"Devo esperar até ao último minuto". Foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa respondeu esta tarde aos jornalistas quando questionado sobre as negociações que o Governo tem mantido à esquerda de maneira a que consiga viabilizar o Orçamento do Estado para 2022. A razão para minuciosa espera? De acordo com o Chefe de Estado: "Poupava muitos custos, poupava muitas preocupações".

E que preocupações são essas? Tendem que ver com a falta de entendimento entre o executivo e os partidos que o escudaram nos últimos orçamentos: BE e PCP. No caso dos primeiros, o que leva o Presidente a esperar até à última é o facto de a líder bloquista ter reunido esta manhã com António Costa e assinalar que devido à falta de avanços o voto continua a ser "contra".

Mais concretamente, o BE fez hoje saber que "o Governo não realizou qualquer nova aproximação às nove propostas" do partido e que, a manter-se este quadro, a Comissão Política proporá à Mesa Nacional "a orientação de voto contra" o Orçamento do Estado. Portanto, a sua intenção de estar ao lado de Costa parece condenada — se nada mudar. Se nada mudar porque o BE deixou ciente que o partido estava disposto a negociar até à última hora. Costa tem apenas de mostrar boa-fé para isso.

Mas o que se pode deduzir de todo este impasse? De toda a incerteza? O primeiro-ministro conseguiu sempre nos últimos anos fazer dançar ao sabor das intenções, de colocar a música a tocar de acordo com os seus intentos, com mais ou menos celeuma. O que leva a à questão: quer este impasse dizer que o modelo da geringonça está esgotado? Estarão os partidos cansados do modelo? Estarão os portugueses? Várias opiniões no universo político acreditam que sim. Alguns "politólogos" assim o afirmam há semanas.

Porém, há quem consiga encontrar no modelo iniciado pelo primeiro-ministro em 2015 a solução para continuar, de que nada está esgotado e que há espaço para retomar e prosseguir o caminho desde então traçado. Quem? O próprio líder do Governo.

"A minha avaliação pessoal é que a fórmula que propus há seis anos não está esgotada. Mas isso não depende só de nós", declarou António Costa na abertura da reunião da Comissão Política Nacional do PS, que se realiza este fim de semana.

Só que tudo isto não significa que o secretário-geral do PS não esteja a preparar um Plano B, caso Marcelo Rebelo de Sousa leve a bom porto aquilo que ameaçou fazer (se o Orçamento não for aprovado, dissolve o parlamento e provoca eleições legislativas antecipadas). Isto sabe-se porque o primeiro-ministro foi peremptório perante os militantes socialistas: não há que ter medo das eleições. Não as quer, não as deseja, mas não tem medo de avançar se for caso disso.

"Não desejamos eleições, mas não tememos eleições. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, mas não pode ser a qualquer preço", frisou António Costa.

Tudo pode acontecer e as opiniões dividem-se. Uns dizem que é tudo bluff da esquerda; outros dizem que depois da intervenção de Costa já não será bem assim. Ou seja, por agora, certo parece apenas o cenário de que para os portugueses saberem se o Orçamento é ou não aprovado e para saberem o desfecho das negociações ou até se há ou não eleições antecipadas, terão de fazer como o Presidente: esperar.

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