As afirmações do cardeal podem colocar sérias implicações de segurança para o Vaticano e a Igreja Católica, uma vez que forneceu provas de que o Papa estava aparentemente disposto a pagar um resgate aos militantes islâmicos, conta o The Guardian.

Foi ainda revelada a aprovação papal anteriormente secreta de contratar uma empresa de segurança britânica para encontrar a freira e assegurar a sua liberdade.

Contudo, o pagamento do resgate não foi confirmado pelo Vaticano, para dissuadir futuros raptos, e não se sabe quanto — e se é que algum — dinheiro do Vaticano acabou nas mãos dos militantes.

Becciu, que já foi um dos principais conselheiros de Francisco como o n.º 2 na Secretaria de Estado do Vaticano, tinha retido o seu testemunho ao tribunal do Vaticano durante quase dois anos como uma questão de segredo de Estado e pontifício. Mas falou agora livremente na quinta-feira em sua própria defesa, depois de Francisco o ter libertado da exigência de confidencialidade.

O cardeal é uma das 10 pessoas acusadas no julgamento de fraude financeira do Vaticano, que teve origem no investimento de 350 milhões de euros da Santa Sé numa propriedade londrina e se expandiu para cobrir outros alegados crimes. Os procuradores acusaram os arguidos de uma série de crimes ao alegadamente fugirem à Santa Sé relativamente a milhões de euros em honorários, comissões e maus investimentos.

Becciu, o único cardeal em julgamento, é acusado de desvio de fundos, abuso de poder e adulteração de testemunhas — mas nega as acusações.

Na quinta-feira, o seu testemunho cobriu as acusações relativas à sua relação com Cecilia Marogna, uma italiana auto-intitulada especialista em inteligência, que também está a ser julgada sob a acusação de desvio de fundos.

Becciu disse que pediu ajuda a Marogna após o rapto da freira colombiana, Gloria Cecilia Narváez, no Mali, em fevereiro de 2017. A freira tinha sido levada pela Al-Qaeda no Magrebe Islâmico. Durante o seu cativeiro, o grupo mostrou periodicamente Narváez em vídeo, a pedir a ajuda do Vaticano.

Segundo o cardeal, o Vaticano queria permanecer externo a qualquer operação e Marogna tornou-se a intermediária fundamental e a única a receber pagamentos periódicos da Secretaria de Estado do Vaticano para a operação.

Becciu disse ter informado Francisco sobre o valor necessário para o resgate, que poderia totalizar "cerca de 1 milhão de euros, parte para pagar a criação de uma rede de contactos e parte para a libertação efetiva da freira".

"Salientei que não devíamos ter ido além desse valor. Ele aprovou. Devo dizer que cada passo desta operação foi acordado com o Santo Padre", garantiu o cardeal.

Narváez foi libertada em outubro de 2021, após mais de quatro anos em cativeiro. Pouco tempo depois, conheceu o Papa Francisco no Vaticano.

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