Os protestos reiniciaram-se hoje depois de um regresso à calma no princípio do fim de semana nesta cidade no norte do país, uma das cidades mais pobres do Líbano, após dias consecutivos de conflitos que deixaram uma pessoa morta e mais de 400 feridas.

No entanto, durante a noite de hoje, agentes da polícia dispararam gás lacrimogéneo para dispersar jovens manifestantes que se encontravam junto de um edifício administrativo que alberga a sede do Governo no norte e um tribunal, relata um correspondente da agência francesa.

O Exército, que também foi destacado para o local, também disparou gás lacrimogéneo, antes de dispersar as dezenas de manifestantes que se encontravam no centro da cidade.

De acordo com o secretário geral da Cruz Vermelha libanesa, George Kettané, dez feridos foram tratados no local, depois de terem sofrido dificuldades respiratórias.

Durante a tarde, centenas de manifestantes estiveram na praça Al-Nour, epicentro dos protestos, depois de apelos nas redes sociais que instaram os libaneses de todas as regiões do país a concentrarem-se em Trípoli num gesto de solidariedade.

Os protestos, iniciados em 25 de janeiro, criticavam as repercussões económicas de um confinamento obrigatório imposto até 08 de fevereiro pelas autoridades com o objetivo de conter a propagação da covid-19, doença provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Durante o dia de hoje, o Exército anunciou que deteve 17 pessoas por suspeita de envolvimento em “atos de vandalismo” ao longo da última semana, atribuindo-lhes um incêndio no município.

O Líbano está mergulhado na sua pior crise económica em décadas, com uma depreciação inédita da moeda (a libra libanesa perdeu mais de 80% do seu valor facial face ao dólar), hiperinflação, despedimentos maciços e restrições bancárias drásticas.

Segundo a ONU, mais de metade da população vive abaixo do limiar da pobreza, aumentando de 8% para 23% os que atingiram a extrema pobreza.

Em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 25% e os preços aumentaram 144%, indicam dados do Fundo Monetário internacional (FMI).

Além disso, as restrições sem precedentes a levantamentos e transferências bancárias, em vigor desde o outono de 2019, impedem o acesso livre aos depósitos em moeda estrangeira.

O plano de relançamento económico, anunciado em abril de 2020, que inclui a reestruturação da dívida, entre as mais elevadas do mundo em relação ao PIB, e do setor bancário, continua “letra morta”. As negociações com o FMI, para uma ajuda financeira, rapidamente descarrilaram.

No dia 29, o Presidente do Líbano, Michel Aoun, e o primeiro-ministro libanês em funções, Hassan Diab, condenaram a crescente violência contra o confinamento total devido à covid-19 na cidade setentrional de Tripoli, onde manifestantes incendiaram a sede do governo local.

“Os criminosos que incendiaram a sede do governo de Tripoli e que provocaram estrados na cidade e nas suas instituições oficiais […] expressaram um profundo ódio contra a própria Tripoli”, disse então Hassan Diab num comunicado.

O país, com cerca de sete milhões de habitantes, ultrapassou hoje os 300 mil casos de covid-19, entre os quais 3.082 mortes a ela associadas, segundo os dados mais recentes do Governo de Beirute.

A pandemia de covid-19 provocou mais 2.219.000 mortos, resultantes de mais de 102,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.