Em entrevista conduzida pelo diretor de informação da RTP, António José Teixeira, a partir da Portimão Arena, onde amanhã arranca o 23º Congresso do PS, o secretário-geral do PS foi desde logo confrontado com questões quanto à sua sucessão no partido, especialmente tendo em conta que, no congresso de 2018, deixou claro que as notícias sobre a sua sucessão eram manifestamente exageradas, brincando com o caso: “Ainda não estou a pensar meter os papéis para a reforma”.

A questão da sucessão, porém, para Costa, "não vai estar em discussão, está resolvida". "O PS não tem de viver nenhuma angústia quanto a isso, é muito rico de quadros, de várias gerações, mulheres e homens não faltarão quando essa questão se colocar. Não vale a pena discutir isso", disse, lembrando ter sido recentemente "reeleito secretário-geral do PS por uma larga maioria".

Dizendo que o que lhe é "exigível" num momento "tão decisivo" para Portugal é que esteja "200% focado naquilo que é a recuperação", do país, Costa disse que este "é um congresso muito centrado no futuro do país e na necessidade do país rearrancar", citando como o processo de vacinação "começa a dar-nos a confiança de que vamos poder viver com a pandemia controlada" e que "os primeiros sinais da nossa economia sinalizam um retoma robusta".

Além disso, o secretário-geral do PS preferiu colocar a tónica nos "desafios empolgantes" que o país enfrenta e que vão estar "no centro do debate do congresso", como a execução do PRR ou do Plano de Recuperação das Aprendizagens dos alunos, dizendo ainda que Portugal está perante "uma oportunidade histórica de transformação estrutural da sua sociedade e da sua economia".

Em recente entrevista ao jornal Expresso, António Costa afirmou que irá esclarecer o seu futuro político “com tempo” em 2023, quando terminar o seu atual mandato de secretário-geral.

Esta declaração foi encarada por alguns socialistas como geradora de indefinição sobre quem este partido vai posicionar como candidato a primeiro-ministro nas próximas eleições legislativas e numa altura em que dirigentes como Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes são apontados como seus potenciais sucessores.

Ao longo dos dois dias de congresso, a direção do PS vai pretender tirar do debate o tema da sucessão de António Costa, argumentando que a questão da liderança está resolvida para os próximos dois anos, até 2023, procurando em contraponto que os temas das intervenções sejam sobre as eleições autárquicas de 26 de setembro próximo e sobre a recuperação do país após a crise sanitária, económica e social provocada pela covid-19 desde março de 2020.

Quanto ao tema das autárquicas, Costa referiu isso mesmo, que estando a um mês dessas eleições, este congresso "vai servir de arranque". Questionado quanto aos objetivos para estas eleições, Costa disse que "um partido como o PS concorre em cada freguesia e município para ganhar.

"Em 2013 tivemos o melhor resultado de sempre, em 2017 fizeram-nos essa pergunta e tivemos um resultado ainda melhor que o de 2013", frisou, lembrando que "não é possível em cada eleição bater recordes, é muito difícil, é como pedir a uma equipa de futebol depois de ganhar 2-0 para ganhar por 3-0, depois 4-0, ou ganha-se ou perde-se".

"O nosso objetivo é muito claro, é manter a maioria dos municípios", sublinhou, defendendo que o PS "é o único que tem uma presença nacional nas autarquias".

No 23º Congresso Nacional do PS, António Costa fará dois discursos de fundo: O primeiro, no sábado, ao fim da manhã, que se espera mais centrado nos desafios do seu partido; o segundo, no domingo, na sessão de encerramento, este mais relacionado com os problemas do país e com as suas funções de primeiro-ministro.

No final de 2019, o congresso do PS foi marcado para maio de 2020 em Portimão. Porém, foi sucessivamente adiado por causa da pandemia da covid-19.

No início deste ano, o congresso foi novamente marcado para 10 e 11 de julho, com um modelo de participação misto (presencial e por videoconferência) e em 14 locais distintos do país para garantir regras de segurança sanitárias.

Mas o aumento do número de casos de covid-19 em todo o país em junho levou a direção do PS a adiá-lo para o fim de agosto, com o mesmo modelo misto e também espalhado por 14 diferentes pontos do país.

Já no início de agosto, no entanto, invocando progressos no processo de vacinação contra a covid-19, o PS optou por remarcar este congresso para Portimão, a um mês da realização das eleições autárquicas – um ato eleitoral para o qual António Costa traçou como objetivo manter o seu partido como detentor do maior número de câmaras e de freguesias.

De acordo com vários dirigentes socialistas contactados pela agência Lusa, o Congresso do PS deverá funcionar por isso como uma espécie de arranque para esta campanha eleitoral.