Os restos mortais das crianças foram detetados com a ajuda de um radar de penetração no solo, no passado fim de semana, e é possível que venham a ser detetados mais corpos, porque algumas zonas da escola ainda não foram revistas, disse hoje Rosanne Casimir líder da Primeira Nação Tk’emlups te Secwépemc, num comunicado divulgado na sexta-feira.

Num anterior comunicado, Casimir já tinha dito que se trata de uma "perda impensável, que foi comentada, mas nunca documentada, na escola residencial indígena de Kamloops", uma das instituições que acolhiam crianças retiradas das famílias na região.

Um relatório da Comissão de Verdade e Reconciliação, datado de há mais de cinco anos, revelou os maus-tratos infligidos às crianças indígenas nessas instituições.

Esse relatório dizia que pelo menos 3.200 crianças morreram devido a abusos e a negligência, e menciona que havia relatos de pelo menos 51 mortes apenas na escola de Kamloops, entre 1915 e 1963, um número que agora se percebe ficar aquém da realidade.

“Isto faz ressuscitar a questão das escolas residenciais e as feridas desse legado de genocídio contra os povos indígenas”, disse Terry Teegee, chefe regional da Assembleia das Primeiras Nações da Colômbia Britânica.

O primeiro-ministro da Colúmbia Britânica, John Horgan, disse que ficou “horrorizado e com o coração partido” ao saber da descoberta, considerando-a uma tragédia de “proporções inimagináveis” que destaca a violência e as consequências do sistema escolar residencial.

A escola Kamloops funcionou entre 1890 e 1969, quando o governo federal assumiu as operações da Igreja Católica e a operou como uma escola diurna, até ao seu encerramento, em 1978.

Casimir disse acreditar que as mortes não estejam documentadas, embora um arquivista de um museu local esteja a trabalhar com o Museu Real da Colúmbia Britânica para ver se algum registo das mortes pode ser encontrado.

“Dado o tamanho da escola, com até 500 alunos matriculados e frequentando o estabelecimento ao mesmo tempo, entendemos que esta perda confirmada afeta as comunidades das Primeiras Nações em toda a Colúmbia Britânica”, explicou Casimir.

A liderança da comunidade Tk’emlups “reconhece a sua responsabilidade de cuidar dessas crianças perdidas”, acrescentou Casimir.

O acesso à tecnologia mais recente permite uma contabilidade verdadeira das crianças desaparecidas e poderá trazer um pouco de paz para as vidas perdidas, concluiu a líder indigne, no comunicado.

Numa mensagem nas redes sociais, a Autoridade de Saúde das Primeiras Nações disse que a descoberta das crianças deixou uma marca "extremamente dolorosa", que "terá um impacto significativo na comunidade Tk'emlúps e nas comunidades abrangidas por esta escola residencial”.