícia no sábado, alegando terem sido agredidas sexualmente pelos portugueses nessa madrugada.

Os quatro portugueses foram detidos formalmente após o tribunal de instrução criminal de Gijón ter deliberado no domingo prolongar a detenção enquanto se aguardava a disponibilização de toda a documentação relativa ao caso de abuso sexual, nomeadamente relatórios clínicos e indicação das lesões sofridas.

Os portugueses, todos com menos de 30 anos de idade, defenderam a sua inocência no domingo perante o magistrado, negaram os atos criminosos de que são acusados e asseguraram que as relações sexuais com as duas jovens mulheres foram consentidas.

As duas mulheres denunciaram a agressão sexual na esquadra policial às 06:30 de sábado, explicando que tinham conhecido um homem num bar e que viajaram com ele para a pensão onde este estava hospedado, para um encontro sexual.

Segundo o relato das vítimas, no caminho para a pensão juntou-se um outro homem e, ao chegarem à sala, encontraram dois outros portugueses que as obrigaram a manter relações sexuais com todos eles.