“Se os países de rendimento médico [onde vive cerca de 70% da população mundial] estiverem bem integrados no plano, poderemos ver uma transformação estrutural da economia global, combater as alterações climáticas e acelerar o progresso para os objetivos de desenvolvimento sustentável”, disse António Guterres, na abertura da primeira reunião de alto nível da Assembleia Geral, que se centra nestes países.

Mas essa “integração plena” enfrenta muitos desafios e obstáculos, alertou o secretário-geral das Nações Unidas, lembrando que estes países não são “um bloco monolítico” já que estão incluídos Estados com níveis de rendimento ‘per capita’ que variam entre 1.000 e mais de 12.000 dólares (entre 840 e mais de 10 mil euros) por ano, apresentando muitas diferenças noutros fatores, como o número de habitantes ou a principal ocupação económica.

No entanto, o secretário-geral observou que muitos destes países são apanhados na “armadilha” do rendimento médio, que implica que, quando os rendimentos aumentam, a competitividade diminuiu, uma vez que a mão-de-obra se torna mais cara.

Isto, aliado ao facto de serem incapazes de competir a nível de exportações altamente qualificadas e de valor agregado “devido à baixa produção de mão-de-obra e outras limitações institucionais e de capacidade, frequentemente resultantes de uma combinação de crescimento lento, salários estagnados ou em queda e uma economia informal em crescimento”, explicou Guterres.

Esta situação foi agravada pela crise económica, provocada pelos efeitos da pandemia de covid-19 nestes países, que acabou por afetar nomeadamente os setores do comércio e do turismo e “expôs e exacerbou as vulnerabilidades económicas, sociais e ambientais de muitos países de rendimento médio”, onde reside 62% da pobreza mundial.

Guterres sublinhou que é necessário reforçar a resiliência destes países, com um sistema comercial multilateral mais eficiente e no domínio do rendimento, através da mobilização de recursos para estas nações, juntamente com uma revisão das despesas.

Ainda assim, é imperativo criar “melhores mecanismos e maior cooperação internacional para enfrentar os níveis crescentes e insustentáveis da dívida em muitos países de rendimento médio”, defende.

No que toca aos apoios externos, acrescentou que, “embora a resposta global à crise da dívida esteja a tentar, com razão, apoiar os países de baixos rendimentos, os países de rendimentos médios não devem ser deixados para trás”.

Estes são territórios que necessitam de “melhor acesso a tecnologias, investigação e inovação e também a melhores práticas de gestão”.

Como resultado da crise, estes países sofrerão “restrições duradouras sobre a despesa pública central e sobre uma série de objetivos climáticos e de desenvolvimento nos próximos anos”, exortou o secretário-geral da ONU.

Guterres concluiu por insistir na necessidade de um novo mecanismo de dívida que “forneça um menu de opções, incluindo recompra de dívidas, cancelamentos e permutas”.