“Era uma pessoa normal comum, e deixei de o ser. A minha vida foi-me retirada”, desabafou o homem, que falava no Tribunal de Aveiro, no início do julgamento do alegado autor das agressões.

A vítima, um mecânico de bicicletas que praticava tiro desportivo, apresentou-se em tribunal com dificuldades de locomoção e sem ter qualquer memória sobre os factos ocorridos na noite de 19 de novembro de 2021.

“Foi um apagão total”, disse a vítima, que atualmente ainda se encontra a fazer fisioterapia.

No início da sessão, o arguido, que responde pelos crimes de homicídio qualificado na forma tentada e detenção de arma proibida, explicou que, após uma troca de palavras relacionada com a pesca, a vítima puxou de uma pistola e ameaçou-o dizendo: “como tu já limpei uns quantos. Dou-te já um tiro”.

Nessa altura, um dos seus amigos ter-se-á posicionado atrás da vítima e feito um “mata-leão”, tendo aquele aproveitado essa situação para lhe retirar a arma das mãos.

“Com a minha mão, afasto a mão que tinha a arma para o lado e dou-lhe um soco na cara. Consigo tirar a arma e eles caem no chão”, afirmou.

O arguido, que se encontra em prisão preventiva, admitiu ainda ter disparado a pistola, sem saber qual o rumo tomado pela bala, pensando que se tratava de uma arma de ‘airsoft’.

“Após o disparo fiquei completamente em pânico, porque me apercebi que era uma arma verdadeira", afirmou.

De seguida, o arguido abandonou o local e dirigiu-se para casa, vindo a entregar-se pouco depois na Polícia Judiciária (PJ).

Na altura da detenção, a PJ referiu que a agressão surgiu num “contexto conflituoso de contornos completamente fúteis, fruto da tensão gerada entre ambos e um grupo de jovens que se encontrava no exterior, na sequência de vários impropérios e comentários jocosos que começaram a trocar entre eles, aparentemente sem qualquer razão concreta”.

De acordo com os investigadores, o suspeito agrediu a vítima com "um objeto de natureza contundente, ou atuando como tal, ainda não especificamente determinado".

Quando a vítima se encontrava prostrada no solo, o agressor ainda terá efetuado um disparo de pistola, que não a atingiu por circunstância meramente fortuita, tendo esta Polícia recuperado a arma de fogo posteriormente.