O estudo do CHULN, publicado hoje na Acta Médica Portuguesa, revista científica da Ordem do Médicos, pretendeu descrever a abordagem assistencial e evolução clínica das crianças e adolescentes (0-18 anos) diagnosticados com infeção por SARS-CoV-2 e seguidos no Departamento de Pediatria do CHULN entre 11 de março e 18 de junho de 2020.

“Das 103 crianças e adolescentes diagnosticados com infeção por SARS-CoV-2, 10 (10%) apresentaram critérios de internamento, dos quais três por questões sociais”, adianta o estudo, segundo o qual a mediana da duração de internamento foi de 6,5 dias.

Uma das crianças com síndrome inflamatória multissistémica pediátrica necessitou de internamento em cuidados intensivos.

Segundo o estudo, 83% das 103 crianças tiveram contacto prévio identificado com doente infetado, 43% apresentaram febre e 42% sintomas respiratórios.

Em 10% havia fatores de risco e 21% tinham idade inferior a 1 ano, refere a investigação, adiantando que foi efetuada uma avaliação laboratorial em 9% e radiografia torácica em 7%.

“Nenhum recebeu suporte ventilatório, terapêutica antiviral ou realizou tomografia computorizadaTorácica”, refere o estudo.

Foi acompanhada a evolução do estado de 101 crianças e todas evoluíram bem, persistindo tosse ligeira apenas numa. Houve 8% das crianças que foram reobservadas no serviço de urgência, mas apenas uma foi internada.

Apesar do Departamento de Pediatria prestar cuidados a crianças consideradas de maior risco de complicações, nomeadamente com doença pulmonar crónica, endocrinológica, metabólica ou imunodeficiências primárias e secundárias, apenas se verificaram sete casos de covid-19 em doentes crónicos.

Destes doentes, nenhum teve necessidade de internamento e um doente com transplante renal apresentou um agravamento transitório da função renal, sem outras complicações.

“A aparente pouca repercussão da pandemia nestas crianças de risco poderá ser devida a um maior cumprimento de regras de evicção social por parte dos cuidadores destas crianças, principalmente pelo período do estudo ser coincidente com a declaração de estado de emergência em Portugal e com o fecho das escolas”, concluem os autores do estudo.

Advertem, contudo, que, “com o retomar da atividade escolar e nos meses mais frios do ano, altura em que existe uma maior circulação de outros vírus e risco consequente de coinfeções, a realidade poderá ser outra”.

No início da pandemia, teorizou-se que a vacina BCG pudesse ter um efeito protetor relativamente à covid-19, mas “não se encontrou até à data evidência para tal, não estando atualmente recomendada a vacinação BCG na prevenção” da doença.

A maioria dos doentes (76%) envolvidos no estudo tinha sido vacinada.

O estudo conclui que “esta série de 103 casos é apenas descritiva e tem o objetivo de contribuir para uma melhor compreensão desta nova doença na população pediátrica”.

“Implementámos uma estratégia baseada em critérios seguidos para quadros clínicos semelhantes, que motivou um baixo consumo de recursos hospitalares, de exames complementares e de terapêutica, que até agora demonstrou ser segura na abordagem das crianças com infeção suspeita ou confirmada por SARS-CoV-2”.

Foram adotados os critérios clínicos habituais quer para a realização de exames complementares de diagnóstico quer para o internamento e a alta hospitalar.