Este é um ano perdido, um ano que podia ser, ao contrário, uma oportunidade, já que o governo tem maioria absoluta, o que bastaria para fazer passar as reformas de que o país precisa. Assim, será apenas mais um ano a contribuir para um país cada vez mais envelhecido, acredita o economista João Duque.

"Quatro anos não é muito tempo para mudar aquilo que é preciso em Portugal", considera o professor de Finanças. E lembra o problema da demografia e de um SNS sobrecarregado de velhos: "Uma pessoa acima dos 65 anos gasta, em média, nove vezes mais em saúde". Mais despesa para o Serviço Nacional de Saúde. Por outro lado, há cada vez menos pessoas no ativo a contribuir para pagar as reformas daqueles que já não trabalham. E que vivem cada vez mais tempo.

Mas há mais: o Orçamento do Estado para 2022 não reflete a realidade económica de Portugal (e do mundo). João Duque não acredita numa inflação de 4%, como o governo prevê para este ano. "Pergunto se algum português acredita que os preços dos produtos que fazem parte do cabaz que serve de base para medir a inflação, da energia aos bens alimentares, se vão manter constantes até dezembro", desafia.

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Contas feitas, a perda do poder de compra, diz, é equivalente a tirar meio ordenado aos funcionários públicos, uma espécie de "Passos Coelho pequenino". Por isso, será preciso ter muito mais apoios para as pessoas com rendimentos mais baixos.

O ministro das Finanças, que nunca terá força "para dizer não ao primeiro-ministro" - "Fernando Teixeira Santos não tinha tanta proximidade com Sócrates e não foi capaz de se impor" -, poderá ser herói e carrasco: "É o único responsável por recolher receita e, na falta dela, sabe onde ir buscá-la". Na prática, "Fernando Medina pode espetar um ferrão no investimento público e, com isso, tirar louros a um rival", Pedro Nuno Santos (que já tem vindo a queixar-se disso abertamente).

O Orçamento do Estado estará em discussão na Assembleia da República no próximo mês e meio, primeiro na generalidade, depois na especialidade. E há uma medida específica que João Duque espera que não passe: "o englobamento no IRS das mais-valias feitas em mercados por pessoas do escalão superior, que em Portugal não são super-ricas ou oligarcas".