“Estamos aqui a falar de instrumentalização de refugiados e imigrantes por parte da Bielorrússia, o que é completamente inaceitável”, afirmou João Gomes Cravinho à margem de uma cerimónia de receção de uma força de fuzileiros portugueses que regressou hoje de uma missão da NATO na Lituânia.

Embora tenha lembrando que a questão tem sido discutida pelos ministros da Administração Interna, Gomes Cravinho lembrou que, na sexta-feira, esteve numa reunião de ministros da Defesa da União Europeia, na qual “o colega da Lituânia e vários outros — também o da Polónia que também está a sofrer a mesma pressão — explicou a situação”.

Para o ministro da Defesa, aquilo que se está a passar na fronteira da Lituânia “é completamente diferente de outras realidades”.

“Estamos a falar de instrumentalização por parte do Governo da Bielorrússia — do Presidente Lukashenko, que, aliás, continua no poder apesar de ter perdido as eleições há vários meses –, que decidiu que esta seria uma forma de pressionar a Lituânia que acolheu a vencedora das eleições”, criticou o ministro.

“Obviamente que a Lituânia tem toda a nossa solidariedade, obviamente que é inadmissível, obviamente que essa fronteira tem de ser respeitada e apoiada e, portanto, nós estamos disponíveis — nós e todos os aliados da NATO e países membros da União Europeia — para apoiar a Lituânia nesta circunstância”, garantiu.

Nos últimos meses, a Lituânia, Estado-membro da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), tem testemunhado um intenso fluxo de migrantes procedentes da Bielorrússia, a maioria deles oriundos do Iraque.

O executivo lituano considera este fluxo migratório junto da sua fronteira um ato de retaliação por parte do contestado Presidente bielorrusso face às sanções impostas pelo bloco comunitário ao regime de Minsk, nomeadamente por causa do desvio de um avião civil, em maio passado, e da detenção de um opositor que estava a bordo do aparelho.

Em agosto, o Governo da Lituânia deu ordens à guarda fronteiriça para recusar e expulsar, com recurso à força caso necessário, todos os migrantes procedentes da Bielorrússia que tentassem entrar de forma irregular no território lituano.

Em resposta, Lukashenko ordenou às agências de defesa e segurança bielorrussas que “fechem cada metro da fronteira”, de forma a não permitir que os migrantes possam voltar a entrar em solo bielorrusso.

Esta situação está a agravar as relações já tensas entre os dois países “vizinhos”, e que pioraram desde as eleições de 09 de agosto de 2020 na Bielorrússia, que reconduziram Lukashenko, no poder há quase três décadas, a um sexto mandato, mas também o ambiente sentido entre Minsk e o Ocidente.

O escrutínio foi considerado fraudulento pela oposição bielorrussa e pelo Ocidente.

A Lituânia, país com pouco menos de três milhões de habitantes, partilha uma fronteira com a Bielorrússia de quase 680 quilómetros.

Cerca de 4.090 migrantes atravessaram este ano a fronteira entre a Bielorrússia e a Lituânia, segundo dados citados pelas agências internacionais.

As autoridades da Lituânia anteveem que mais de 10 mil migrantes poderão tentar chegar ao país báltico ao longo deste ano.

O ministro da Defesa esteve hoje presente numa cerimónia para receber a força de fuzileiros da Marinha Portuguesa, composta por 145 militares, que esteve em missão na Lituânia, no contexto das medidas de tranquilização da NATO naquele território.

“É sempre um prazer muito grande receber de volta as nossas forças nacionais, neste caso fuzileiros, que estiveram vários meses numa missão da NATO, numa missão que é muito importante para os nossos aliados dos países bálticos e que leva sempre a grandes agradecimentos por parte das autoridades da Lituânia, Estónia, Letónia e também Polónia, que sentem essa nossa proximidade e manifestação de solidariedade”, afirmou numa declaração feita a seguir aos agradecimentos formais.

“Isto é muito importante porque a NATO é um só conjunto, há momentos em que precisamos também do apoio de outros aliados da NATO e demonstrar a nossa solidariedade”, referiu.

Essa “é a melhor maneira de garantir, a prazo, a nossa própria segurança e o nosso pleno empenhamento na Aliança Atlântica”, acrescentou Gomes Cravinho.