São várias as fontes que, sob anonimato, disseram ao The Washington Post que as buscas conduzidas pelo FBI à mansão de Mar-a-Lago na segunda-feira foram motivadas pela suspeita de que o ex-presidente dos EUA tinha na sua posse documentos relacionados com armas nucleares, não sabendo se estas fazem parte do arsenal norte-americano ou de outro país.

O procurador-geral de Justiça dos Estados Unidos, Merrick Garland, disse esta quinta-feira que "aprovou pessoalmente" as buscas na mansão de Donald Trump e condenou os "ataques infundados" contra o FBI após esta ação sem precedentes contra um ex-presidente norte-americano.

Garland, que chefia o Departamento de Justiça, não explicou o motivo da operação, mas enfatizou que existe um "caso provável" e que pediu a um tribunal que tornasse públicos os documentos do caso, dado o seu "claro e poderoso interesse público".

"Aprovei pessoalmente a decisão de pedir uma ordem de busca e apreensão neste caso", declarou aos jornalistas. "O Departamento [de Justiça] não toma uma decisão assim de ânimo leve", acrescentou. Trump reagiu a estas afirmações, dizendo não se opor à revelação destes documentos, antes "encorajando a sua publicação imediata".

As buscas realizadas pelo FBI esta semana na residência de Trump em Mar-a-Lago, Flórida, provocaram uma tempestade política em um país já bastante dividido e acontecem no momento em que Trump cogita uma nova candidatura à Casa Branca.

Trump também condenou a operação do FBI afirmando que a mesma foi politicamente motivada e representa o "uso" do Departamento de Justiça "como arma". "Nada assim alguma vez ocorreu a um presidente dos Estados Unidos", declarou.

Nomes de peso do Partido Republicano ofereceram apoio ao ex-presidente, que não estava na mansão quando ocorreu a operação. O ex-vice-presidente de Trump, Mike Pence, um possível adversário em 2024, expressou a sua "profunda preocupação" e considerou que a operação pareceu motivada por "partidarismo".

Garland, por sua vez, criticou os "ataques infundados ao profissionalismo dos agentes e promotores do FBI e do Departamento de Justiça", respetivamente.

Desde que deixou o cargo, Trump manteve grande influência sobre o Partido Republicano e continua a dizer, sem apresentar provas, que venceu as eleições presidenciais de 2020. A sua oposição à ação do FBI motivou ameaças de morte a agentes federais por parte de seguidores seus associados à extrema-direita.

A polícia americana enfrentou, nesta quinta-feira, um homem armado que tentou entrar nos escritórios do FBI em Cincinnati, no norte do país, mas até agora não há indicação de que os dois eventos estejam relacionados.

"Após a ativação do alarme e a resposta de agentes especiais armados do FBI, o indivíduo fugiu", disse o FBI em comunicado. A imprensa local garante que o homem atirou com uma pistola de pregos e empunhava uma espingarda tipo AR-15 antes de fugir num carro. A polícia perseguiu o carro, informou um porta-voz da polícia. "Assim que o veículo parou, houve um tiroteio entre os agentes e o suspeito", disse.

Apenas dois dias depois da operação policial, Trump, de 76 anos, foi interrogado durante quatro horas no escritório da procuradora-geral do estado de Nova Iorque, Letitia James, que investiga as práticas comerciais das Organizações Trump.

A imprensa norte-americana afirma que Trump invocou o seu direito a não responder a perguntas mais de 400 vezes durante o depoimento sobre supostas fraudes nos negócios imobiliários da sua família.

A procuradora-geral de Nova Iorque suspeita que a Organização Trump superestimou o valor de propriedades imobiliárias ao solicitar empréstimos bancários, enquanto subestimava os valores desses mesmos imóveis às autoridades tributárias para pagar menos impostos.

Trump disse que "não tinha outra opção" além de invocar a Quinta Emenda, que permite permanecer em silêncio durante um interrogatório.

"Recusei-me a responder às perguntas em virtude dos direitos e prerrogativas outorgadas a todos os cidadãos pela Constituição dos Estados Unidos", informou o ex-presidente num comunicado publicado na sua rede social, Truth Social.

Além disso, o ex-presidente tem outra frente aberta na Justiça pelos seus esforços para anular os resultados das eleições e pela invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, pelos seus simpatizantes.

Mais de 850 pessoas foram detidas por esse ataque ao Congresso, que começou após um discurso de Trump a seus partidários perto da Casa Branca, no qual ele mentiu ao afirmar que as eleições tinham sido "roubadas".

A Câmara dos Representantes acusou-o de ter responsabilidade pelos distúrbios no Capitólio, por considerar que Trump incitou os seus simpatizantes a realizarem uma insurreição, e aprovou o seu "impeachment" mas, posteriormente, acabou por ser absolvido pelo Senado.