Apesar de visado nas revelações recentes revelações dos ‘Pandora Papers’, que envolvem branqueamento de dinheiro, para além de anteriores suspeitas de fraudes com fundos europeus, a formação política do primeiro-ministro cessante conseguiu manter uma vantagem confortável sobre as outras formações, em particular face à SPOLU (Juntos em checo), uma aliança eleitoral de partidos da direita tradicional, e ao acordo inédito entre o Partido Pirata e o STAN, um partido de presidentes de câmaras municipais e personalidades regionais independentes.

No decurso da campanha, o pragmatismo e o “bom-senso” do político-empresário” Andrej Babis, 67 anos, líder do liberal-conservador e populista ANO 2011 (que significa “SIM” em checo e herdeiro do movimento Ação dos cidadãos descontentes), seduziu em particular os reformados, e terá “capturado” eleitorado que votava à esquerda.

No decurso da campanha eleitoral, Babis insistiu na receita “nacional-populista” aplicada na Hungria pelo seu “amigo” Viktor Orbán, e diversos analistas não excluem que poderá aliar-se à extrema-direita e ao Partido Comunista da Boémia e Morávia (KSCM) para se manter no poder.

Analistas em política checa, incluindo a professora em Ciência Política Jana Vargovcíková sugerem que o partido de Andrej Babis, detentor de uma das maiores fortunas do país, atraiu em particular os eleitores mais idosos, que vivem sobretudo na província e com níveis de instrução mais baixos.

Em paralelo, também seduziu uma parte considerável do eleitorado tradicional da esquerda, em particular do KSCM, que se arrisca pela primeira vez a não conseguir ultrapassar a barreira mínima dos 5% para obter representação parlamentar.

Um estudo de opinião do instituto Median em 2020 concluiu que o ANO é o favorito entre os eleitores que se consideram de esquerda.

A popularidade de Babis assenta na sua intenção de se distinguir dos partidos “tradicionais” e da extrema-direita, e impor-se como um homem de negócios diferente dos “políticos profissionais”, quando toda uma geração da elite política do pós-1989 está esgotada, à esquerda e à direita.

Babis tem governado em coligação com o Partido Social-Democrata checo (CSSD, centro-esquerda), um executivo minoritário que desde 2018 tem beneficiado ao “apoio tácito” dos comunistas. Mas o cenário pode mudar após as legislativas que terminam no sábado.

Defensor da fórmula de “dirigir o Estado como uma empresa”, e perante a profunda crise dos partidos socialistas tradicionais, os analistas consideram que Babis poderá agora optar, em caso de vitória eleitoral, por uma coligação que inclua o Liberdade e Democracia Direta (SPD, extremistas de direita) e sem excluir o Partido Comunista (KSCM).

Dirigido por Tomio Okamura, um checo-japonês, o SPD promete democracia direta, revogabilidade dos deputados, políticas anti-União Europeia, anti-imigração e anti-rom (a população de etnia cigana), para além de medidas sociais. É o parceiro checo da União Nacional francesa, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen.

O KSCM é um caso distinto, herdeiro do partido com “função dirigente no Estado” antes de 1989 e que ao contrário de outros antigos partidos comunistas da região não de distanciou face ao passado, também com uma posição anti-UE e anti-NATO muito vincada.

Apesar de dividida em duas fações, uma pró-europeia e outra conservadora, e de um eleitorado idoso, tem conseguido votações em redor dos 10% mas foi sempre excluído das coligações governamentais a nível nacional.

Agora, o KSCM e o CSSD lutam por manter representação no parlamento, num desfecho que será determinante para a composição do próximo Governo checo.

A única alternativa à nova coligação pretendida por Andrej Babis também dependerá dos resultados das coligações SPOLU e Piratas/STAN, que já anunciaram estar prontos a formar um Governo conjunto.