“A ‘rentrée’ social pode ser muito complicada para o Governo, [pois] as mobilizações estão a organizar-se. Estamos a trabalhar com os sindicatos e vamos encontrar-nos no dia 12 de setembro para organizar uma grande manifestação em outubro sobre o poder de compra e apoiamos também as manifestações de 22 e 29 de setembro”, disse Emmanuel Fernandes em entrevista à Agência Lusa.

“Portanto, o Governo pode ser obrigado a tomar medidas que vão ao encontro da vontade popular”, adiantou.

A esquerda coloca-se assim ao lado dos vários movimentos sociais que entre setembro e outubro vão atacar as respostas do Governo ao aumento generalizado de preços e custo de vida, especialmente a energia, um item na lista das despesas dos franceses que a primeira-ministra Elisabeth Borne já reconheceu que vai aumentar nos próximos meses.

“Para nós, o objetivo não é bloquear o país, mas se for a única maneira de fazer com que o Governo compreenda que a população não aguenta mais e que precisamos de verdadeiras medidas, estaremos ao lado de todos os que se vão manifestar”, declarou.

Este é o primeiro mandato de Emmanuel Fernandes, deputado da França Insubmissa eleito pela coligação de esquerda Nova União Ecológica e Social Popular (NUPES) na região de Estrasburgo, e este franco-português relata que apesar das declarações públicas de interesse em abrir as negociações com todos os quadrantes políticos, o Governo está focado em conversar com a direita.

“Infelizmente, parece que um entendimento não é possível. O Governo não tem maioria absoluta e fizeram um grande filme no início do mandato, especialmente no discurso de Elisabeth Borne, em que dizia querer compromissos e construir algo em conjunto. No entanto, a única direção para a qual ela se vira nesses compromissos é a direita e mesmo a extrema-direita”, indicou.

A líder da sua bancada, Mathilde Panot, tem efetivamente contactos com a bancada da maioria relativa de Macron, mas para Emmanuel Fernandes parece claro que o Governo “não quer” as propostas da esquerda.

“Setembro vai ser muito difícil. A sessão extraordinária [parlamentar] em julho e agosto já nos mostrou isso porque o Governo conseguiu aprovar um pacote de leis sobre o poder de compra e, na realidade, nenhuma das medidas aprovadas permite aumentar esse poder de compra dos franceses. Nós queríamos o aumento imediato do salário mínimo e, depois, um aumento generalizado de todos os salários. Queremos também uma taxa sobre os lucros excessivos”, explicou, indicando que este pacote de medidas foi aprovado com recurso aos votos da direita e da extrema-direita.

Já na próxima semana, Emmanuel Macron vai lançar o Conselho Nacional da Refundação, um novo órgão para levar a cabo uma reflexão sobre o futuro de sectores como a educação ou a saúde. No entanto, as recusas de participação têm-se precipitado, incluindo do presidente do Senado, Gérard Larcher, e das forças de esquerda, incluindo a França Insubmissa.

“Emmanuel Macron pensa ganhar tempo com esta tirada de marketing político, o que mostra que ele não deseja trabalhar realmente com a Assembleia Nacional na sua diversidade, porque este Conselho Nacional da Refundação é um género de assembleia paralela às instituições legítimas que são a Assembleia Nacional e o Senado, assim como o Conselho Económico, Social e do Ambiente”, indicou Emmanuel Fernandes.

Com assento na Comissão de Defesa, uma das comissões mais importantes da Assembleia Nacional, o deputado franco-português, reforça que um dos objetivos da França Insubmissa é que a França se retire do comando-geral da NATO.

“Claro que neste contexto internacional de conflito, queremos que a França seja independente e que saia do comando-geral da NATO, tal como era o caso até Nicolas Sarkozy se ter tornado Presidente. É sempre esta linha que defendo. O interesse da França é o fim rápido do conflito na Ucrânia e desta invasão ignóbil por parte da Rússia”, concluiu o deputado francês.