“[O início da produção de vacinas no continente] foi amplamente saudado como uma grande conquista para a África (…), mas não foi seguido de pedidos. Não recebemos nenhum pedido das grandes agências multilaterais”, disse o diretor para o desenvolvimento comercial estratégico da Aspen Pharmacare na África do Sul, citado pela agência Associated Press.

Stavros Nicolaou disse que a empresa não pode deixar as suas instalações de fabrico em larga escala paradas e, em vez disso, voltará a fabricar anestésicos.

Na sequência da pandemia de covid-19, a empresa mudou a sua produção e alcançou capacidade para produzir mais de 200 milhões de doses anuais da vacina Johnson & Johnson (J&J) de dose única.

No entanto, a esperada procura não se concretizou.

“A Covax encomendou 2,1 mil milhões de doses de vacinas para a covid-19, mas nem uma foi feita à Aspen ou a qualquer outro fabricante africano”, disse Nicolaou, referindo-se ao programa apoiado pelas Nações Unidas de distribuição de vacinas aos países mais pobres.

O responsável da Aspen classificou como “um pecado capital ter uma valiosa capacidade de fabrico estéril e não a utilizar”.

Nicolaou disse que a falta de encomendas “não é boa para a ambição de África de reduzir a sua dependência de vacinas importadas de 99% para 40%”.

“Se falharmos neste primeiro passo, será mau, não só para a Aspen, mas para todos os que aspirem a fazer vacinas em África”, afirmou.

Numa conferência de imprensa hoje, o responsável da Organização Mundial de Saúde (OMS) para as emergências em África, Abdou Salam Gueye, considerou tratar-se de “um fracasso”, mas afirmou que a organização irá aprender com ele.

Acrescentou que, se as encomendas aumentarem, a fábrica poderá recomeçar a produção relativamente depressa.

“É infeliz que esta fábrica não tenha recebido encomendas suficientes”, disse, recordando que África recebeu dois terços das suas vacinas via Covax e que essas vacinas foram encomendadas pela aliança para as vacinas Gavi.

Gueye lembrou que a Gavi já avisou que não pretende encomendar mais vacinas, já que 30% das doses enviadas para África ainda não foram administradas devido a problemas logísticos persistentes.

Quando foi anunciada, a produção local de vacinas contra a covid-19 na fábrica da Aspen foi aplaudida como um passo em frente nos esforços do continente para suprir as suas próprias necessidades de vacinas, mas no ano passado surgiram críticas de que a maioria das suas doses estavam a ser exportadas para a Europa, segundo o acordo com a J&J.

Enquanto 70% da população dos países ricos já está totalmente vacinada contra o novo coronavírus, apenas 17% dos 1,3 habitantes de África tem a vacinação completa, segundo estatísticas divulgadas hoje pelo Centro de Controlo de Doenças da União Africana (África CDC).