“Eu penso que foi um erro há duas semanas associar o caso triste e infeliz de um colega, que foi vítima de um processo da comissão de normas, e a necessidade de reformar o sistema, em particular do sistema de recurso em casos difíceis”, começou por afirmar numa audição com a Comissão Parlamentar de Ligação.

Pressionado hoje várias vezes para esclarecer se aceitava as conclusões da investigação sobre o deputado Owen Patterson, Boris Johnson acabo por concluir que “é claro que ele infringiu as regras, que ele desrespeitou as regras do Parlamento”.

Porém, invocou o “caso triste e infeliz de um colega” e as “circunstâncias trágicas” para tentar interceder.

No mês passado, a Comissão Parlamentar de Ética da Câmara dos Comuns recomendou que o deputado conservador Owen Paterson fosse suspenso durante 30 dias por fazer lóbi em nome de duas empresas que lhe pagavam mais de 100.000 libras (119.000 euros) por ano.

O conhecido deputado eurocético, invocando que a investigação tinha sido injusta e que teve influência no suicídio da mulher no ano passado, rejeitou as conclusões e o Governo intercedeu, propondo suspender o processo e criar um novo sistema de avaliação deste tipo de casos.

Apesar de a proposta ter passado graças à maioria absoluta do partido do Governo, a forma como foi votada levantou polémica e críticas, incluindo por deputados conservadores e da imprensa politicamente à direita.

Dias depois, o Governo acabou por fazer inversão de marcha e o deputado na origem do escândalo demitiu-se.

Perante a ameaça do Partido Trabalhista de forçar um debate sobre a questão, Boris Johnson anunciou na terça-feira uma nova proposta de mudança das regras no Parlamento, admitindo apenas segundos empregos que sejam permitidos “dentro de limites razoáveis”.

Atualmente, os deputados podem obter rendimentos externos acima do salário anual de 82.000 libras (98.000 euros) desde que o declarem e não se confunda com fazer lóbi, mas nas últimas semanas foram conhecidos múltiplos casos de conflito de interesses.

Um deles foi o do antigo Procurador-Geral, Geoffrey Cox, que ganhou 400.000 libras (477.000 euros) por ano como advogado, incluindo como consultor jurídico das lhas Virgens Britânicas, tendo inclusivamente votado remotamente no Parlamento para se deslocar àquele território ultramarino britânico.

Segundo o jornal The Guardian, cerca de 50 deputados do Partido Conservador poderão ser afetados se forem proibidos “segundos empregos” que levantem um potencial conflito de interesses.

O próprio Boris Johnson foi criticado por passar férias em casas emprestadas por amigos ricos na ilha caribenha de Mustique e em Espanha e está a ser investigado pelo organismo de ética do Parlamento sobre a origem do dinheiro que foi usado para financiar as obras do seu apartamento na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street.

Desafiado hoje pelo líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, a pedir desculpa por “dar luz verde à corrupção”, Boris Johnson tentou desviar as atenções, questionando o adversário sobre o seu trabalhado remunerado para um escritório de advocacia.

“Isso não é um pedido de desculpas. Já todos se desculparam pelo primeiro-ministro, mas ele não desculpa por si mesmo – [é] um cobarde, não um líder”, acusou o líder do principal partido da oposição.